Bitcoin: moeda ainda não é aceita em larga escala no comércio brasileiro (Flickr.com/zcopley)
Victor Caputo
Publicado em 26 de maio de 2014 às 11h59.
São Paulo – Enquanto estudava na Singularity University, no Vale do Silício, o pernambucano João Paulo Oliveira ganhou algumas bitcoins (uma moeda virtual) em forma de um cartão. Ele ficou encostado e as moedas nunca foram usadas.
De acordo com Oliveira, aqui no Brasil é praticamente impossível usar as moedas para fazer compras ou realizar pagamentos. As empresas de comércio ainda não têm tecnologia para que ela possa ser usada como moeda de pagamento por compras.
De volta ao Brasil, em agosto de 2013, ele começou um negócio usando a tecnologia. Fundou a PagCoin, startup que busca dar mais espaço às bitcoins aqui no país e da qual é CEO. A PagCoin é uma plataforma de pagamentos para empresas de comércio eletrônico.
Segundo Oliveira, aceitar pagamentos em bitcoin cortará custos em transações. Enquanto que um pagamento usando cartões de crédito consome até 5% em taxas, a PagCoin pedirá apenas 1% do dinheiro pago à empresa vendedora.
O papel da PagCoin é simples. Com um sistema integrado, o comprador efetua o pagamento em bitcoins (no valor equivalente em reais da compra) à PagCoin. A empresa então repassa o valor à loja eletrônica em reais.
“O processo de compra e venda de bitcoins não é familiar para o dono de uma loja eletrônica. Ele não quer se envolver com isso, não é parte do seu trabalho e ele talvez não tenha tecnologia para isso. Então nós queremos assumir esse espaço”, afirma Oliveira.
Para isso, a PagCoin conseguiu investimento de 200 mil reais (não bitcoins). Parte foi investida pela aceleradora Wayra e parte foi obtida pelos fundadores da empresa.
Apesar de tudo, a moeda virtual ainda é um pouco misteriosa. No Vale do Silício (onde as inovações surgem) ela já é mais aceita. “O Vale acredita no bitcoin como algo viável”, diz Oliveira. Por lá, lojas já aceitam pagamentos usando a moeda virtual.
Enquanto isso, por aqui tudo vai muito mais devagar. A maior parte dos casos conhecidos é de profissionais autônomos. Taxistas já fizeram transações usando a moeda virtual. Lola Benvenutti, uma garota de programa de São Paulo, afirma que cogita aceitar bitcoins como forma de pagamento. Mas são casos isolados.
“O objetivo do bitcoin não é substituir o real ou o dólar. Ele será apenas um novo método de pagamento que pode ser útil para trocas entre pessoas e modelos de negócios que ainda não conseguimos imaginar”, divaga Oliveira.
O bitcoin é uma moeda já aceita no Brasil. O Banco Central regulou o uso de moedas virtuais e, a partir de 2014, foi preciso declarar bitcoins no imposto de renda.
“Não existe nenhuma questão legal em aberto sobre o assunto. Qualquer site que aceite trabalhar com bitcoins não terá gastos extras nem complicações legais por causa disso”, afirma Emanuel Pessoa, diretor Jurídico da PagCoin.
Uma das únicas complicações para usar o bitcoin de forma ampla é a oscilação em seu valor. Em 2013, a cotação da moeda variou muito. Em abril, cada bitcoin valia 47 dólares. Em dezembro, cada moeda já era cotada em 1.150 dólares. Nesse caso, sorte de quem comprou.
Hoje, a moeda está cotada em aproximadamente 524 dólares. Para quem comprou em dezembro do ano passado, realizar uma compra nesse momento, usando bitcoins, é um péssimo negócio.
O que se viu até agora é o uso da moeda muito mais como se fosse ações de alguma empresa. Negociadores trabalham com as altas e baixas da moeda para ganhar dinheiro.