Aids: o anel de silicone, colocado na vagina e substituído a cada 4 semanas, pretende ajudar a atalhar a epidemia na África Subsaariana (Ajay Verma / Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2016 às 14h46.
Copenhague - Em uma nova tentativa de vencer a batalha contra a Aids, um anel vaginal que ajuda a prevenir a transmissão do vírus pode se tranformar na esperança de milhões de mulheres que vivem sob alto risco de contágio, especialmente nos países mais pobres.
O anel, que libera pouco a pouco um fármaco anti-retroviral, foi apresentado nesta terça-feira pela Associação Internacional para os Microbicidas (IPM, em inglês), um entidade sem fins lucrativos que participa da conferência internacional Womem Deliver.
"Embora muitos falem que o fim da epidemia está perto, a batalha ainda não terminou. As mulheres seguem se infectando a níveis muito altos na África Subsaariana", explicou à Agência Efe a diretora-executiva da IPM, Zeda Rosenberg, que precisou que seis de cada dez afetados desta região são mulheres.
Este anel de silicone, que é colocado na vagina e deve ser substituído a cada quatro semanas, pretende ajudar a atalhar a epidemia na região, onde as mulheres de entre 15 e 24 anos têm o dobro de possibilidades de contrair HIV do que os homens.
Com este novo método, similar ao anel vaginal anticoncepcional, as mulheres podem controlar sua saúde sem necessidade de negociar com seu parceiro - algo que deve fazer na maioria de países em vias de desenvolvimento- e inclusive evitar o contágio em caso de estupro.
Após realizar vários experimentos na África Subsaariana para demonstrar sua efetividade, o anel está agora sob um novo estudo -cujos resultados serão revelados a partir de julho- como passo prévio a conseguir a aprovação regulatória que permita sua comercialização.
"O seguinte passo é que as mulheres que necessitam tenham o anel vaginal em suas mãos. Se tudo ocorrer perfeitamente, podemos tê-lo no mercado no final de 2018. Nosso objetivo é que o preço esteja abaixo dos US$ 5 por unidade", explicou Rosenberg.
Ativistas e especialistas que participam nestes dias do encontro Women Deliver para traçar novas estratégias que permitam melhorar a saúde de meninas e mulheres receberam com entusiasmo este avanço científico que pode marcar um antes e um depois na luta contra a Aids, especialmente, no continente africano.
"O mais importante é que o anel pode ser usado sem o consentimento do homem e que as mulheres terão a opção de escolher por elas mesmas", disse à Agência Efe a ativista de direitos humanos sul-africana Yvette Raphael.
Um dos principais desafios, explica, é trabalhar lado a lado com as comunidades locais, explicar as vantagens do novo fármaco e conseguir sua aceitação porque, sem ela, poucas jovens se atreverão a usá-lo.
Por isso, a IPM trabalha com ativistas como Raphael no terreno para apresentar o anel vaginal como uma opção a mais para se proteger contra o HIV, lembrando que não deve ser um substituto, mas um reforço a outros métodos como os preservativos.
Desde 2012, a IPM realizou diferentes estudos nos quais participaram mais de 2.600 mulheres de entre 18 e 45 anos com alto risco de contágio na África do Sul, Uganda, Zimbábue e Malawi e que provaram que este método permitiu reduzir os contágios até 56% em mulheres maiores de 21 anos.
Além dos desafios científicos, o grande desafio para desenvolver este anel vaginal foi o financiamento, já que cada vez é mais difícil conseguir aliados -especialmente quando se tenta métodos de prevenção- perante o grande número de pesquisas que ocorrem atualmente.
No entanto, o projeto conta com o apoio de algumas grandes companhias e de governos como o da Dinamarca.
"Infelizmente a pesquisa tem cada vez menos interesse para os doadores. Por isso decidimos investir no anel vaginal, porque queremos fazer tudo o que for possível para tentar conter a epidemia da Aids", afirmou a principal assessora de saúde no Ministério dinamarquês de Relações Exteriores, Sanne Helt.