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Aplicativo solidário tenta dar um lar aos sem-teto de Nova Délhi

O aplicativo capta automaticamente as coordenadas do local onde há pessoas sem-teto e envia a informação a equipes de resgate

Criança: o aplicativo já registrou quase 700 notificações de sem-teto (Uriel Sinai/Getty Images)

Criança: o aplicativo já registrou quase 700 notificações de sem-teto (Uriel Sinai/Getty Images)

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EFE

Publicado em 24 de março de 2017 às 14h48.

Última atualização em 24 de março de 2017 às 14h48.

Nova Délhi - É quase meia-noite quando Anil Verma recebe uma mensagem em seu telefone avisando que há um sem-teto na área antiga de Nova Délhi.

Ele sobe em sua caminhonete branca e segue a notificação enviada pelo aplicativo Rain Basera para encontrar aquele que será o próximo ocupante de seu abrigo.

Verma chega ao local, sai do veículo paramentado com luvas de látex e uma credencial pendurada no pescoço que lhe identifica como coordenador de albergues noturnos da organização não governamental SPYM.

Após avaliar brevemente a condição do sem-teto, os outros dois membros da equipe lhe colocam na parte de trás do veículo e o motorista arranca rumo ao abrigo mais próximo, notificando ao usuário que mandou a mensagem que o homem foi resgatado.

A cada noite Verma recebe mensagens dos cerca de 3.000 moradores de Nova Délhi que já baixaram o aplicativo Rain Basera, lançado em dezembro de 2015 pela entidade governamental Conselho para a Melhora de Albergues Urbanos de Délhi (DUSIB).

O aplicativo, que por enquanto só funciona em Android e pode ser baixado na loja virtual Google Play, capta automaticamente as coordenadas do local e envia a informação à equipe de resgate responsável pela área.

"Quando você está passando por uma rua e encontra uma pessoa dormindo, tremendo de frio, simplesmente sai do carro e faz uma foto. O aplicativo pega a foto e a envia às agências de resgate", explicou à Agência Efe o engenheiro-chefe do DUSIB, S.K. Mahajan.

O usuário também pode transferir os mendigos em seu próprio veículo, com informação sobre os abrigos mais próximos da sua localização, acrescentou o técnico.

Além disso, pode denunciar um serviço deficiente em um albergue ou até doar cobertores para os centros.

A ideia nasceu de um aplicativo similar lançado por outro departamento do governo de Nova Délhi para que a população denunciasse a presença de lixo nas ruas, mas se focou em pensar em uma solução para milhares de pessoas que a cada noite dormem ao relento na capital indiana.

Organizações humanitárias calculam que na cidade há entre 100.000 e 150.000 pessoas sem lar, embora Mahajan admita que nos últimos três anos seu departamento não foi capaz de contabilizar mais de 16.000 em uma mesma noite de inverno.

Entre outubro e março, cerca de 20 equipes de resgate patrulham as ruas a cada noite entre 22h e 4h recuperando não só os sem-teto reportados através do Rain Basera e de ligações telefônicas, mas também os que encontram em seu caminho.

Desde seu lançamento há pouco mais de um ano já registrou quase 700 notificações de sem-teto, de acordo com números do DUSIB.

O número de resgates bem-sucedidos é, no entanto, um pouco menor. Segundo Mahajan, entre 20% e 30% dos mendigos se recusam a ser resgatados por medo de que outros lhes tirem seus pontos de venda ou de perder doações de cobertores que depois trocariam por dinheiro ou drogas.

No interior do refúgio ao qual Verma chega, uma dúzia de sem-teto está espalhada sobre três tapetes vermelhos que cobrem o local, deixando entre eles um estreito corredor em cujo fundo um velho televisor mostra cenas de um filme de ação tão antigo quanto o próprio aparelho.

Entre eles está Ibli Hassan, que insiste que tem 20 anos, apesar de seu rosto e seu olhar perdido delatarem pelo menos um par de décadas a mais.

O que não oculta é a solidão daqueles que vivem como ele, embora ele diga que é o mais veterano de todos com 60 noites no centro em suas costas.

Trabalha como peão de carga em casamentos e eventos por entre 400 e 600 rúpias ao dia (entre US$ 6 e US$ 9) e volta a Uttar Pradesh, sua região natal, quando reúne dinheiro equivalente a um salário que, segundo diz, necessita para comer e não para alugar um quarto.

"As pessoas aqui mudam todo o momento, um se vai e outro vem. Não estou com ninguém, aqui vivo sozinho", declarou.

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