Julian Assange adotou uma postura mais discreta após as polêmicas (Carl Court/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2011 às 13h48.
Londres - Julian Assange protestou nesta quinta-feira contra a publicação de sua "autobiografia não autorizada", mais um capítulo para a saga do fundador do WikiLeaks, atualmente em prisão domiciliar em uma mansão inglesa e cada vez mais isolado.
No final de dezembro, o australiano, no auge da fama após a publicação de milhares de documentos confidenciais diplomáticos pelo WikiLeaks, anunciou à imprensa a assinatura de um contrato de mais de um milhão de euros pela publicação de suas memórias em 2011.
"Será um livro muito pessoal", explicou através de seu editor na época. A pequena editora escocesa Canongate esperava apresentar "um dos documentos mais importantes de nossa geração".
Dez meses depois, nada vai bem: o livro foi lançado nesta quinta-feira nas livrarias contra a vontade do principal interessado, com um título que explica a degradação das relações com o editor: "Julian Assange: uma autobiografia não autorizada".
"Ao publicar este projeto contra a minha vontade, Canongate (...) traiu minha confiança", disse o australiano em um comunicado.
"Isso é oportunismo antigo: enrolar as pessoas para fazer dinheiro", indicou o campeão da transparência absoluta com o WikiLeaks, que não gosta de estar na posição defensiva.
Segundo o editor, o livro reproduz 50 horas de entrevistas com Assange. Elas foram realizadas na propriedade inglesa onde o australiano está em prisão domiciliar à espera da decisão sobre sua extradição pedida pela Suécia.
Assange não gostou da primeira versão que foi apresentada a ele, e afirmou que "escrever suas memórias é se prostituir". Dessa forma, ele tentou, em vão, anular o contrato em junho. Segundo a Canongate, Assange já tinha gasto o dinheiro para resolver seus problemas com a justiça.
Nesta autobiografia, Assange desmente mais uma vez as acusações feitas por duas suecas, que afirmam terem mantido relações sexuais com ele sem consentimento ou proteção em outubro de 2010.
"Eu posso até ser machista, mas nunca um estuprador (...) Essas duas mulheres tiveram relações sexuais comigo com pleno consentimento", afirma.
Assange, que sempre defendeu a teoria do complô, conta que soube por pessoas ligadas aos serviços secretos ocidentais que o governo americano, incapaz de levá-lo à justiça, procura "comprometê-lo".
O livro não é o primeiro sobre Julian Assange. Jornalistas dos jornais Guardian britânico e do New York Times, além de um ex-colaborador do WikiLeaks, escreveram sobre ele.
Mas somente esta nova obra esclarece o isolamento crescente em que ele se encontra após fazer os governos tremerem com revelações embaraçosas.
Seu site sofreu sérias críticas depois de publicar integralmente 251.287 documentos diplomáticos americanos sem excluir o nome das fontes.
Muitos jornais com os quais o WikiLeaks tinha parceria para difundir seus documentos se distanciaram.
Isolado em seu retiro inglês, adotando um perfil discreto em sua defesa contra a Suécia, Assange deixou as manchetes dos jornais.
Seu site encontra dificuldades para se financiar depois que as principais empresas de cartões de crédito, VISA e MasterCard, bloquearam as doações para o WikiLeaks no fim de 2010. As dificuldades financeiras chegaram ao ponto de ser necessário colocar "lembrancinhas" estampadas com WikiLeaks à venda no ebay para recolher fundos.