hidrogênio (vitroid/Flickr)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2013 às 07h25.
Um grupo de cientistas associados ao Deep Carbon Observatory (DCO) anunciou neste domingo (8) o descobrimento de um novo método para a produção barata de hidrogênio sem necessidade de hidrocarbonetos, fato que pode revolucionar o setor energético.
Os cientistas disseram que copiaram e melhoraram o processo pelo qual a natureza produz o hidrogênio e que conseguiram produzir o elemento simplesmente combinando água com minerais a temperaturas de entre 200 e 300 graus centígrados.
O processo, descoberto por três pesquisadoras da Universidade francesa Claude Bernard Lyon 1, produz hidrogênio duas vezes mais rápido que os experimentos atuais e sem o consumo de hidrocarbonetos.
O hidrogênio está começando a ser utilizado como combustível em automóveis que não geram dióxido de carbono com a esperança de que no futuro substitua o petróleo.
Este processo, que será apresentado pelas cientistas do DCO na reunião da Associação Geofísica dos Estados Unidos realizada de 9 a 11 de dezembro em São Francisco, além disso produz hidrogênio até 50 vezes mais rápido que na natureza.
A pesquisadora Muriel Andreani disse à Agência Efe que, na atualidade, 95% da produção industrial de hidrogênio é feita utilizando hidrocarbonetos, o que contribui para emissão de gases com efeito estufa.
"O que estamos propondo é um método livre de carbono, simplesmente utilizando água e minerais para o núcleo da reação. E para acelerá-la, pode utilizar energia solar ou eólica", explicou a cientista.
Os pesquisadores utilizaram um instrumento microscópico de alta pressão denominado cela de bigorna de diamante no qual combinaram óxido de alumínio, água e um mineral chamado olivina.
Com esta receita, a uma temperatura de entre 200 e 300 graus e uma pressão de 2 bar, a equipe conseguiu produzir hidrogênio a grande velocidade e de forma mais barata que os métodos tradicionais.
Na natureza, o mecanismo para a produção de hidrogênio é simplesmente o contato da água com olivina no subsolo.
O professor da Universidade Rockefeller e fundador do programa DCO, Jesse Ausubel, explicou à Agência Efe que "o que é extremamente interessante no descobrimento é o papel do alumínio como catalisador da reação".
"Durante os últimos 40 anos se esteve buscando catalisadores que produzam hidrogênio e utilizaram elementos como bromo, iodo e inclusive mercúrio. Este descobrimento nos possibilita produzir grandes quantidades de hidrogênio com uma tecnologia muito menos complicada e um mineral muito habitual", acrescentou Ausubel.
Mas o trabalho das pesquisadoras do DCO também abre a porta para outra fascinante possibilidade: a existência, no passado ou o presente, de vida em outros planetas do sistema solar.
A pesquisadora Isabelle Daniel, que junto com Andreani e Marion Pollet-Villard descobriram o processo, disse à Efe que o hidrogênio é o combustível do qual se alimentam os micróbios que existem no subsolo a grandes profundezas da superfície terrestre.
"O hidrogênio é fundamental para os microorganismos nas profundezas terrestres. E a produção de hidrogênio no subsolo pelo contato de olivina com água explica a abundância de vida no subsolo", disse Daniel.
"Mas a olivina é também um mineral que se encontra na maioria dos planetas do sistema solar. Tão breve a olivina entra em contato com água, produz hidrogênio. E o hidrogênio é o alimento para microorganismos", acrescentou a cientista.
O diretor-executivo do DCO, o cientista Robert Hazen, destacou que, três anos depois do início do projeto para descobrir o funcionamento do interior da Terra e o papel do carbono, os cerca de mil cientistas que colaboram no programa estão produzindo os primeiros resultados significativos.
"Somos muito ambiciosos", disse Hazen, que acrescentou que "este novo descobrimento sobre o hidrogênio toca todos os aspectos nos quais trabalha o DCO: a vida em grandes profundezas, o fluxo de carbono desde o interior do planeta, a geração de energia nas profundezas e a física e química extremas do carvão".
Ausubel acrescentou que o trabalho da DCO, cujo objetivo é realizar uma década de pesquisa, produzirá outras "ideias radicais" nos próximos anos sobre a origem da vida e o futuro do planeta.