Juliana Ferreira (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2014 às 06h10.
Uma das principais vozes no Brasil contra o tráfico de animais silvestres acaba de receber um grande reconhecimento pelo seu trabalho da mais importante e conhecida publicação internacional sobre o meio ambiente.
A pesquisadora, doutora em biologia genética e diretora executiva da Freeland Brasil, Juliana Machado Ferreira, foi escolhida com outros trezes jovens do mundo inteiro como Emerging Explorer 2014 da National Geographic Society. Segunda a entidade, as pessoas que recebem este título são cientistas, contadores de histórias e inovadores. O programa investe e apoia estes jovens que, de acordo com a publicação, são os visionários do amanhã: realizando descobertas, fazendo a diferença e inspirando pessoas a cuidar do planeta.
A brasileira também é uma TED Senior Fellow, integrante da famosa comunidade de palestrantes de destaque do mundo inteiro.
Juliana acaba de voltar de Washington D.C., capital dos Estados Unidos, onde recebeu o título e conheceu os demais Emerging Explorers deste ano. Conversamos com ela e nesta entrevista a pesquisadora nos conta sobre a importância da nomeação e os projetos com que está envolvida no momento.
Foi uma surpresa receber a nomeação da National Geographic?
Foi. Eles me procuraram no final do ano passado comunicando que eu havia sido selecionada. Alguém tinha indicado meu nome e depois disso um comitê de análise escolheria os quatorze finalistas. O processo incluiu algumas entrevistas por skype.
O que é exatamente o programa Emerging Explorer?
A National Geographic tem outro programa chamado National Geographic Explorers, com pessoas muito importantes que já fizeram grandes contribuições para o planeta, como a pesquisadora e ativista pelos oceanos Silvia Earle e o antropólogo Lee Berger. E a National acredita que os Emerging Explorers serão os futuros National Explorers. Eu me tornei bióloga por causa do Jacques Cousteau e da Jane Goodall. Eles imaginam que daqui a alguns anos outras pessoas vão se tornar biológas por causa da gente. A National aposta que seremos responsáveis por grandes pesquisas, alterações nos nossos respectivos campos de trabalho, vamos causar mudanças importantes.
Qual a sensação de receber este título?
É uma honra fenomenal. Quando eles anunciaram e chamaram no palco em Washington os emergentes, foi muito legal. Na plateia havia muitas pessoas da National Geographic que eu admiro e elas estavam nos aplaudindo de pé. Foi uma sensação incrível para quem cresceu lendo a revista, cresceu assistindo documentários de Jacques Cousteau e Jane Goodall.
A partir de agora, o que muda na sua vida profissional?
Segundo eles, agora fazemos parte da família National Geographic Society. Quando eu estava em Washington, fui apresentada a diversos setores deles: televisão, revistas, educação, crianças, conteúdo digital. Tive reuniões com eles e vi formas de colaborar e como eles podem me ajudar a dar luz às questões com as quais trabalho. Um dos meus colegas do Emerging Explores é um cara incrível e acabou de encontrar um esqueleto de dinossauro, único no mundo. Ele já vai colaborar com um especial para a revista de setembro e para a televisão. É um trabalho que dará notoriedade para todos nós e também contribuirá para o conteúdo da National.
Haverá colaboração também entre o próprio grupo?
Sim, pretendo colaborar já com uma das minhas colegas do Emerging Explorers. Estamos planejando que no ano que vem ela venha passar um mês aqui no Brasil. O programa também espera isso de nós, que sejamos um grupo coeso.
E como anda sua participação no TED?
Todos os fellows têm acesso a um grupo privado numa rede social, onde nos ajudamos, colocamos questões, pedimos colaborações. Há uma rede de contato superforte e poderosa. As pessoas são muito pró-ativas e isso auxilia na hora de conseguir indicações. Na prática, funciona de verdade! Estive num encontro com eles no ano passado no Canadá e vou encontrar novamente o grupo no próximo TED Global no Rio de Janeiro, em outubro.
Como a participação na comunidade auxiliou sua carreira?
Minha vida virou, mudou completamente de uma maneira muito positiva. Tive um enorme amadurecimento pessoal e profissional. Pessoalmente, me tornei uma cidadã do mundo. Profissionalmente, aprendi muito e amadureci meu trabalho. Antes ele era menor e mais localizado, hoje é mais amplo. De um doutorado em genética, atualmente faço colaborações internacionais para mudar a maneira como se trabalha o tráfico de animais silvestres de forma regional na América do Sul. Acabei de ter reuniões no Departamento de Estado e Justiça Americanos para tecer colaborações e fazer com que o trabalho tenha um impacto muito maior. E isso foi sobretudo graças ao TED, que me mostrou que eu precisava ampliar meu estudo. Ter uma palestra no TED é um cartão de visitas fenomenal. Fiz a palestra em 2010 e ainda hoje recebo emails de pessoas sobre ela.
E com quais projetos você está envolvida atualmente?
Na Freeland Brasil, uma organização que iniciei há uns dois anos, estamos colaborando com a realização de um documentário de uma produtora brasileira sobre o tráfico de animais silvestres no país. Também estou trabalhando junto com uma aluna continuando a pesquisa que fiz no doutorado. Ela está estudando o DNA de uma espécie de pássaro brasileiro muito explorado no tráfico. Estou ainda trabalhando muito na organizarção de um workshop para discutir a questão do tráfico de animais silvestres no Brasil com procuradores de todos os estados brasileiros e de diversos países da América do Sul, em colaboração com a Dr. Vânia Tuglio, do Ministério Público do Estado de São Paulo. Pretendemos lançar uma força tarefa nacional e tecer uma carta de intenções sobre como podemos colaborar de maneira mais forte multinacionalmente com ações efetivas contra o tráfico de animais silvestres na região.