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Lucas Agrela
Publicado em 12 de junho de 2018 às 15h39.
Quatro décadas atrás, quando era um jovem engenheiro que trabalhava para a Imperial Chemical Industries, Patrick Thomas ajudou a instalar um dos primeiros sistemas de computação digital do setor: uma máquina revestida de mogno, agora em exibição em um museu de ciências.
De lá para cá, a computação transformou o setor em um negócio de US$ 4 trilhões que fornece ingredientes para todos os tipos de produtos manufaturados, desde xampus e tintas até colchões. Mas para Thomas, também está emergindo como campo de batalha da propriedade de formulações valiosas.
“Não há nenhum tipo de estrutura regulatória e não faltam advogados tentando se envolver”, disse o executivo, que chefiou a fabricante alemã de produtos químicos Covestro por mais de uma década antes de se tornar presidente da Johnson Matthey, em 1 de junho. “Quem é o dono dos dados de uma cadeia?”
O alerta desse importante veterano do setor ressalta o debate travado no mundo corporativo a respeito de dados, privacidade e direitos de propriedade, que tem particular relevância para os fabricantes de produtos químicos devido à crescente dependência deles em relação à automação industrial. Os robôs industriais estão roubando o lugar de funcionários de confiança, absorvendo enormes quantidades de dados confidenciais de fabricantes e clientes e aprendendo e modificando as principais formulações no caminho.
Os fornecedores capturaram todo o valor criado pela inteligência artificial, segundo Vijay Sarathy, chefe de produtos químicos para a América do Norte na consultoria Accenture. Os clientes que contribuem com dados para a cadeia de manufatura agora sentem que devem receber algo em troca por sua contribuição.
“Uma coisa que não funcionará é alguém pensar que pode manter todo o valor criado para si”, disse. As divisões de propriedade são especialmente confusas no setor de produtos químicos devido à relação altamente interativa com os clientes, à dependência de amplas cadeias de abastecimento e à contribuição de empresas de software que ajudam a desenvolver ferramentas e produtos de automação.
Os primeiros controles automatizados de máquinas para produtos químicos começaram na década de 1950, seguidos pelo desenvolvimento de software de empresas como SAP e Oracle para administrar fábricas inteiras. Os últimos produtos -- parte de uma mudança mais ampla rumo à digitalização, conhecida como Indústria 4.0 -- incluem robôs capazes de aprender sozinhos, desenvolvidos para as fábricas autônomas do futuro.
Apesar de a Europa ter reforçado neste mês as regras de proteção de dados para indivíduos, a fabricação de produtos químicos ainda parece um faroeste de tão desregulada, disse Thomas em entrevista. Está ficando mais difícil proteger os conhecimentos de uma empresa e a falta de regras sobre a propriedade de dados está atrasando avanços e gerando movimentos defensivos de empresas que buscam proteger suas inovações.
As empresas estão fazendo experimentos “para ver o que funciona”, disse. No caso da Covestro, a fabricante alemã de plásticos e revestimentos separada da Bayer, os clientes recebem uma espécie de painel digital para ajustar formulações para alterar o brilho, a solidez da cor e a durabilidade do produto, mas a receita de informações precisa é mantida em um nuvem separada da empresa.