Poluição (Str/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2014 às 10h30.
Desde 2004, os agricultores e criadores de gado do Brasil protegeram da poda o equivalente a 14,3 milhões de campos de futebol, uma diminuição de 70% no desmatamento na Amazônia brasileira, segundo um artigo publicado nesta quinta-feira pela revista "Science".
"O Brasil é um dos favoritos para ganhar a Copa do Mundo, mas também é campeão do mundo na mitigação da mudança climática", segundo afirmou Daniel Nepstad, autor principal do estudo e diretor do Instituto de Inovação para a Terra.
A diminuição no desmatamento evitou a emissão à atmosfera de 3,2 bilhões de toneladas de dióxido carbono, e em apenas 2013 representou uma redução de 1,5% nas emissões globais.
Mas a continuidade destes avanços não está assegurada: com o aumento da demanda de soja e carnes, a poda de florestas maduras começou a subir novamente, com um aumento de 28%, advertiram os pesquisadores.
A pesquisa, na qual participam 17 economistas e cientistas dos Estados Unidos e Brasil, chegou à conclusão de que a "combinação de audazes políticas públicas, a rejeição no mercado dos agricultores desmatadores, e o aumento das áreas protegidas da poda não impediu que crescesse a produção de soja e carne no país".
A poda de florestas maduras diminuiu de uma média de 19,5 mil quilômetros quadrados anuais na década até 2005, a 5.843 quilômetros quadrados em 2013, segundo o relatório.
"Esta redução no desmatamento pode ter iniciado uma sequência de impactos positivos, incluindo um risco menor de inibição das chuvas regionais, menos mudanças na sedimentação dos rios e uma maior conservação da biodiversidade", acrescentou.
Em grande medida a desaceleração no ritmo da poda de florestas na Amazônia brasileira foi o resultado da decisão de milhares de fazendeiros e especuladores que desde 2004 optaram por desmatar menos a floresta.
O estudo assinala que entre fins da década de 1990 e 2004 o desmatamento amazônica, especialmente no Estado do Mato Grosso -o maior produtor agropecuário do Brasil- aumentou devido aos bons preços da soja e da carne bovina nos mercados mundiais.
Mas desde 2004 a tendência mudou e "há uma urgência por achar a fórmula mágica em todos os esforços diferentes", indicou Toby McGrath, um dos autores do estudo.
A pressão pública inicial vinha do grupo ambientalista Greenpeace e isso fez com que para os agricultores fosse embaraçoso estar vinculados com o desmatamento.
Após prolongadas negociações, a maioria dos compradores de soja da Amazônia se uniu para adquirir o grão só de terras abatidas antes de 2006 e isso fez com que os agricultores cultivassem a terra de maneira mais produtiva ao invés de estender a superfície cultivada.
Em 2008, o governo iniciou um programa pelo qual os agricultores e criadores de gado de distritos inteiros ficaram privados de crédito agropecuário se suas áreas tivessem elevadas taxas de desmatamento.
"A verdade é que o governo não pode atribuir o êxito por si só, o Greenpeace também não e nem as companhias responsáveis", acrescentou. "O que funcionou foi a mistura de tudo isso".
O Brasil obteve uma promessa da Noruega que fornecerá até US$ 1 bilhão em incentivos para que os compradores internacionais recompensem os esforços dos produtores agropecuários na limitação da poda amazônica.