Apesar da linguagem de sinais - a Libra, no caso do Brasil - a dificuldade na comunicação entre surdos e ouvintes é grande (Julia Freeman-Woolpert/ Stock Exchange)
Gabriela Ruic
Publicado em 2 de abril de 2012 às 16h45.
São Paulo – Pessoas que jamais tiveram problemas com a audição jamais poderão compreender a barreira comunicacional que divide os ouvintes dos surdos. Mesmo com uma linguagem de sinais específica e bem estabelecida, a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), as dificuldades de comunicação permanecem como obstáculo para o relacionamento entre os que vivem no silêncio e quem escuta.
E foi observando a dificuldade de um colega de classe surdo, Marcelo Amorim, que os estudantes de Ciência da Computação Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - João Paulo Oliveira, Lucas de Araújo Mello Soares, Amirton Chagas, Flavio Almeida e Daniel Ferreira– tiveram a ideia de desenvolver uma ferramenta de tecnologia que facilitasse a comunicação entre o grupo.
Nascia, em 2010, o Prodeaf, um aplicativo que assume o papel de intérprete de português e LIBRAS, através de um avatar. “A intenção é transformá-lo em uma plataforma e que possa ser usado em qualquer cenário”, explica João Paulo, hoje diretor de negócios da startup Proativa, criada em sociedade com o grupo para o desenvolvimento do Prodeaf.
Ideia
O projeto partiu do pressuposto de que nem sempre um surdo tem um intérprete ao seu lado e, por isso, precisa de uma ferramenta portátil e fácil de usar e que permita que ele se comunique com ouvintes. E é assim que chegaram ao conceito de que o Prodeaf deveria ser um aplicativo para smartphone, acessível por qualquer sistema operacional.
De acordo com João e Lucas, com o app é possível que um surdo se aproxime de qualquer pessoa para pedir uma informação, por exemplo. Com a câmera do aparelho, o surdo registra os sinais em LIBRAS e o sistema então os converte em áudio. Para responder, basta que o ouvinte fale com o app, que irá então representá-lo, via avatar no display.
Mas não é apenas na comunicação ao vivo que o aplicativo surpreende. O seu uso, explicam, pode ser estendido para ligações telefônicas. “Enquanto o surdo se comunica via gestos, o app os transformará em voz. Na outra ponta da ligação, o ouvinte terá sua resposta convertida em sinais”, finaliza João.
Outra boa notícia é que o Prodeaf está em vias de ser colocado em testes com um grupo de surdos de associações parceiras do projeto, como a Associação de Surdos de Pernambuco, por exemplo. “A intenção é disponibilizar em caráter de teste para usuários em até dois meses”, afirma João Paulo.
O grupo ainda está à procura de patrocinadores para que a produção do Prodeaf possa ser feita em grande escala, mas preveem que o lançamento da ferramenta para o público geral possa acontecer já em 2013. “Estamos entusiasmados com o projeto e também com o fato de termos conseguido quebrar essa barreira que divide os surdos dos ouvintes, nos sentimos importantes”, brinca Lucas.
O entusiasmo não ficou reservado apenas aos jovens e aos grupos de surdos parceiros do projeto. No ano passado, o Prodeaf recebeu reconhecimento internacional ao ficar no segundo lugar mundial da Imagine Cup 2011 da Microsoft. O desafio proposto pela edição passada era imaginar soluções tecnológicas que pudessem ajudar a resolver problemas mundiais. E, ao que parece, os meninos de Pernambuco absorveram perfeitamente a ideia da competição estudantil.