Pesquisa: estudiosos desenvolvem tecnologia que usa fungos parasitas de insetos para controle biológico de pragas (Inajá Marchizeli Wenzel Rodrigues)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2016 às 09h16.
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Biológico de São Paulo, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), estão desenvolvendo, com apoio da FAPESP, uma nova geração de inseticidas biológicos para controle de pragas.
Trata-se de uma tecnologia que envolve o encapsulamento de conídios de fungos entomopatogênicos, que parasitam insetos e podem matá-los ou incapacitá-los, mas não produzem patogenicidade aos seres humanos.
Os fungos aderem ao corpo do inseto por meio de esporos de dimensões microscópicas que, sob condições adequadas de temperatura e umidade, germinam, penetram, desenvolvem hifas e colonizam o interior do organismo.
O processo de encapsulamento proposto pelos pesquisadores se dá por meio do uso de um biopolímero, que é um polímero produzido por organismos vivos, a exemplo das proteínas, dos polissacarídeos e dos ácidos nucleicos.
A ideia é conferir proteção e estabilidade no armazenamento dos conídios, garantindo sua ação prolongada sobre diversos insetos-pragas de cultivos agrícolas.
“A formulação possibilitou que o produto fique armazenado sem refrigeração por até 12 meses e se mostrou patogênica a diversas pragas, como a broca e o bicudo da cana-de-açúcar”, disse Inajá Marchizeli Wenzel Rodrigues, responsável pela pesquisa Estudos para identificação de biopolímeros, de baixo custo, compatíveis com microrganismos para uso em formulações encapsuladas de entomopatógenos e compatibilidade de adjuvantes para uso em formulações, realizada com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
O encapsulamento funciona como uma barreira de proteção aos conídios contra fatores externos, como radiação ultravioleta, temperatura, microrganismos concorrentes e oxidação, entre outros.
A ideia surgiu quando os pesquisadores identificaram a ausência de uma formulação de entomopatógenos no mercado, sugerindo uma inovação com impacto no setor agroindustrial de bioinseticidas em alternativa ao uso de agroquímicos.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2010 a América Latina participava com 22% do consumo na divisão do mercado de agroquímicos mundial, sendo o Brasil detentor de 19% dessa participação no mundo.
Estudos realizados entre o 2° semestre de 2010 e o 1° de 2011 revelaram que o país produziu 96 mil toneladas de agroquímicos.
De acordo com os pesquisadores, os produtos do mesmo segmento atualmente em comercialização não são formulados e utilizam os fungos in natura, sem o revestimento por uma camada de polímero, o que aumentaria sua viabilidade comercial sem comprometer sua virulência e seu poder de controle.
Outro diferencial da inovação em relação aos inseticidas biológicos convencionais é o ganho de estabilidade com um período de armazenamento superior a um ano em temperatura ambiente, importante para a produção, o estoque, a distribuição e o uso desse tipo de produto, permitindo ao agricultor efetuar a pulverização a qualquer momento, independente das condições climáticas.
Dessa forma, entre as vantagens da tecnologia estão a melhoria na eficiência da aplicação de fungos entomopatogênicos, a proteção dos conídios de efeitos deletérios abióticos e bióticos, o fato de ser patogênico aos insetos-alvo e a possibilidade de armazenamento sem a necessidade de consumo de energia.
Para estar disponível no mercado, a próxima etapa será a colocação do produto em escalonamento comercial.
Os pesquisadores estimam estudos sobre as técnicas agrícolas mais adequadas para aplicação em campo, bem como a verificação da ação sobre um maior número de pragas e culturas.
A expectativa é que a invenção atraia o interesse de indústrias do agronegócio, principalmente as que produzem e comercializam inseticidas biológicos e sintéticos.
Além de Inajá Marchizeli Wenzel Rodrigues, participam das pesquisas Moacir Rossi Forim, João Batista Fernandes e Maria Fátima das Graças Fernandes da Silva, do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET) da UFSCar, e Antonio Batista Filho, do Instituto Biológico.