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Batalha contra notícias falsas leva Facebook ao banco dos réus

O Google e o Facebook tomaram medidas na semana passada para reduzir os investimentos publicitários nas páginas de notícias falsas

Facebook: algumas pessoas exigem que se considere o Facebook como uma empresa midiática com responsabilidade editorial (Sean Gallup/Getty Images)

Facebook: algumas pessoas exigem que se considere o Facebook como uma empresa midiática com responsabilidade editorial (Sean Gallup/Getty Images)

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AFP

Publicado em 22 de novembro de 2016 às 18h28.

A batalha contra as informações falsas, que podem ter contribuído para a vitória do republicano Donald Trump, se agrava nos Estados Unidos e exerce uma pressão particularmente forte sobre o Facebook, apesar de Twitter e Google também estarem sob escrutínio.

O Google e o Facebook tomaram medidas na semana passada para reduzir os investimentos publicitários nas páginas de notícias falsas.

Mas algumas pessoa querem mais: exigem que se considere o Facebook como uma empresa midiática com responsabilidade editorial, uma denominação que a rede social até agora se recusa a incorporar.

"Eles estão no mesmo negócio que a maioria dos meios de comunicação, os quais geram audiência e utilizam isso para vender publicidade", considera Gabriel Kahn, um ex-jornalista que dá aulas na Universidade da Califórnia do Sul.

De acordo com Kahn, ao se apresentar como uma plataforma "neutra", o Facebook "permite que o ecossistema midiático se contamine" com notícias falsas.

Margaret Sullivan, com um coluna dedicada aos meios de comunicação no Washington Post, sugeriu que o Facebook "deveria contratar um editor-chefe de alto nível e dá-lo os recursos, poder e equipe para tomar decisões editoriais sólidas".

Elad Gil, um empresário do setor tecnológico, acredita que para uma empresa com a experiência técnica do Facebook não deveria ser tão difícil determinar se um artigo é enganoso.

"Surpreendentemente, um grupo de estudantes de Princeton foi capaz de criar com muita rapidez um classificador de informações falsas durante uma hackathon (maratona de hackers) de 36 horas", uma competência entre programadores, assinalou Gil em uma publicação em seu blog.

"Juízes da verdade"

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, se comprometeu a intensificar os esforços para eliminar as notícias falsas, com uma "detecção reforçada", tornando mais simples o procedimento para que os usuários alertem sobre elas e uma "verificação por terceiros", como por exemplo "organizações respeitadas de checagem de fatos".

Entretanto, Zuckerberg pediu prudência.

"Os problemas são complexos, tanto técnica como filosoficamente", argumentou na semana passada em uma mensagem publicada na rede. "Acreditamos em dar voz às pessoas. (...) Não queremos ser os juízes da verdade".

Dan Kennedy, professor de Jornalismo na Universidade do Nordeste, considera que é importante distinguir entre os sites "pega-clique", que foram descobertos na Macedônia e apenas buscam ganhar dinheiro com informações sensacionalistas falsas, e portais de notícias com motivações políticas.

"Penso que o Facebook poderia fazer muitas coisas para lutar contra as informações falsas e acredito que isso seja algo que todos concordam, mas se tratam de atacar os sites com motivações ideológicas, inevitavelmente serão presas das guerras culturais", adverte.

Classificar ou censurar?

Em um contexto de crescente desconfiança do público com os meios de comunicação do establishment, qualquer tentativa de filtrar as vozes divergentes poderia "levar a uma volta de velhas polêmicas sobre a parcialidade dos meios", acrescentou Kennedy.

Scott Shackleford, editor da revista Reason, considera difícil traçar uma linha entre o que foi filtrado da informação falsa e da censura de conteúdo com motivações ideológicas: "Se o Facebook tomar a decisão de censurar as 'notícias falsas', inclinaria a balança a favor dos mais 'poderosos' meios tradicionais".

Em um blog, Jeff Jarvis, professor de Jornalismo na Universidade de Nova York, e John Borthwick, empresário, consideraram que a solução deve passar por uma maior cooperação entre o setor tecnológico e o dos meios de comunicação para ajudar os usuários a avaliarem a credibilidade dos conteúdos.

"Não acreditamos que corresponda às plataformas julgar o que é verdadeiro ou falso (...) como censores de tudo", escreveram. Mas "é necessário que deem mais informação aos usuários e é necessário que os meios os ajudem".

Também sugerem às plataformas na internet que contratem jornalistas para "dar um sentido de responsabilidade pública a suas empresas" e "explicar o Jornalismo aos técnicos e a tecnologia aos jornalistas".

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