Tecnologia

Eletrodomésticos são o futuro - e a Amazon está na dianteira

O Echo da Amazon é muito mais útil que o Google Home, lançado dois anos depois, e o Apple HomePod só chegará ao mercado no fim deste ano

Amazon Echo: o aparelho de comando por voz é o mais próximo que temos de um eletrodoméstico (Doug Chayka/The New York Times)

Amazon Echo: o aparelho de comando por voz é o mais próximo que temos de um eletrodoméstico (Doug Chayka/The New York Times)

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Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2017 às 11h34.

Última atualização em 13 de julho de 2017 às 21h41.

No fim dos anos 1970, Jef Raskin, pioneiro de tecnologia e um dos primeiros funcionários da Apple, projetou uma visão radical do futuro da informática.

Segundo ele, os computadores deveriam funcionar como eletrodomésticos. O computador ideal não deveria exigir uma curva de aprendizado e manutenção muito acentuada. Também deveriam ser desnecessários o upgrade de sistema operacional e a instalação de novos programas para fazer coisas diferentes. Ao invés disso, assim como uma máquina de lavar, ou um aspirador de pó, o aparelho deveria realizar um conjunto limitado de tarefas com o simples apertar de um ou dois botões.

Raskin iniciou um projeto na Apple para colocar em prática sua visão – o primeiro computador barato e fácil de usar para as massas. Ele o chamou de Macintosh, em homenagem a seu tipo de maçã favorito, e reuniu uma equipe lendária para seu desenvolvimento. Mas as coisas não saíram conforme o previsto. A visão de Raskin bateu de frente com as ideias de muitas pessoas na Apple, incluindo Steve Jobs, que acabou assumindo a equipe do Mac, orientando-a para a criação do computador pessoal de uso geral que redefiniu para sempre o setor de tecnologia. Afastado e frustrado, Raskin deixou a Apple em 1982, passando o resto de sua vida tentando criar o “utensílio de informações” de seus sonhos. Ele morreu em 2005, sem chegar lá.

Mas agora, do dia para a noite, o utensílio de informações imaginado por Raskin virou realidade e está no balcão da minha cozinha.

Ele se chama Echo Show, e é a mais nova versão do Echo, a caixa de som inteligente da Amazon controlada por voz que se tornou um sucesso surpreendente. O Echo Show é fácil de descrever; é um Echo com tela, e você o controla da mesma forma que qualquer outro Echo – conversando com a Alexa, sua assistente de voz alegre. Conforme meu colega Brian X. Chen escreveu em um artigo, o Show está longe de ser perfeito; tem alguns bugs e você fica com a impressão de que a Amazon ainda está procurando a função perfeita para o aparelho.

Mas isso é perfumaria. O Echo Show é uma máquina impressionante, não apenas pelo que já é, mas também pela forma como indica o futuro da computação segundo a Amazon. Ele está se transformando no modelo de um novo computador doméstico coletivo – o ressurgimento da ideia de utensílio de informações de Raskin, em oposição à visão de Jobs de um computador pessoal que desempenha muitas funções.

Uma forma de medir a potência dessa visão é a rapidez com que os concorrentes da Amazon estão correndo para imitá-la; tanto a Apple, quanto o Google criaram suas versões do Echo.

É difícil saber até onde os concorrentes vão chegar. O modelo de negócios da Amazon, que depende de milhões de famílias comprando milhões de produtos, é perfeitamente adaptado ao Echo – vendido a preços baixos –, até porque a Amazon tem certeza de que vai ganhar mais dinheiro com compras no site. (O Echo mais barato, o Dot, é vendido por 50 dólares; o novo Show, disponível ao público no dia 28 de junho, custa 230 dólares, mas você ganha 100 dólares de desconto se comprar dois).

Além disso, a Amazon está mais adiantada. O Echo é muito mais útil que o Google Home, lançado dois anos depois, e o Apple HomePod só chegará ao mercado no fim deste ano. Tendo em vista essa vantagem, parece impossível parar o Echo. Ele está prestes a se tornar o sistema operacional das casas de classe média.

Imagino que você esteja torcendo o nariz. A primeira característica do utensílio de informações de Raskin é que ele não servia para muita coisa. Essa também é a maior crítica ao Echo e, agora, ao Echo Show. Esses aparelhos não fazem nada que você não possa fazer com seu telefone, PC, ou tablet.

Isso é verdade, mas não é bem o ponto em questão. Dá pra fazer torradas no forno, mas você tem uma torradeira porque é um aparelho que realiza uma tarefa específica de forma confiável e sem dar muito trabalho.

Essa também é a função dos utensílios de informação. O Echo Show não consegue fazer várias coisas. Não recebe e-mail, não navega na internet, não serve para jogos on-line. Claramente, não se trata de um computador com múltiplas funções. Mas as coisas que consegue fazer – tocar música, exibir vídeos, fazer ligações com vídeo, ler as notícias, dizer a hora, o clima e fazer compras na Amazon – acontecem com tanta facilidade que parece mágica.

Existem algumas razões por trás disso. A primeira é a interface incomum e inovadora do Show.

Dave Limp, vice-presidente sênior de aparelhos da Amazon, contou que quando a empresa começou a projetar o Show, tentou usar a mesma interface dos tablets da Amazon. Mas a equipe logo percebeu que isso não funcionava. Por um lado, o Echo Show é projetado para ser usado apenas com comandos de voz – a tela exibe mais informações, mas você só precisa olhar para ela quando pede informações visuais (como vídeos, por exemplo). Um sistema operacional para aparelhos móveis, que são extremamente visuais, não funcionariam bem.

Outra razão para a interface de tablet não funcionar é que ela se parece muito com a de um computador, e um dos objetivos de design do Echo e do Echo Show é superar qualquer relação direta com os computadores.

O sistema operacional do Show, assim como a memória, a capacidade de armazenamento e outras especificações técnicas são completamente escondidas do usuário. O Echo tem um equivalente dos aplicativos conhecidos como “habilidades”, mas essas têm pouco em comum com os aplicativos para smartphone. Para instalar, basta pedir para que a Alexa as ative, e quando você quer usar uma dessas habilidades, basta dizer o nome dela. Para assistir a um vídeo, você faz o pedido – sem abrir um browser, nem o aplicativo do YouTube para procurar o que assistir.

“Trata-se de um modelo mental muito diferente dos computadores, smartphones e tablets tradicionais, nos quais você primeiro pensa no aplicativo que quer utilizar, para então abri-lo e fazer sua pesquisa”, afirmou Limp por e-mail.

O Echo Show tem outras vantagens em relação aos smartphones e tablets: ele fica sempre no mesmo lugar.

Telefones e tablets passeiam pela casa. Muitas vezes eles estão por perto, mas outras vezes não. Essa incerteza os torna menos úteis para o tipo de atividade ambiental que o Echo sabe fazer. Quando você está na cozinha e precisa consultar uma receita, pode procurar o iPad e acessá-la. Mas o Echo Show sempre está lá, de modo que toda sua família pode contar com ele – você sabe quando acessá-lo e ele sempre responde.

Esses aparelhos coletivos não são comuns em nossas casas. Por outro lado, todos os utensílios domésticos são coletivos e não mudam de lugar, da geladeira à máquina de lavar. Também temos utensílios cujo único propósito é fornecer informações e entretenimento – relógios de cabeceira e TVs, por exemplo. Limp afirmou que esses utensílios de informações fornecem um “modelo mental” do design do Show, o que me fez pensar no alcance das ambições da Amazon nessa área.

O Show possui uma tela de 18 centímetros. Não há razão para que a tela não possa ser um pouco maior – uma tela do tamanho de um iPad que possa ser pendurada no espelho do banheiro, por exemplo. Ela poderia muito bem ser enorme.

Na verdade, vou dar um tiro no escuro agora: daqui a alguns anos, aposto que a Amazon irá fazer TVs que funcionam do mesmo jeito que o Echo Show. Afinal, se a empresa está tentando criar o utensílio doméstico perfeito, não há nada melhor do que repensar a maior tela da nossa casa.

Farhad Manjoo © 2017 New York Times News Service

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