Amazon Echo: empresa de Jeff Bezos tem mais de 60% do mercado no segmento de caixa de som inteligente nos Estados Unidos (Amazon/Divulgação)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 21 de julho de 2020 às 14h44.
Última atualização em 21 de julho de 2020 às 15h46.
Até que ponto é possível manter uma relação emocional com seus computadores, celulares e outros dispositivos munidos de inteligência artificial? Para alguns homens, talvez não exista um limite tão bem estabelecido. Há quem esteja ficando cada vez mais íntimo de seus gadgets munidos por assistentes de voz.
Uma pesquisa realizada pela empresa We Vibe, que atua com a venda de brinquedos eróticos pela internet, revelou que 14% dos 1.000 internautas questionados admitem ter sentido atração pelo dispositivo controlado por voz da Amazon. Todos os entrevistados se identificam como sendo do sexo masculino.
Os resultados da pesquisa podem ser considerados um tanto enviesados. Afinal, o público ao qual o questionário se destinou já é ou teria interesse neste tipo de produto. Em uma pesquisa mais ampla e que considere apenas entrevistados que talvez tenham uma relação mais próxima com gadgets — eróticos ou não — os resultados podem ser menores.
Mas, de fato, as pessoas estão mais carentes durante a pandemia. O aplicativo Par Perfeito, por exemplo, registrou um aumento de 70% em sua base de usuários desde o início das políticas de isolamento social. Em junho, a plataforma de relacionamentos já contabilizava 30 milhões de usuários, com média de 500.000 novos entrantes por mês.
Desenvolvida pela Amazon em 2014, a Alexa foi lançada junto com o alto-falante inteligente Echo. É uma assistente de voz controlada por inteligência artificial semelhante à Siri, presente em iPhones e iPads. Ela está disponível em todos os alto-falantes inteligentes da Amazon e tem uma versão compatível com o sistema operacional Android.
Assim sendo, ela não é e nunca será uma pessoa. Por outro lado, ela é gerenciada por pessoas reais que podem muito bem escutar o que é captado por seus microfones. Em 2019, a Amazon precisou explicar por que permitia que seus funcionários tivessem acesso às gravações de voz alheias realizadas pelos dispositivos.
Na ocasião, a companhia afirmou que o caso afetou um número “extremamente pequeno de interações de um conjunto aleatório de clientes para melhorar suas experiências.” A empresa também se defendeu dizendo que as informações capturadas são utilizadas para treinar os dispositivos de reconhecimento de afla e de compreensão de linguagem natural.
Não é um problema exclusivo da companhia de Jeff Bezos. A Apple também foi acusada de utilizar dados capturados pela Siri para realizar melhorias em seus serviços de voz. Em entrevista exclusiva para a EXAME, Thomas Le Bonniec, ex-funcionário da empresa, conta os detalhes da operação e os motivos que o levaram a denunciar a prática.
Uma paixão arrebatadora — para usar termos mais românticos — entre humanos e assistentes de voz robotizados pode ser considerada surpreendente no mundo real. O assunto, porém, já é um tema batido no universo artístico. Principalmente em Hollywood.
Há clássicos que vão desde Blade Runner (1982) até o Homem Bicentenário (1999). Mais recentemente, o longa-metragem Her (2013), de Spike Jones, explora como um escritor solitário (Joaquin Phoenix) de Los Angeles acaba se envolvendo de forma romântica com sua assistente de voz chamada Samantha. A obra foi contemplada com o Oscar de Melhor Roteiro Original.