Tecnologia

Cidades mantêm erros do século 20, diz pesquisadora do clima

Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz critica ausência de projetos para preservar áreas verdes no Rio de Janeiro, cuja temperatura deve subir 3,4Cº até 2080


	Termômetro: temperatura deve subir 3,4Cº no Rio de Janeiro e 3,9Cº em São Paulo até 2080
 (Τϊζζ¥/Creative Commons/Flickr)

Termômetro: temperatura deve subir 3,4Cº no Rio de Janeiro e 3,9Cº em São Paulo até 2080 (Τϊζζ¥/Creative Commons/Flickr)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2015 às 15h20.

Brasília - Apesar de responsáveis por 70% das emissões de gases do efeito estufa, que elevam a temperatura da Terra, as cidades caminham lentamente para se tornar sustentáveis.

No Rio de Janeiro, obras de aterros agravam o cenário e podem elevar os impactos da alteração do clima, como a transmissão de doenças, problemas de saúde e desastres naturais.

O alerta é do Núcleo Latino-americano da Rede de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, lançado esta semana, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com instituições de pesquisa internacionais. A entidade reúne 600 cientistas de 150 países e apresentará na Conferência do Clima, em Paris, relatório sobre os impactos que já estão ocorrendo.

Segundo o documento, no Rio a previsão é que a temperatura suba 3,4 graus Celsius (Cº) até 2080, com aumento de 82 centímetros do nível do mar e 6% no volume de chuvas. Em São Paulo, as chuvas podem subir 13,9% e a temperatura ser elevada em 3,9% – dentro da média prevista para as demais cidades do planeta, que terão entre 1º C e 4º C de aumento.

Um das autoras da publicação, a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Cecilia Herzog, alerta que, no Rio, novas edificações, que suprimem áreas naturais, somadas à ausência de projetos para preservar e potencializar áreas verdes, desprezam evidências científicas dos riscos à população.

“Nesse momento, na zona oeste, na Barra da Tijuca, áreas para acomodar águas (de chuva e das marés, por exemplo) estão sendo aterradas violentamente nesse momento. Ou seja, apesar das evidências, estamos repetindo os erros de século 20”, alertou.

Ela criticou também a construção do novo autódromo da cidade, em substituição ao que será demolido para dar lugar ao Parque Olímpico, na zona oeste, e previsto para ser erguido pelo governo federal em área de floresta. Por falta de licença ambiental, a obra está parada.

Mudanças do clima traz doenças

Nas cidades, as mudanças do clima, além de descontrolar a temperatura, provocam problemas de saúde e doenças. Tempestades e inundações são responsáveis por ferimentos, infecções, casos de hepatite, leptospirose e diarreia, por exemplo, constatou o relatório do núcleo.

Em cidades temperadas, o calor aumenta o número de insetos e mosquitos transmissores de doenças como dengue e malária, acrescentou a pesquisadora da Fiocruz Martha Barata, que coordena o Núcleo Latino-americano da Rede de Pesquisas. Segundo ela, mudanças no clima geram estresse, alergias e doenças cardiorrespiratórias.

A recomendação dos especialistas é reduzir a emissão de gases do efeito estufa, principalmente da queima de combustíveis, o vilão nas cidades, além de se investir em projetos que reduzam impactos desastres, entre eles a criação de parque e tetos verdes nos prédios. 

“ São estratégias que facilitam a absorção de água da chuva, retem a umidade do ar, combatendo efeitos como ilha e calor e capturando o gás carbônico”, explicou Cecilia Herzog.

A pesquisadora apresentou experiência inovadora em Seattle, nos Estados Unidos, onde um estacionamento foi substituído por um parque. “Havia um córrego canalizado – que é o que mais temos no Rio – para um estacionamento. A cidade acabou com o estacionamento e criou um parque, uma área de lazer, permitindo novos ecossistemas. É a volta à vida.”

Cidades mais resilientes

Conforme a prefeitura do Rio, a cidade está em transição e as mudanças são graduais . Especialistas listam experiências inéditas no país, como o veículo leve sobre trilhos, que retirará ônibus das ruas, e a implantação de sirenes de alerta em áreas de risco de deslizamento em favelas. Outro destaque é a construção de reservatórios para evitar alagamentos em áreas centrais.

“ Por conta do piscinão [contra enchentes] na Praça da Bandeira, o Rio está incluído na relação de práticas bem-sucedidas entre as grandes cidades do mundo”, lembrou Rodrigo Pessoa, assessor do prefeito Eduardo Paes para o tema. “As questões que o Rio enfrenta (transporte e revitalização de áreas degradadas) outras cidades também enfrentam. Não estamos atrás.”

Cidades na Conferência do Clima

Na Conferência do Clima, as experiências do Rio e de Seatle serão apresentadas em encontro paralelo, junto com a de Oregon, também nos EUA, que instalou luzes LED (mais econômicas) em espaços públicos, e a de Paris, que, assim como São Paulo, amplia zonas com a redução da velocidade dos carros para reduzir a emissão de gases dos combustíveis.

“ As cidades precisam começar agora a identificar áreas de risco e planejar ações sustentáveis. Não há como impedir as mudanças climáticas, mas minimizar o impacto, o que é urgente”, afirmou a cientista Cynthia Rosenzwig, uma das diretoras globais da rede.

Acompanhe tudo sobre:CidadesClimaEfeito estufa

Mais de Tecnologia

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble

Apple se prepara para competir com Amazon e Google no mercado de câmeras inteligentes