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Conheça o plano do TikTok para construir um metaverso partindo da China

A ByteDance, dona do TikTok, adquiriu a fabricante de óculos VR Pico, com planos de criar um mundo virtual que dite regras a partir do Oriente

Óculos de RV da Pico: terceiro maior fabricante de headsets VR do mundo, atrás da Facebook Oculus e DPVR (Pico/Reprodução)

Óculos de RV da Pico: terceiro maior fabricante de headsets VR do mundo, atrás da Facebook Oculus e DPVR (Pico/Reprodução)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 8 de maio de 2022 às 13h49.

Última atualização em 7 de junho de 2023 às 09h53.

Não existe um jeito certo de criar um metaverso. Hoje, nas centenas de mundos virtuais que ensaiam essa experiência de realidade paralela há, por assim dizer, um certo pioneirismo, quando não, uma grande falta de recursos. Mundos como Decentraland ou The Sandbox criam um mix de Second Life, Roblox e Minecraft, em apresentações simples, para não dizer toscas, do que poderia ser a grande avenida virtual pensada no livro Snow Crash (1992), de Neal Stephenson, do qual se tirou o conceito de metaverso.

Em outras propostas, e mais aguardadas, como a da Meta, de Mark Zuckerberg, a ideia de "novo mundo livre" é deixada de lado, e aplicações como Horizon mostram como a empresa quer a virtualidade para colocar negócios e serviços corporativos por lá, quando não, expandir sua plataforma de publicidade segmentada em um espelho da atuação no Instagram, Facebook e WhatsApp.

Nessa área, ainda que a Meta seja hoje a empresa com mais capital aplicado, investindo mais de US$ 10 bilhões em P&D, para ter, por exemplo, hardwares extremamente experimentais de realidade mista como luvas táteis para sentir objetos virtuais, esse começa a ser um mercado onde ela não disputa mais sozinha. Uma nova guerra tecnológica nasce, onde já existe até uma separação entre Ocidente e Oriente. Do lado oeste do globo com a Meta, claro, e agora, do lado leste, a gigante chinesa de tecnologia ByteDance, dona do TikTok, a maior rival das redes sociais de Mark Zuckerberg atualmente.

Para se ter uma ideia, a ByteDance, que obteve US$ 58 bilhões em receitas em 2021, está montando uma linha de hardware, conteúdo, software e plataforma metaverso muito semelhante à Meta. Embora a ByteDance ainda esteja no início, e lidando com uma repressão tecnológica na China, é a empresa de tecnologia chinesa mais ambiciosa em termos de apostas no metaverso.

Para tal, assim como o Facebook adquiriu a famosa fabricante de fones de ouvido de realidade virtual Oculus (agora renomeada Quest) em 2014 por US$ 2 bilhões, a ByteDance comprou a fabricante chinesa de fones de ouvido VR Pico, em agosto de 2021, por um preço de cerca de 9 bilhões de yuans (US$ 1,4 bilhão). Isso equivale a quase metade do total de financiamento e negócios de M&A registrados na indústria chinesa de XR (realidade estendida) em 2021, de acordo com uma empresa de pesquisa chinesa chamada Tuolu0.

Munida da nova aquisição, a ByteDance aproveitou os mais de 600 milhões de usuários do Douyin (versão chinesa do TikTok), realizou campanhas massivas e caras para catapultar as vendas do Pico, com o objetivo de recuperar o atraso e, eventualmente, superar os óculos da Meta, o Quest 2.

Assim, por meio do envolvimento de influenciadores Douyin e celebridades do entretenimento, Pico obteve 1,13 bilhão de impressões para usuários segmentados de perto “escolhidos a dedo” pelos algoritmos altamente precisos da ByteDance apenas durante o Festival da Primavera da China.

Curiosamente, Pico e Meta’s Quest são “irmãos próximos”. Fundada em 2015, a Pico foi incubada dentro da empresa chinesa Geortek Inc., fabricante do headset Quest. O fundador da Pico, Zhou Hongwei, foi anteriormente vice-presidente da Geortek, uma fabricante chinesa de equipamentos originais (OEM) que atende empresas como Apple, Huawei e Xiaomi. A Geortek agora fabrica fones de ouvido tanto para a Pico quanto para a Quest.

Um mercado subsidiado

Ao olhar para essa nova disputa na venda de dispositivos, diferente do caso dos smartphones Samsung Galaxy e iPhone, onde o preço alto também cria a demanda dos luxuosos smartphones, no caso dos headsets RV, o preço baixo e subsidiado pelas próprias empresa é o que dará aderência da tecnologia.

Mas nem somente pela via de usuários, mas também de desenvolvedores e empresas que criam aplicativos e que tornarão esses dispositivo mais interessantes. Semelhante como a participação de mercado global de 60% do iPhone da Apple tornou sua App Store o principal centro de compras de aplicativos.

Os centros comerciais que a Meta e a ByteDance criaram são a Meta Quest Store e a Pico Store. Como a loja de aplicativos da Apple, os usuários podem acessar conteúdo, aplicativos e jogos de RV aqui. A Meta Quest Store tem mais de 1.000 aplicativos, com um popular jogo de realidade virtual chamado Beat Saber arrecadando US$ 100 milhões em receita somente na Quest Store.

ByteDance está reduzindo agressivamente essa lacuna. Com a Pico Store introduziu nove novos jogos desde dezembro. Para atrair mais usuários, o Pico realizou um festival RV eSport em novembro passado, oferecendo grandes incentivos para novos usuários.

Como bem visto, dos dois lados, os mundos virtuais estão de porta abertas, a questão primordial: os colonizadores dessas terras realmente viram?

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