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Em computação, tudo que é novo vem da nuvem, diz IBM

Para a empresa, adoção de nuvem é um caminho sem volta e cresceu no Brasil mesmo durante a crise econômica

IBM: negócio de nuvem cresceu no Brasil mesmo durante a crise econômica (ullstein bild / Colaborador/Getty Images)

IBM: negócio de nuvem cresceu no Brasil mesmo durante a crise econômica (ullstein bild / Colaborador/Getty Images)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 14h38.

Última atualização em 10 de novembro de 2019 às 16h34.

Nova York – Para a IBM, gigante americana de tecnologia, a adoção de serviços de computação em nuvem permite que empresas acelerem o ritmo de inovação. Em entrevista a EXAME, concedida no escritório da companhia em Nova York, nos Estados Unidos, Guilherme Novaes, diretor da divisão de integração de nuvem híbrida da IBM Brasil, e Marcos Paraíso, diretor da área de plataforma de nuvem da IBM Brasil, afirmam que as empresas que negarem essa tendência tecnológica terão problemas em se manter competitivas e, também, em reter talentos profissionais. Segundo previsão da consultoria americana IDC, o mercado de nuvem está em expansão globalmente. O faturamento do setor de computação de nuvem pública deve crescer 22,3% ao ano de 2019 a 2023, passando de 229 bilhões de dólares para cerca de 500 milhões de dólares ao ano. Leia a entrevista com os executivos a seguir.

EXAME: Qual é a situação atual do mercado de computação em nuvem no Brasil? O setor foi afetado pela crise econômica que o país atravessa nos últimos anos?

Marcos: O ciclo de adoção parece com o que vimos no exterior. Mas há uma defasagem entre eles. O Brasil começa a adotar mais na América Latina e depois vêm os demais países da América do Sul. A crise econômica levou empresas a buscar mais nuvem para projetos inviáveis em razão da queda de investimentos. O motivador foi a falta de inovação das empresas causada por cortes de custos. O gestor quer que a empresa esteja sempre reinventando para se manter competitiva. Mesmo as que não são muito avançadas em tecnologia percebem esse valor.  São poucos os novos projetos lançados hoje que não tenham nascido na nuvem.

Guilherme: Tudo que é novo vem da nuvem, mas as empresas se preocupam com o que elas têm no data center. Todas discutem como levar aplicações mais antigas ou críticas para a nuvem. A discussão gira em torno das opções de nuvem pública, privada e híbrida. Na privada, é possível fazer testes e modernizar processos. Todo mundo usa conceitos de microsserviços, que divide a aplicação corporativa em pequenas partes, mas sempre usando padrões abertos, que sejam compatíveis com outras tecnologias de nuvem. A IBM notou isso e adquiriu, globalmente, a Red Hat por esse motivo. Uma aplicação feita cinco anos atrás pode ser grande e precisar de mudanças complexas para evoluir. Antes, ela precisava ser parada por um tempo para retomar mais tarde. Com isso, as empresas começaram a quebrar essa aplicação em pequenos pedaços para facilitar.

Que exemplos podem dar sobre essa divisão de tarefas de aplicações na nuvem para acelerar o processo de inovação nas empresas?

Marcos: Um exemplo é um saque. Isso pode ser quebrado em etapas. Há saldo? Se tem, o saque pode ser efetuado? Se sim, aí, há a terceira fase de sacar o dinheiro. Se todas as aplicações falam no mesmo idioma, tudo pode ser feito rapidamente. Para fazer outra aplicação para consulta de saldo, você pode usar a mesma tecnologia. Isso dá muita eficiência para o desenvolvimento de aplicações. E todos os micro serviços podem funcionar em diferentes ambientes, não é algo que fica limitado a uma nuvem ou um sistema.

Por que as empresas adotam mais de uma tecnologia de computação em nuvem?

Guilherme: Na jornada para nuvem que as empresas percorrem, nossos clientes aprenderam algumas coisas. Primeira é que não pode ficar preso a uma única nuvem. Se os preços sobem ou as políticas mudam ou há problema de segurança, será preciso retornar para o data center próprio ou migrar de nuvem. Por isso, o conceito de multicloud fica muito latente nas empresas. Com isso, os ambientes híbridos se tornam importantes.

Marcos: Com o Watson, por exemplo, o único jeito de usá-lo era com uma API que funciona em nuvem pública. O Bradesco é cliente e não quer dados da nuvem pública. Quando colocamos o Watson em uma nuvem privada, as empresas puderam colocar os dados onde é conveniente para as elas. As nuvens não são todas iguais. Elas têm características diferentes. O ambiente multicloud ajuda bastante também a mitigar riscos de segurança ou os riscos para o negócio. Por fim, as empresas precisam de aplicações portáteis para outras nuvens. Isso tira as amarras das empresas. Isso é possível desde que a aplicação seja usada em containers para que ela seja flexível. Essa é uma liberdade que nunca existiu antes.

Quais são as vantagens práticas da nuvem híbrida e da pública?

Guilherme: Ambientes distintos são chamados de nuvem híbridas. A vantagem é a flexibilidade para a estratégia. Como a tecnologia é aberta e portátil, isso é importante para empresas. A camada de segurança precisa ser bem grande. As aplicações se dividem em partes e por isso é preciso aumentar o nível de segurança. É crucial também saber onde estão os dados das empresas. Há benefícios e readequações a fazer. A IBM está comprometida com governança de dados por conta disso. Buscamos sempre entender as indústrias e suas necessidades. Isso combinado com a tecnologia que temos nos colocar em uma posição favorável no mercado.

Marcos: No segmento open-source, buscamos oferecer um software de qualidade para empresas. Quando ele se torna central na estratégia das empresas, é preciso ter alguém que garanta o bom funcionamento do código. Na nuvem, você pode aumentar rapidamente o nível de inteligência de uma empresa. Ela ganha acesso a um grande portfólio de recursos tecnológicos.  Na nuvem híbrida, é importante ter claro o que a empresa quer ter dentro de casa e o que pode ficar na nuvem.  Dar opções aos nossos clientes é o foco na liberdade dos clientes.

As startups usam computação em nuvem no Brasil hoje ou ainda é algo voltado para grandes empresas?

Marcos: Sim. O valor de investimentos em startups diminuiu ao longo dos anos, mas o número de acordos subiu porque a nuvem barateou o custo da inovação. Você tem muitos recursos disponíveis ao contratar um serviço de computação em nuvem. Antes, era preciso gastar alguns milhões de reais ao longo de dois ou três anos para então saber se o negócio ia dar certo. Isso gerava muitas falhas. A nuvem permite verificar hipóteses e crescer a partir do sucesso. Com isso, o risco da inovação foi repassado para os provedores. As startups podem migrar de ambiente se ele não for favorável.  Alguns exemplos são a eLaw, de advocacia, que implementou o IBM Watson para analisar contratos. O negócio nasceu na IBM. A Planetum é uma seguradora que permite realizar vistoria de veículos por meio de fotos tiradas com o celular. Com tecnologia de visão computacional, ela permite verificar o nível de dano no veículo.  No nordeste, há a Pneubras, distribuidora de pneus. O problema deles era tem vendedores capacitados. Por isso, criaram um assistente virtual com tecnologia da IBM para vender pneus via internet.

Ainda há resistência à computação em nuvem entre as empresas.  O que pensam sobre isso?

Guilherme: É um caminho sem volta. Só podem ficar sem as empresas sem competição. Mas logo elas perderão toda a competitividade. A nuvem é uma grande aceleradora de inovação. Ela mostra caminhos para novos negócios e pode até promover parcerias para aumentar o tamanho do mercado. A tecnologia vai aumentar o volume de PIB dos países. Grande parte das empresas se tornarão companhias de tecnologia dentro de seus setores.

Marcos: Essas empresas terão grandes desafios em reter funcionários. Há uma batalha por recursos que é brutal. As empresas disputam funcionários capacitados. Uma empresa que pode olhar a viabilidade de um produto é mais competitiva e a nuvem oferece exatamente isso, uma agilidade incomparável. Antes, poderia levar semanas ou meses para desenvolver produtos. Na nuvem, são segundos ou minutos. As ferrovias a vapor não acabaram porque não funcionavam, mas porque algo melhor apareceu. O mesmo acontece com a computação em nuvem em relação aos data centers.

Quais são os principais setores afetados pela nuvem?

Marcos: Os setores com negócios baseados em informação serão os mais beneficiados. Mas todos os segmentos são afetados. Quando tenho dados sobre um tema, posso tomar ações a partir dos dados. Os relógios inteligentes, por exemplo, criam dados que permitem o desenvolvimento futuro de ações que antes impossíveis. O grande volume de dados viabiliza novidades.

Guilherme: Ou seja, as empresas mais afetadas devem ser aquelas que coletam dados de consumidores. Uma plataforma de petróleo tem benefícios com a nuvem, mas não tanto quanto os postos de combustível terão. Os dados permitem um nível alto de personalização e identificação de novos negócios.

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