Tecnologia

As mil faces de Sabu, o chefe dedo-duro do LulzSec

Sabu nem sequer concluiu o ensino médio, mas era um hacker habilidoso que oscilava entre o ativismo político, a fraude financeira e o puro vandalismo

Hector Xavier Monsegur, o hacker Sabu, foi preso pelo FBI em junho de 2011 e ajudou a polícia a reunir provas contra seus companheiros do LulzSec  (Reprodução / th3j35t3r)

Hector Xavier Monsegur, o hacker Sabu, foi preso pelo FBI em junho de 2011 e ajudou a polícia a reunir provas contra seus companheiros do LulzSec (Reprodução / th3j35t3r)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 9 de março de 2012 às 14h45.

São Paulo — Sabu, o cérebro e líder por trás do grupo hacker LulzSec, é filho de um traficante de heroína e cuidava de duas meninas pequenas. Apesar de ser extremamente habilidoso com computadores, ele nem sequer chegou a concluir o ensino médio. Desempregado, dava golpes com cartões de crédito para sobreviver.   

O nome real de Sabu é Hector Xavier Monsegur. Aos 28 anos, ele tem um currículo de fazer inveja a qualquer hacker. Sob seu comando, o LulzSec invadiu servidores da CIA, do senado americano, de empresas que prestam serviços ao FBI, de vários governos e de corporações como a Sony. E tudo isso aconteceu em apenas sete semanas, no primeiro semestre de 2011.

Sabu nasceu em 1983. Seu pai, Hector Monsegur, foi preso em 1997 junto com sua tia Iris. Foram condenados a sete anos de prisão por tráfico de heroína, conta o New York Times ao traçar um perfil do hacker. Sabu, então, foi morar com a avó num conjunto habitacional do governo, em Nova York. Mas ela morreu alguns anos depois. Iris, libertada em 2003, continuou envolvida com drogas e voltou a ser presa em 2010. Nessa época, ela tinha duas filhas pequenas e Sabu passou a cuidar das duas meninas.

Primeiras invasões

Numa entrevista à revista New Scientist, em julho de 2011, Sabu disse que fez suas primeiras invasões na internet com 16 anos. Em 2010, passou a atuar no Anonymous, a anárquica federação de hackers e ativistas políticos da qual se desmembraria o LulzSec. No começo, ao que parece, a intenção era política. “A marinha americana estava usando a ilha Vieques, em Porto Rico, como alvo para exercícios de artilharia. Houve muitos protestos eu me envolvi. Ajudei as atrapalhar as comunicações da marinha”, disse ele à New Scientist.


Mas, em 2011, quando o LulzSec se tornou ativo, o objetivo político já havia sido deixado de lado. Lulz é uma corruptela de LOL, que, por sua vez, é a sigla de “laugh out loud”, algo como morrer de rir. A turma do LulzSec fazia questão de dizer que atacava governos e empresas de segurança só por diversão. Transcrições de conversas entre os membros do grupo em sites de chat deixam claro que Sabu era respeitado como líder pelos colegas.

Mas as atividades de Sabu também envolviam dinheiro. Desempregado, ele praticava fraudes digitais para viver. Sua confissão ao FBI inclui o relato de uma ocasião em que ele invadiu o servidor de uma distribuidora de peças para veículos. Sabu fez com que a empresa entregasse, a ele, três motores de  automóvel no valor de 3.456 dólares. Vizinhos disseram ao New York Times que ele chegou a se oferecer para melhorar os registros de crédito deles invadindo os servidores dos bancos.

A captura

Monsegur era bastante habilidoso ao apagar suas pegadas na internet, mas cometeu erros que permitiram sua identificação. Quem primeiro o encontrou foi uma ex-hacker, Jennifer Emick, que havia pertencido ao Anonymous. Ela sofreu ameaças por ter criticado algumas invasões do grupo e acabou se voltando contra ele. Em quatro horas, rastreou Sabu em servidores e sites de chat online e chegou a Monsegur e seus companheiros do LulzSec.

A informação foi passada ao FBI, que prendeu Sabu, secretamente, em junho. Os policiais, supõe-se, negociaram um acordo de delação premiada com ele. Enquanto ajudava o FBI a reunir provas contra seus companheiros, Sabu manteve seu disfarce muito bem. Aparentemente, nenhum hacker desconfiou da sua relação com a polícia. Até o última segunda-feira, Sabu ainda publicava frases contra a polícia e o governo no Twitter. “O governo federal é comandado por um bando de covardes. Não ceda a essa gente. Lute. Continue forte”, escreveu ele em um dos seus últimos posts.


Depois que sua atitude de dedo-duro se tornou pública, alguém comentou no Twitter: “São as famosas últimas palavras do homem que aceitou os 30 dinheiros do governo”. Sabu, aliás, fingia estar com medo de ser delatado. Em resposta a um tuíte de um colega, ele escreveu: “Então você está me dizendo que se for preso e seu vizinho barulhento que o dedurou continuar livre, vai ignorar simplesmente?”.

Prisão

Mas os colegas do Anonymous não o ignoraram. Na quarta-feira, alguns deles invadiram o site da Panda Security e deixaram, lá, uma mensagem para o ex-líder traidor. “Sim, sabemos que Sabu nos dedurou. Como sempre acontece, o FBI partiu para ameaças e disse que o separaria de seus dois filhos pequenos. Nós compreendemos, mas também somos sua família (lembra-se do que sempre dizia?)”. Em outra parte, o grupo escreveu: “É triste e nem conseguimos imaginar como é olhar todos os dias no espelho e ver o cara que vendeu seus amigos para a polícia”.

Agora, o hacker enfrenta acusações que podem levar à pena máxima de 122 anos de prisão. O que se espera é que essa pena seja reduzida em retribuição à sua colaboração com o FBI. Já seus companheiros presos nesta semana podem pegar até 10 anos na cadeia.

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