Repórter
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 08h18.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2025 às 08h20.
Em um mercado onde crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) ainda depende de bancos tradicionais e garantias difíceis de oferecer, a CashU decidiu ir na contramão. A fintech, que começou oferecendo inteligência para avaliação de risco, percebeu que o verdadeiro diferencial não estava apenas em prever inadimplência — mas a capacidade que teria de assumir o risco e bancar as transações entre indústrias, distribuidores e pequenos varejistas. A startup agora dá mais um passo para consolidar essa aposta com o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 100 milhões, estruturado com o Itaú BBA e o grupo japonês Crédit Saison.
O objetivo da fintech é agressivo: viabilizar R$ 1 bilhão em crédito para PMEs até o fim de 2025. “Nosso modelo de crédito proprietário é dez vezes mais preciso do que os métodos convencionais usados pelo mercado”, afirma Thiago Saldanha, CEO e cofundador da CashU. “Agora, além de estruturar a análise, conseguimos financiar diretamente o crescimento dessas empresas, sem depender exclusivamente de parceiros financeiros.”
A fintech se posiciona em um nicho ainda pouco explorado no Brasil. Enquanto o crédito digital B2C já representa 15% do mercado, no B2B, essa penetração ainda está em apenas 2,5%. “Estamos falando de uma oportunidade gigantesca e de um segmento que ainda opera de forma analógica. O crédito para PMEs funciona quase como há 20 anos: ou você tem garantias para oferecer, ou não consegue financiamento”, diz Saldanha.
O modelo da CashU não nasceu do acaso. A ideia começou a ser gestada em 2019, quando Saldanha e Yuri Fonseca, cofundador e Chief AI Officer da empresa, estudavam em Columbia, nos Estados Unidos. “A gente tem esse privilégio de muitas vezes conseguir ler o jornal de amanhã quando estamos em um ecossistema desenvolvido como o americano”, lembra Saldanha. “Ficou claro que a próxima grande revolução no crédito B2B passaria pelo uso intensivo de inteligência artificial.”
Na volta ao Brasil, o desafio foi testar se essa tese funcionaria na prática. Os fundadores começaram com projetos-piloto para entender os gargalos do crédito para PMEs. Desenvolveram soluções para um banco de fomento e para um dos maiores multisellers do país — e perceberam que não bastava apenas refinar a análise de risco. O real diferencial seria oferecer o crédito diretamente ao varejista, eliminando as barreiras do sistema financeiro tradicional.
A fintech iniciou sua operação com um modelo mais conservador, sem assumir risco diretamente. Mas, à medida que testava suas soluções, ficou evidente que só haveria escala real se a empresa também financiasse os clientes. Em 2021, captou R$ 6,1 milhões em sua rodada seed. Desde então, cresceu exponencialmente e conquistou clientes como os três maiores marketplaces B2B do país, além de distribuidores e indústrias nos setores de alimentos, bebidas e higiene.
O crescimento médio da originação de crédito tem sido de 32% ao mês. “Conseguimos provar nossa capacidade de originar crédito dentro da cadeia de fornecimento. Agora, com o FIDC, temos um motor de crescimento próprio”, afirma Saldanha.
O diferencial da CashU está em transformar dados que os bancos tradicionais ignoram em variáveis preditivas para crédito. Conectada a indústrias e distribuidores, a fintech analisa mais de 1.500 variáveis comportamentais para determinar qual varejista tem capacidade de pagamento — e quanto crédito ele precisa para crescer sem risco excessivo.
“Eu conheço o problema do crédito do lado de quem já tomou crédito. A gente sabe que, para um pequeno varejista, a única opção acessível é a antecipação de recebíveis do cartão. Mas se ele não tem uma maquininha, ou um ativo para dar como garantia, ele simplesmente não consegue financiamento”, diz Saldanha. “O que fazemos calibrar a concessão para que ele consiga crescer de forma sustentável, sem se endividar demais.”
A tecnologia da fintech permite que a concessão seja feita em tempo real, diretamente no checkout das compras feitas por PMEs nos marketplaces e distribuidores parceiros. O varejista não precisa ir até um banco, negociar taxas ou preencher burocracias: o crédito é concedido no momento da compra, de forma integrada ao fluxo de pagamentos da indústria.
Com o novo FIDC, a CashU quer expandir rapidamente suas operações. A meta é chegar a R$ 100 milhões em concessões mensais até o fim do ano, mantendo parcerias com outras instituições financeiras, mas também com capital próprio para impulsionar esse crescimento.
A fintech também avalia novas captações no futuro, conforme seu modelo ganha tração. Diferente de outras startups que cresceram a qualquer custo e depois enfrentaram dificuldades, a CashU apostou desde o início em um modelo sustentável. “A entrada de players como Itaú e Crédit Saison elevou o nível de governança da empresa. No processo de captação, realizamos testes com os maiores bancos do mercado e atestamos a superioridade dos nossos modelos", conta. Tal aprovação, foi um reconhecimento essencial para a CashU.