Clubhouse: Sucesso do aplicativo pode ter sido afetado pela competição de mercado e outros fatores (Florian Gaertner/Photothek/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 23 de abril de 2021 às 08h00.
A febre do Clubhouse aparenta ter passado de vez. A rede social com foco exclusivo em áudio, em que qualquer usuário pode abrir uma sala de bate-papo e conversar com pessoas de todo o mundo, já observa seu sucesso do início do ano diminuindo drasticamente.
De 10 milhões de instalações em fevereiro, o app recebeu aproximadamente 3 milhões de downloads em março — mais especificamente, uma queda de 72%, de acordo com dados do SensorTower.
O aplicativo foi lançado em março de 2020 por Rohan Seth, ex-funcionário do Google, e Paul Davidson, empresário do Vale do Silício. Acredita-se que seu sucesso foi concretizado após a aparição do bilionário Elon Musk em um bate-papo com Vlad Tenev, CEO do Robinhood, em fevereiro de 2021.
O aplicativo não só é exclusivo para usuários de iPhone, como também é necessário receber um convite para conseguir acesso, dois fatores que não contribuem para um crescimento exponencial.
Em linhas gerais, o app funciona da seguinte forma: depois de fazer login com o convite enviado, o usuário preenche seu perfil (adicionando nome e foto, como em qualquer outra rede) e segue para "tópicos de interesse". Depois de selecioná-los, o aplicativo sugere conversas (grupos de bate-papo) relacionados aos tópicos, além de pessoas para seguir dentro da própria plataforma.
No último domingo, 18, a empresa anunciou que havia fechado uma nova rodada de investimentos. O valor não foi divulgado, mas, segundo fonte ouvida pela agência Reuters, o novo aporte avalia a empresa em 4 bilhões de dólares.
Esta foi a terceira rodada de investimentos do Clubhouse desde a sua fundação em março de 2020. O aporte mais recente havia sido em janeiro, antes da presença de Musk em um bate-papo fazer com que o app viralizasse. Na rodada de janeiro, o ClubHouse levantou cerca de 100 milhões de dólares.
"Isso [o novo investimento] nos permitirá expandir fortemente nossa equipe para apoiar o crescimento internacional, investir em recursos de localização e acessibilidade e lançar mais programas como o Creator First para ajudar os criadores a serem pagos", disse a empresa em comunicado.
Ao viralizar quase que da noite para o dia, o Clubhouse se mostrou um verdadeiro concorrente para os gigantes de tecnologia que há anos dominam o mercado das redes sociais.
Em entrevista à EXAME em março sobre o impacto do Clubhouse, Victor Barcellos, especialista de Comunicação Digital da ITS-Rio, disse: “É uma lógica de mercado. Essas plataformas estão, sim, tentando inovar, mas elas usam seu poder para engolir a inovação de novos concorrentes”, afirma. “Elas têm uma tendência ao monopólio, porque competem por número de usuários e atenção.”
Em questão de semanas, Facebook, Twitter, Instagram e até o Spotify lançaram novas ferramentas semelhantes às salas do novo aplicativo. Teria sua competição dado certo e levado a queda repentina de interesse pelo Clubhouse? Ou estaria a rede social já fadada ao esquecimento e ao desinteresse geral do público?
Afinal, será que os gigantes ganharam a competição? Veja o que eles criaram na esperança de roubar os holofotes:
Nesta última segunda-feira, 19, a rede social de Mark Zuckerberg anunciou que vai adicionar podcasts e salas de áudio ao vivo para estimular a conversa entre as pessoas. Ela está desenvolvendo novas ferramentas de criação em áudio que o chefe do app do Facebook, Fidji Simo, descreveu como "um estúdio de som portátil". Com elas, será possível criar "Soundbites" em formatos curtos, como pequenas histórias, piadas e momentos de inspiração.
Além disso, a companhia também está testando o Hotline, um aplicativo que permite que pessoas usem áudio e vídeo para conversar com o público ao criar salas de bate-papo, como no Instagram Live. As conversas podem ser agendadas e todas têm um recurso para perguntas e respostas (Q&A).
Por enquanto, não há limite para o tamanho do público em cada sala, enquanto o Clubhouse tem um máximo de 5.000 pessoas por conversa. Ainda em fase beta e sem versão para dispositivos móveis, o Hotline só pode ser acessado por meio de seu site, ainda não disponível no Brasil.
O Instagram já contava com a ferramenta de lives muito antes do lançamento do Clubhouse. No início da quarentena, por exemplo, criar sua própria transmissão ao vivo virou uma febre entre os brasileiros.
Porém, com o surgimento da nova rede social, não demorou muito para que o número de convidados aumentasse: antes permitido apenas uma outra pessoa para conversar, agora outras três podem se juntar ao usuário que cria o vídeo ao vivo.
"A ferramenta ‘Salas Ao Vivo’ oferece às pessoas e aos criadores uma opção alternativa para criar conteúdo, proporcionando uma maneira rápida e simples de se conectar com sua comunidade e público e trazer mais pessoas para a conversa", disse a rede social em nota, após anunciar a novidade.
Em fevereiro, o Twitter divulgou o Spaces, funcionalidade que permite que um grupo de até 10 pessoas se reúna para debater um assunto diante de uma audiência. Ela funciona junto aos Fleets, os stories do Twitter. Antes em fase teste, a função está disponível para todos os usuários desde o início de abril.
Por anos, a rede social do passarinho ficou atrás de seus concorrentes principais quando o assunto era a implementação de novas ferramentas. O Spaces faz parte de uma iniciativa ambiciosa do Twitter: terminar o quarto trimestre de 2023 com 315 milhões de usuários diários rentáveis — eram 152 milhões no final de 2019 e a meta implica em um crescimento médio anual de 20%.
Talvez o menos esperado dessa lista, o Spotify anunciou no final de março a compra da empresa Betty Labs, responsável pelo Locker Room, aplicativo de áudio que se tornou um espaço para fãs de esporte conversarem, como uma espécie de Clubhouse.
O objetivo do serviço de streaming musical é acelerar sua mudança para áudio ao vivo. Em nota, o Spotify afirma que irá expandir para oferecer esportes, música e programação cultural, bem como discussões ao vivo com atletas profissionais, músicos e outras personalidades.
A companhia investiu fortemente em podcasts em 2020 e 2021, então é coerente que ela tente fincar sua garra no mercado de áudios ao vivo também. No ano passado, um acordo estimado em 100 milhões de dólares com o podcast Joe Rogan Experience figurou entre um dos maiores do setor, além do lançamento de um programa exclusivo com a ex-primeira-dama americana Michelle Obama.
De acordo com Mia Nygren, diretora-geral do Spotify para a América Latina, são cerca de 2 milhões de podcasts hospedados na plataforma em todo o mundo.