Tecnologia

Com 18 milhões de tablets, Brasil está pronto para e-books

Os e-books são só 3% dos livros vendidos no Brasil, mas estão se espalhando com os tablets. Veja o que diz Susanna Florissi, da Câmara Brasileira do Livro


	Leitora com Kindle: "A leitura hoje deixou de ser linear. Essa é a grande beleza do momento atual"
 (Divulgação/Amazon)

Leitora com Kindle: "A leitura hoje deixou de ser linear. Essa é a grande beleza do momento atual" (Divulgação/Amazon)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2014 às 09h36.

São Paulo - Há hoje no Brasil 18 milhões de tablets em funcionamento, segundo a FGV. Entre outras tarefas, os gadgets vêm sendo usados para a leitura de e-books. E as editoras brasileiras andam de olho nisso.

EXAME.com conversou sobre o assunto com Susanna Florissi. Na entrevista, a diretora da Câmara Brasileira do Livro falou sobre o cenário atual e as perspectivas do setor - que, pela quinta vez, será tema de um congresso do órgão, marcado para agosto.

Como sintoma da ligação cada vez maior entre os mundos da leitura e da tecnologia, o encontro será aberto por Jason Markosk, primeiro evangelista de tecnologia da Amazon. A seguir, leia alguns trechos do bate-papo.

EXAME.com - Que transformações a tecnologia vem promovendo no mundo da leitura?

Susanna Florissi - A leitura hoje deixou de ser linear. O leitor está lendo e acessa um link relacionado, compartilha um trecho com amigos em redes sociais, lê mais sobre o assunto na internet. Essa é a grande beleza do momento atual. É claro, os jovens não lêem como a gente lê - mas também consomem. E o nosso segmento precisa se adaptar a esta mudança.

EXAME.com - Quais e-readers têm se saído melhor no Brasil?

Susanna Florissi - Como estes gadgets ainda são mais consumidos entre as classes mais ricas, o iPad tem sido a escolha mais comum. Mas outras opções, como o Kindle e o Kobo, também chegaram com muita força. Acho também que é uma questão de geração. Quem é mais velho e quer algo dedicado à leitura, escolhe o Kindle. Já as novas gerações, para as quais outras funções são essenciais, vão optar pelo iPad.

EXAME.com - Qual o cenário do mercado de livros digitais hoje no Brasil?

Susanna Florissi - De acordo os números oficiais, e-books não chegam a representar 3% das vendas de livro hoje no Brasil. Porém, a tendência é que haja uma rápida evolução nesse cenário - com os livros didáticos puxando uma arrancada. Iniciativas do governo, como o PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), já consideram este formato nas suas contas.

EXAME.com - Em que áreas é maior o consumo do livro digital?

Susanna Florissi - Hoje, a maior parte do consumo de e-books está mesmo concentrada em obras de literatura - geralmente comercializadas no formato Epub. Em outros nichos, como a literatura infantil, a adoção do livro digital tende a ser mais lenta. Isso porque a criança quer abraçar o livro, beijar, levar para o banheiro... É assim mesmo.

EXAME.com - Como as editoras têm feito para ganhar dinheiro com o livro digital?

Susanna Florissi - Na literatura, prevalece o download para gadgets como Kindle e iPad. Já na área de livros didáticos, a interatividade tem gerado novidades. Há muita coisa que é acessada na nuvem ou por meio de senha durante um ano, por exemplo. Formatos antigos, como CD-ROMs, praticamente não existem mais - até pelo fato de alguns aparelhos não terem como acessá-los.

EXAME.com - Já há experiências interessantes envolvendo livro digital no país?

Susanna Florissi - Em São Paulo, o Colégio Bandeirantes aboliu os livros entre os alunos do 6º ano e adotou o iPad. Como a instituição atende a classes com maior poder aquisitivo e já usava Apple TVs, isso foi possível. Mas acho que novas experiências do tipo podem surgir com outros gadgets em diversos colégios.

EXAME.com - Como estamos em comparação com outros países?

Susanna Florissi - Um levantamento mostrou que jovens entre 15 e 24 anos que usam a internet a mais de cinco anos representam 5% da população mundial. No Brasil, esse grupo corresponde a 10% do total. Estamos na frente de China e Índia e no mesmo patamar de países como Alemanha e Japão. Como na Europa o mercado é menor e os leitores são mais conservadores, devemos caminhar mais rapidamente.

EXAME.com - A resistência ao formato pode ser um obstáculo na popularização dos e-books no Brasil?

Susanna Florissi - Não, muito pelo contrário. Antes, se você morasse em Petrolina (PE), tinha de pedir ao livreiro (geralmente no Rio, em São Paulo ou em Recife) que lhe mandasse os livros. O Brasil é um país muito grande, propício a essa hábito de enviar coisas. Nisso, a internet só facilita. A internet vai permitir que este conteúdo chegue a mais pessoas.

EXAME.com - A chegada de grandes redes, como a Amazon e a Barnes and Nobles, é positiva para o mercado brasileiro de e-books?

Susanna Florissi - Somos a favor da livre-iniciativa sem concorrência predatória. Para nós, a popularização destes novos suportes é ótimo. Quando foram lançados, os pocket books representaram uma revolução nos EUA - pois tornaram a leitura mais barata. E o mesmo deve acontecer com e-books. Assim, quanto mais players, mais saudável o mercado.

EXAME.com - E qual deve ser o futuro dos e-books no Brasil?

Susanna Florissi - Acho que o mercado deve crescer - inclusive o impresso. O papel é ótimo para anotações e outras funções e, para mim, uma coisa puxa a outra. Cabe a autores e ilustradores estarem atentos a esta nova forma de fazer livro. O livro impresso não vai morrer, mas vai ter que conversar com outras mídias.

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