Apple Watch: o relógio e o iPhone e MacBook de ouro poderiam levar os consumidores a comprar outros acessórios do metal, segundo especialista (Divulgação / Apple)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2015 às 17h56.
Londres - Se existe alguém capaz de fazer com que as joias de ouro entrem na moda para americanos e europeus, esse alguém é a Apple Inc.
A demanda nos EUA, no Reino Unido e na Itália por bugigangas feitas desse metal caiu pela metade nos dez últimos anos, de acordo com dados do Conselho Mundial do Ouro compilados pela Bloomberg, pois os compradores deram preferência a metais de cor branca, como a prata e o platino.
Como a Apple é considerada uma espécie de juiz do que é interessante, o novo relógio de ouro de US$ 10.000 e o iPhone e o MacBook amarelos lançados pela empresa poderiam levar os consumidores a comprar outros acessórios de ouro, disse Neil Meader, consultor de metais preciosos da Metallis Consulting Ltd.
A Apple, que em seu anúncio diz que o ouro é “um luxo exclusivo”, tem um histórico de influenciar as preferências dos consumidores com os designs que cria para telefones com tela de toque e para reprodutores portáteis de música.
Embora o relógio não interfirará no preço do ouro, a propaganda ajuda o metal, que nos EUA e na Europa tem fama de démodé, disse Meader.
“Se você banhasse uma Ferrari em ouro, ficaria simplesmente cafona. Mas se você usar ouro em um produto de alta tecnologia como esse, isso faz com que ele pareça mais relevante para os consumidores mais jovens”, disse Scott Thomson, diretor administrativo da Astley Clarke Ltd., que vende joias em lojas como Harrods e Selfridges, em entrevista por telefone, de Londres. “Sem dúvida, trata-se de uma evolução positiva”.
Rubis e esmeraldas
A cultura popular já exerceu influência sobre a moda de joias antes. Pedras coloridas ganharam impulso depois que celebridades como Kate Middleton, Jessica Simpson e Halle Berry usaram alianças de noivado com safiras, rubis e esmeraldas.
Os preços da esmeralda de alta qualidade aumentaram quase 15 vezes de 2009 a 2014, de acordo com a Gemfields Plc.
A Apple revelou nesta semana o relógio, também disponível em versões mais baratas feitas de alumínio e aço inoxidável, que possibilita que os consumidores façam de tudo, até destravar as portas dos carros, conferir o horário de um voo e fazer compras no supermercado com um toque no punho.
A companhia publicou um anúncio de 12 páginas duplas na revista Vogue e a modelo Christy Turlington Burns está usando o aparelho para treinar para a Maratona de Londres.
Mas nem todo mundo está convencido. As pessoas não vão comprar mais ouro por causa do relógio da Apple e as vendas do dispositivo caro serão limitadas, de acordo com Carole Ferguson, analista da corretora SP Angel Corporate Finance LLP. É provável que os compradores desse modelo já estivessem pensando em comprar um relógio de ouro, de modo que o aumento global da procura pelo metal será pequeno, disse ela.
‘Duvido muito’
“Duvido muito que isso faça diferença para a imagem do ouro”, disse Ferguson em entrevista por telefone, de Londres. “A moda feminina não segue as tendências tecnológicas e as joias em particular são uma decisão extremamente individual”.
Embora o modelo de ouro custe muito mais do que as outras versões, a tecnologia é a mesma.
A demanda pelo relógio será maior na China, onde o apetite pelo metal já é quase recorde, segundo Bart Melek, analista da TD Securities em Toronto. Meader, da Metallis, disse que, supondo que haja 50 gramas de ouro em cada relógio e que a Apple venda 10.000 aparelhos, a companhia precisaria de cerca de meia tonelada do metal.
O volume se compara com as 2.153 toneladas de demanda anual de joias em todo o mundo, de acordo com o Conselho Mundial do Ouro.
Embora a quantidade de ouro utilizada para produzir joias nos EUA tenha atingido um patamar estável desde 2010, a demanda ainda apresenta uma baixa de 62 por cento nos últimos dez anos, de acordo com os dados do conselho do ouro.
Na Itália e no Reino Unido, os maiores fabricantes da Europa, a queda foi de pelo menos 60 por cento, de acordo com um grupo lobista com sede em Londres.
“Ainda existe um medo de que o ouro esteja se tornando joia da vovó”, disse Meader em entrevista por telefone. “Ver que ele está sendo usado nesse contexto tão moderno sem dúvida será positivo para a imagem do metal”.