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Com GeForce Now, transmissão de jogos via nuvem pode virar tendência

GeForce Now, o serviço de transmissão de games pela nuvem da Nvidia, foi bem recebido pelo público e nova tecnologia deve crescer

GeForce Now: serviço de transmissão de jogos via nuvem da Nvidia custa 5 dólares ao mês (Getty Images/Reprodução)

GeForce Now: serviço de transmissão de jogos via nuvem da Nvidia custa 5 dólares ao mês (Getty Images/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 5 de março de 2020 às 05h55.

Última atualização em 5 de março de 2020 às 14h17.

São Paulo - Uma das principais tendências do mercado global nos jogos eletrônicos é a transmissão de games via internet. Já surfam nessa onda empresas como a Apple, o Google e Sony – além da Microsoft, que já faz testes públicos com o Xbox Console Streaming. A nova tecnologia, chamada de cloud gaming (jogos na nuvem), consiste em fazer com que dispositivos móveis ou consoles mais simples do que os atuais consigam executar jogos que pedem aparelhos mais avançados - como computadores focados em games. Para efeito de comparação, é como se fosse um "Netflix para jogos". A Nvidia, empresa americana de placas gráficas para computadores, busca um caminho para se manter relevante diante da iminência de um futuro em que os jogadores não precisarão de tanto poder de processamento gráfico para jogar em um PC. Com isso, a tendência de cloud gaming pode reduzir a importância do negócio de placas gráficas para games – ainda que elas sejam úteis, por exemplo, para carros autônomos.

Com isso, a Nvidia buscou um caminho parecido com a das grandes empresas globais de games e aposta agora em um aplicativo de streaming de jogos chamado GeForce Now. Ele permite que os usuários tenham uma experiência parecida com a de jogar em um PC gamer por meio de seus notebooks ou smartphones.

Ou seja, você não precisa, necessariamente, ter uma placa de vídeo com memória dedicada no seu computador – mas se tiver sua experiência de jogo pode ficar ainda melhor. Com isso, a empresa aumenta o número de clientes que pode atingir, uma vez que os computadores de menor custo não possuem placas gráficas da Nvidia ou da AMD, apenas uma Intel Graphics integrada.

Lançado em janeiro deste ano, o serviço é mais uma tentativa das grandes empresas do mercado para explorarem o mundo da nuvem. No ano passado, o Google lançou o Google Stadia, que teve uma recepção mediana entre os jogadores. Buscando aprimorar o desempenho e a jogabilidade dos títulos no serviço, a Nvidia utilizou suas próprias placas de vídeo da marca GeForce, que são referência para dispositivos voltados para o público dos games.

A principal diferença do serviço do Google para o da Nvidia é que, no caso do GeForce Now, o catálogo de jogos depende do usuário. No Stadia, o serviço de assinatura permitia acesso apenas a uma lista específica de jogos. Quando o usuário conecta sua conta a plataformas como Steam e Epic Games, os jogos que já foram adquiridos ficam disponíveis no GeForce Now em qualquer dispositivo compatíveis. Isso não significa, porém, que todos os games rodam no GeForce Now; para verificar se o aplicativo suporta seu jogo favorito, basta acessar esse link.

À EXAME, o vice-presidente do GeForce Now, Phil Eisler, informou que a tecnologia para o produto vem sendo pensada há cerca de uma década. De acordo com a companhia, o serviço - que esteve em modo de testes desde 2013 - utilizou os centros de processamento de dados para reduzir a latência e melhorar a experiência do usuário. Além da performance, os desenvolvedores comentaram que todas as atualizações de jogos são automaticamente realizadas pelo aplicativo.

Ainda sem lançamento oficial no mercado brasileiro, o aplicativo do GeForce Now está disponível para computadores, smartphones Android e o dispositivo Shield TV, player da Nvidia que reproduz conteúdos na televisão - ainda não há previsão para que o serviço chegue aos dispositivos Apple. Para a EXAME, Eisler informou que não é necessário comprar um controle específico para jogar, mas recomendou controles como Razer Raiju Mobile e Steelseries Stratus Duo, além do controle Shield. Segundo a empresa, estes foram alguns dos exemplos testados pelo seu programa de recomendações de periféricos.

Levando em conta a recepção inicial dos usuários ao serviço e a crescente preferência por jogos em computadores - a Steam, uma das principais plataformas de jogos eletrônicos online, já ultrapassou os 90 milhões de usuários ativos -, a transmissão de games por nuvem pode ter um ano positivo. Na visão dos desenvolvedores de jogos, porém, essas novas plataformas talvez não sejam tão beneficiais assim. Enquanto a experiência do GeForce Now foi elogiada, publicadoras como Activision Blizzard e Bethesda retiraram seus títulos - entre eles, Fallout 4 e os jogos da série Call of Duty - do serviço.

A discussão tomou mais força quando Raphael van Lierop, desenvolvedor do jogo de sobrevivência The Long Dark, anunciou publicamente que havia pedido para que a Nvidia retirasse seu jogo do serviço, já que foi adicionado sem sua permissão. Entre os argumentos, Lierop comentou que a nova tendência pode prejudicar os desenvolvedores de software - conhecidos como devs -, já que acabam perdendo o direito de escolher onde suas criações serão transmitidas. Confira, abaixo, a postagem do desenvolvedor:

Em contrapartida, os consumidores de jogos eletrônicos acreditam que, visto que pagaram por aquele conteúdo, devem possuir o direito de transmiti-lo pelo meio que preferirem. Por meio do blog da empresa, a Nvidia reconheceu e aceitou a escolha dos desenvolvedores de participar ou não do serviço: “À medida que abordamos um serviço pago, alguns editores podem optar por remover jogos antes do término do período de avaliação. Por fim, eles mantêm o controle sobre seu conteúdo e decidem se o jogo que você compra inclui streaming no GeForce Now", escreveu Phil Eisler, diretor geral da Nvidia.

Para que ambos os lados se beneficiem economicamente do streaming de jogos, seria preciso haver negociações com as distribuidoras de games - entre as demandas, estão a necessidade de manter jogos exclusivos para alguns aparelhos e plataformas - afinal, se o usuário conseguir acessar o mesmo jogo em todos os seus dispositivos sem que o desenvolvedor receba por isso, pode acabar se tornando um prejuízo desnecessário e dando margem a processos judiciais.

Mesmo que pagar 5 dólares para ter acesso aos seus jogos em todos os dispositivos seja uma estratégia interessante para o consumidor, pode não ser uma boa notícia para os desenvolvedores - especialmente os independentes. Porém, com a posição da Nvidia sobre o assunto, uma alteração no modelo não é algo esperado - pelo menos, não até o momento; a grande quantidade de títulos da plataforma permanece sendo um dos fatores positivos, e seus consumidores abraçaram a ideia da democratização do ato de jogar.

Com isso, o serviço pode, enfim, ser o principal responsável pelo início de um caminho positivo - e mais disseminado entre os jogadores - para a transmissão de jogos por meio da nuvem. Além da Nvidia, japonesa Sony também está no mercado: o PlayStation Now é um serviço de transmissão por nuvem que funciona tanto em computadores quanto no PlayStation 4, e disponibiliza títulos dos consoles mais antigos.

Em termos de mercado, a consultoria americana de dados de mercado Market Study Report estima que o faturamento global de transmissão de jogos por nuvem irá passar de 45 milhões de dólares em 2018 para 450 milhões de dólares em 2024, mantendo uma taxa de crescimento anual de 46,7%. Caso a previsão esteja correta, o mercado aumentará dez vezes no período. A companhia também estima que, depois dos Estados Unidos - que continuará ditando o ritmo das inovações -, a China e a Índia também terão porcentagens importantes na divisão de mercado.

O setor global de games passa por uma fase de transformação. Assim como a Netflix e outras empresas de streaming de vídeo dispensaram a necessidade de aparelhos de DVD e Blu-Ray para ver filmes, os consoles e placas gráficas sofisticadas podem ficar no passado, dando lugar ao streaming, mais inclusivo para os consumidores e abrangente para as empresas, que poderão migrar para um modelo de negócios baseado em assinaturas.

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