Tecnologia

Como a tecnologia impactará sua vida em 2021, de acordo a Amazon

Leia artigo exclusivo de Werner Vogels, vice-presidente e diretor de tecnologia da Amazon, sobre como 2021 será o ponto de partida para muitas mudanças

Dr. Werner Vogels, Vice-Presidente e Diretor de Tecnologia da Amazon.com (MARK RALSTON/AFP/Getty Images)

Dr. Werner Vogels, Vice-Presidente e Diretor de Tecnologia da Amazon.com (MARK RALSTON/AFP/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 08h00.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2021 às 08h11.

2020 foi um ano diferente de qualquer outro. Tanto empresas grandes e pequenas, quanto governos novos e antigos, tiveram de mudar completamente o que fazem e como funcionam. E a tecnologia nos ajudou a gerenciar essa transformação drástica. Seja com o Zoom virando nossa sala de reuniões de negócios (e nosso barzinho) ou o Netflix assumindo o papel de cinema, nós usamos a tecnologia para ajudar a alimentar nossa família, ensinar nossos filhos, trabalhar com nossos colegas e até conseguir um pouco de diversão após passarmos mais um dia em casa. Em vez de causar uma desaceleração, 2020 impulsionou nossa transição para um mundo digital, e imagino que não voltaremos tão cedo a como éramos antes. Na minha opinião, 2021 será o ponto de partida para todos os tipos de mudança graças a essa aceleração, e aqui estão algumas áreas que serão pioneiras nisso.

A nuvem será onipresente

A época em que todos os recursos da nuvem ficavam centralizados em data center está começando a sumir. Hoje já é possível encontrar aplicações de cloud que ajudam a potencializar o desempenho de navios, aeronaves, carros e casas. O acesso à computação e ao armazenamento da nuvem está passando de data centers robustos e chegando em comunidades rurais, áreas remotas e até órbitas próximas à Terra. Na prática, a nuvem está chegando em todos os lugares.

Hoje em dia, os avanços possibilitam colocar as tecnologias de nuvem mais próximas do que nunca dos clientes do mundo inteiro. Conforme vemos a expansão das redes 5G, as operadoras começam a implementar zonas de comprimento de onda para que o tráfego das aplicações dos dispositivos 5G possa aproveitar ao máximo a latência baixa e a largura de banda alta dessas redes modernas. Quando as conexões rápidas com a nuvem são expandidas para os pontos mais distantes da rede, muitas coisas boas podem acontecer.

Ao remover a latência e executar mais processamento no dispositivo localizado na extremidade da rede (ou edge), estamos começando a superar a única limitação que ainda afeta todas as tecnologias na Terra: a velocidade da luz. Operações que exigem uma latência muito baixa, incluindo carros autônomos, processamento de linguagem natural e o gerenciamento ativo de infraestruturas vitais, já não precisam depender de um deslocamento das informações dos confins do planeta para um servidor central. Agora, é possível executar as tarefas onde os resultados são mais necessários. E sabe qual é o efeito disso? Carros autônomos viram realidade; fábricas, casas e escritórios ficam cada vez mais eficientes e resilientes; e quem gosta de jogar videogame poderá contar com uma representação fiel da obra, onde quer que esteja.

Conforme a nuvem expande de locais centralizados para os ambientes em que moramos e trabalhamos, veremos cada vez mais o software executado na nuvem rodando perto de você, o que levará a melhorias em todos os aspectos da vida, incluindo nas áreas de saúde, transporte, entretenimento, fabricação e muito mais. Em 2021, essa transição para o edge do sistema será acelerada.

A internet do machine learning

Estamos passando por uma explosão de dados. Hoje em dia, geramos mais dados em uma hora do que durante todo o ano de 2000, e mais dados serão criados nos próximos três anos do que nos últimos 30 anos. Em 2020, vimos os sinais dessa curva crescente conforme pesquisadores, farmacêuticas, governos e instituições de saúde direcionaram recursos para o desenvolvimento de vacinas, novos tratamentos e outras formas de ajudar o mundo a permanecer saudável durante a pandemia. Esses esforços demandaram a geração e o processamento de grandes quantidades de dados. Seja na área da saúde ou em outras aplicações, a única maneira realista de lidar com todas as informações que estamos gerando é usar ferramentas de processamento e agregação junto com modelos de machine learning (ML) que nos ajudem a compreendê-las. Não é à toa que o machine learning se popularizou em 2020.

Historicamente, o ML sempre foi uma carga de trabalho pesada em termos computacionais, e não era possível executá-la em qualquer lugar, exceto nos hardwares mais potentes. Conforme conseguirmos avanços nos softwares e no silício, isso começará a mudar.  E, por estarmos chegando mais perto das bordas, o que veremos no próximo ano é uma aceleração da adoção dos modelos de ML em todos os setores e governos. Na manufatura, será incorporado às linhas de produção, conseguindo detectar anomalias em tempo real, e na agricultura, modelos ajudarão a gerenciar de forma mais inteligente recursos valiosos, como o solo e a água.

Também veremos uma explosão das conexões entre máquinas (M2M). Em 2018, segundo o relatório anual de internet da Cisco, apenas 33% das conexões existentes na internet eram do tipo M2M. Se você tiver um assistente de voz, contar com qualquer dispositivo doméstico inteligente ou estiver acompanhando a evolução rápida dos carros e caminhões, já imagina o que vem por aí: uma proliferação de sensores e dispositivos conectados à nuvem e também uns aos outros. Em 2021, as conexões M2M devem atingir 50% de todas as conexões.

Imagens, vídeos e áudios serão mais importantes que a escrita

No último ano, e conforme exploramos as profundezas do confinamento, falamos cada vez mais por áudio, vídeo e imagens. A quantidade de texto que consumimos nas nossas telas está caindo conforme usamos mídias diferentes para nos comunicarmos. Em um dia normal no Twitter, 80% das mensagens contém algum tipo de imagem ou vídeo, ou são apenas imagens ou vídeos.

Empresas que quiserem continuar sendo relevantes para seus clientes precisarão estar cientes dessas mudanças de hábito, em vez de depender do teclado, mouse ou outras formas mecânicas de pedir aos clientes que interajam com seus produtos e serviços. Na hora de construir relacionamentos e interagir com uma marca, os clientes querem fazer o que é mais natural, motivo pelo qual as empresas precisam adotar mais interfaces naturais.

Essa transição para formas de comunicação mais naturais também será mais democrática no que diz respeito ao acesso a serviços e informações. Para quem nunca aprendeu a ler ou escrever, a voz pode ser o único meio de acesso às informações. Em geral, pessoas com necessidades especiais que não consigam usar um touchpad ou um teclado podem conversar com uma tela ou um smart speaker para solicitar a exibição de fotos do último verão, pedir comida em um restaurante da região ou ligar para os filhos.

Sem falar em todos aqueles vídeos, áudios e imagens – no Twitter e em outros lugares –, que também gerarão novos insights e inspirarão novos produtos e serviços, como aconteceu com as plataformas de streaming de música.

A partir de 2021, o uso de áudios, vídeos e imagens continuará substituindo os textos em tudo, das plataformas sociais às operações empresariais, e as tecnologias de nuvem terão um papel importante na hora de suprir essa demanda.

A tecnologia transformará nossos mundos físico e digital

Em 2020, fomos apresentados ao distanciamento social. Neste tempo, pudemos analisar e repensar a forma como nossas cidades vivem, respiram e funcionam. Muitos dos lugares em que moramos e trabalhamos foram construídos com base em premissas de décadas ou até séculos atrás, dependendo de onde estamos, e essa realidade já não existe – ou, no mínimo, não funciona bem durante uma pandemia.

Com a ajuda de avançado data analytics, 2021 é o ano em que começaremos a descobrir como projetar nossas cidades de uma forma melhor para aproveitarmos as vantagens do distanciamento social sem nos sentirmos tão sozinhos. Nosso planejamento levará em consideração, por exemplo, como podemos deixar nossas comunidades mais saudáveis ​​e seguras, em vez de apenas mais densas e eficientes. Será uma verdadeira convergência do digital e do físico.

Por exemplo, usando tecnologias avançadas de análise de dados e ML, as cidades serão capazes de analisar o tráfego de pedestres para entender como se movem, seja entrando em um estádio, saindo de um supermercado ou em uma plataforma de metrô. Grandes lojas já usam uma versão dessa tecnologia há muitos anos para analisar a movimentação de seus clientes e ajudar a direcionar essas pessoas em tempo real para melhores promoções. Porém, adicionando modelos de machine learning nesse kit de ferramentas para resolvermos os problemas mais difíceis do mundo real, poderemos identificar gargalos e pontos de alerta antes que eles surjam.

Outra transformação física que veremos será menos social e mais financeira: precisaremos cada vez menos de dinheiro em espécie. Em 2020, vimos um aumento drástico de plataformas de pagamento on-line com operações construídas na nuvem e um sistema básico de criptografia também na nuvem – um exemplo disso é o blockchain. Essas opções serão cada vez mais abundantes conforme o mundo adotar tecnologias digitais para substituir opções antiquadas e centenárias.

O ensino à distância conquista seu espaço na educação

Nos últimos anos, vimos mudanças radicais em quase todos os setores, com uma exceção gritante: a educação. A maioria dos institutos educacionais funciona de uma forma parecida com quando eu ia à escola, há muitos anos. Embora tenhamos começado a ver mudanças nessa seara a passos lentos por meio de opções on-line, a COVID-19 forçou a educação a passar por uma reinvenção rápida, mais do que quase qualquer outro setor. E ela não voltará ao que era.

Esse ano, vamos provar que o ensino à distância pode funcionar e talvez seja uma opção melhor para algumas pessoas, mostrando como isso pode ter um papel positivo e duradouro na educação. Não precisamos de uma crise global de saúde para ver que oferecer aulas pela internet faz sentido. Ter opções de ensino (e trabalho) à distância disponíveis o tempo todo também significa que as crianças poderão ficar em casa quando estiverem doentes, mas não precisarão perder aula. E se não houvesse nenhuma escola para o ensino presencial? Havendo uma conexão com a internet, pelo menos existirá a possibilidade de algum tipo de educação.

Sem dúvida, eu acho que devemos enviar nossos filhos de volta para a sala de aula, e para o contato com os colegas, mas nós passaremos por outras interrupções. O ensino à distância dá às instituições educacionais e aos alunos a flexibilidade necessária para reagir a imprevistos, sejam pandemias, desastres naturais ou causados pelo ser humano – para não interromper o aprendizado.

Pequenas empresas irão acelerar sua migração para a nuvem, e o Sudeste Asiático e a África Subsaariana serão pioneiras

A partir de 2021, veremos uma grande mudança nas pequenas empresas começando a usar a tecnologia avançada da nuvem para alcançar os clientes e uma explosão de tecnologias de alto nível e provedores de serviços que atenderão essas organizações. Isso vai ajudá-las a fazerem de tudo, desde ativar um chatbot para ajudar a responder às perguntas mais frequentes dos clientes até implementar um sistema de CRM extremamente simples em questão de minutos. As pequenas empresas colherão os frutos de arquiteturas e aplicações sofisticadas sem precisarem investir tempo e recursos financeiros para construí-las do zero.

A tendência de onipresença da nuvem descrita acima é o que possibilita isso. Mas a força-motriz por trás dessa mudança é a experiência que a maioria das pequenas empresas vivenciou no último ano, quando, em muitos casos, conseguir utilizar a tecnologia era uma questão de sobrevivência. Com a expansão dessa tendência, é esperado que nações do Sudeste Asiático, como Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã, e da África, como Quênia, Nigéria e África do Sul, liderem essa adoção.

Antes de 2020, eu costumava passar um tempão nessas partes do planeta, sempre conversando com os clientes e ouvindo suas histórias de como estavam usando a tecnologia para superar desafios locais. Durante esse tempo, vi um potencial muito grande para as pequenas e médias empresas, e sempre achei suas histórias inspiradoras. Na África Subsaariana, 90% das empresas são de pequeno porte, e elas representam 40% do PIB e são responsáveis por US$ 700 bilhões na economia da região. Nos países do Sudeste Asiático, pequenas e microempresas são 99% das companhias de vários setores essenciais, principalmente no turismo e no artesanato. A penetração on-line desses países já está entre as mais altas do mundo, motivo pelo qual uma presença virtual possibilita que pequenas e microempresas consigam ir além de suas comunidades e continuem fazendo negócios mesmo quando o mundo à sua volta estiver inacessível.

Quando essas pequenas empresas começarem a trazer suas perspectivas únicas e, muitas vezes, seus produtos artesanais para o mundo, é provável que elas comecem a dar saltos com muitas das práticas de negócios que vemos em países mais estabelecidos. Esses países não estão presos a uma tecnologia legada ou a um raciocínio obsoleto a respeito do que é possível para eles, então o céu é o limite.

A computação quântica começa a desabrochar

Ao conseguirmos democratizar as tecnologias mais avançadas e complexas, deixando-as acessíveis, disponíveis e inteligíveis para o maior número possível de pessoas, muita coisa boa acontece.

Não há dúvida de que estamos nos estágios iniciais de uma transformação completamente inédita na computação. Nesta época de desbravamentos, é extremamente importante deixarmos o maior número possível de pessoas botarem a mão na massa e tentarem destrinchar a computação quântica. Conforme as empresas e instituições começarem a experimentar o universo quântico pela primeira vez, e essa expertise começar a ir além do mundo acadêmico, veremos planos de negócios e as primeiras sementes de produtos e serviços fundamentados em um futuro quântico. Como vimos com machine learning, quando o ecossistema de softwares conseguir potencializar os hardwares de verdade, milhares de aplicações ganharão corpo.

Com o tempo, provavelmente por volta da próxima década, a computação quântica transformará áreas como engenharia química, ciência de materiais, descoberta de medicamentos, otimização de portfólios financeiros, machine learning e muito mais. Mas isso só acontecerá se pessoas cada vez mais diversas começarem a imaginar esse futuro. 2021 será o ano em que a computação quântica começará a desabrochar.

A última fronteira...

Para a tecnologia cumprir seu potencial de ajudar todas as pessoas ao redor do mundo a viverem uma vida melhor, não devemos sair dando a volta ao mundo; devemos ir às alturas. A partir de 2021, imagino que o espaço será a área em que veremos alguns dos maiores avanços das tecnologias de nuvem.

Já estamos vendo a capacidade de acessar e processar dados de satélite ajudando pesquisadores a acompanharem o desgaste das geleiras, as agências marítimas a protegerem as reservas marinhas vulneráveis ​​e os agrônomos a fazerem uma previsão melhor do abastecimento alimentar. As startups estão tentando transformar o espaço no lugar ideal para uma nova geração de redes rápidas e seguras. Ao disponibilizar e facilitar o acesso ao espaço para todos os desenvolvedores, fico animado para ver as inovações que voltarão à Terra e nos ajudarão a promover nosso crescimento e prosperidade.

Acompanhe tudo sobre:AmazonComputação em nuvem

Mais de Tecnologia

Conheça a Lark: a nova aposta da ByteDance para produtividade no Brasil

O homem mais rico da Ásia anuncia planos para robôs humanoides em 2025

Gigante do TikTok, ByteDance atinge valor de US$ 300 bilhões, diz WSJ

Segurança de dados pessoais 'não é negociável', diz CEO do TikTok