Loja online da Apple na Índia: a empresa é líder no segmento de smartphones mais caros (Apple/Divulgação)
Filipe Serrano
Publicado em 23 de setembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 23 de setembro de 2020 às 14h39.
A Apple traz uma novidade importante para o mercado indiano nesta quarta-feira (23). Pela primeira vez, a empresa fabricante do iPhone começa a vender seus produtos pela internet por meio de uma loja virtual própria no país.
A inauguração poderia passar despercebida se fosse feita em um lugar qualquer. Mas o mercado indiano tem se tornado rapidamente um dos maiores e mais promissores do mundo, e é cada vez mais um dos palcos mais quentes da disputa acirrada entre gigantes globais da tecnologia.
No ano passado, pela primeira vez foram vendidos mais smartphones na Índia do que nos Estados Unidos, de acordo com a consultoria CounterPoint Research. O número de dispositivos vendidos chegou a 158 milhões de unidades. É uma cifra que já faz da Índia o segundo maior mercado de smartphones do mundo em volume, perdendo apenas para a China.
O que chama a atenção é que mesmo sendo já um mercado grande, ainda há espaço para crescer. Hoje, o número de pessoas que possuem um smartphone na Índia é de 345 milhões – ou apenas 25% de uma população com 1,35 bilhão de habitantes.
É justamente esse mercado que a Apple espera abocanhar com as vendas diretas pela internet no país neste e nos próximos anos.
Não será uma tarefa fácil para a empresa americana. Hoje o mercado de smartphones indiano é dominado por marcas chinesas como Xiaomi (que é líder em vendas), Vivo (empresa homônima da operadora brasileira), Realme e Oppo. As três últimas (Vivo, Realme e Oppo) são subsidiárias de uma mesma fabricante chinesa, chamada BBK Electronics. A sul-coreana Samsung é também uma competidora forte, ocupando o segundo lugar entre as empresas com a maior fatia no mercado indiano.
Juntas, as cinco companhias têm 93% das vendas de smartphones na Índia, conforme os dados da consultoria americana IDC.
O mercado indiano ainda tem outra peculiaridade. Assim como acontece em mercados em países emergentes como o Brasil, a maior parte das vendas de smartphones está concentrada em celulares de baixo custo, que têm margem de lucro menor.
Segundo a IDC, 84% dos celulares vendidos no país no segundo trimestre, estão na categoria com preço abaixo de 200 dólares (aproximadamente 1.100 reais). É uma área que as empresas chinesas e coreanas dominam.
Já na categoria de smartphones que custam acima 500 dólares (2.700 reais), o jogo vira a favor da Apple, e é aí que a empresa tem a maior vantagem. Nesse segmento, mais lucrativo, a dona do iPhone tem 49% do mercado. O lançamento de modelos mais acessíveis do iPhone, como a segunda geração do iPhone SE e o iPhone XR de 2018, fez com que a empresa ganhasse terreno na Índia nos últimos anos, no segmento de smartphones mais caros.
Não é a primeira investida da Apple na Índia. A empresa começou a fabricar alguns modelos iPhones no país em 2017, por meio de uma fábrica da Foxconn. No ano passado, começou a produzir também o iPhone 11, o mais avançado. A fabricação local ajuda a reduzir os custos de importação para o mercado indiano.
A Índia sempre se destacou como um país com grandes empresas do setor de tecnologia e como um exportador de talentos nessa área. Nos últimos anos, no entanto, o país também se tornou um dos polos mais importantes no mundo para o surgimento de startups e empresas da nova era digital. As empresas do país têm atraído cada vez mais investimentos de fundos de venture capital e private equitiy estrangeiros, de olho no crescimento do gigantesco mercado indiano. Somente em 2019, o investimento de private equity no país chegou a um recorde de 17,3 bilhões de dólares (no Brasil, em comparação, foram pouco menos de 2 bilhões de dólares).
Uma das empresas que têm se destacado recentemente é a Jio Platforms, a maior operadora de telefonia celular da Índia e a quarta maior empresa do país em valor de mercado. Desde o início do ano, a operadora já atraiu uma série de investimentos do Facebook, do Google, da Intel Capital (braço de investimentos da fabricante de chips) e dos fundos de private equity Silver Lake, General Atlantic e KKR, entre outros investidores. Somente o Google decidiu investir 4,5 bilhões de dólares por uma participação de 7,7% na empresa.
Embora a pandemia do novo coronavírus também tenha atingido em cheio o país, fazendo milhares de vítimas e prejudicando drasticamente a economia e também as vendas no mercado de eletrônicos, as perspectivas de longo prazo para o país e a indústria digital não parecem ter sido afetadas, como mostra a inauguração da nova loja virtual da Apple.