O fundador do Wikileaks, Julian Assange, exigiria uma "devoção cega", afirmou sua ex-aliada Jemima Khan (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2013 às 16h51.
Londres - Jemima Khan, celebridade britânica que apoiava Julian Assange e doou dinheiro para pagar sua fiança, expressou publicamente suas frustrações quanto ao fundador do WikiLeaks, afirmando que ele exige "devoção cega e digna de um culto", e que deveria encarar a Justiça na Suécia.
Um artigo de Khan publicado na quarta-feira no site da revista britânica New Statesman oferece um vislumbre sobre os motivos para que Assange, cujo site de denúncias causou ira a Washington ao divulgar milhares de cabogramas diplomáticos norte-americanos em 2010, tenha alienado alguns de seus mais fervorosos aliados.
Assange foi detido no Reino Unido em dezembro de 2010, sob um mandado de extradição solicitado pela Suécia, onde ele é procurado para interrogatório sobre alegações de estupro e abusos sexuais apresentadas por duas mulheres.
Depois de sair derrotado de uma longa batalha judicial para evitar extradição, que chegou à Suprema Corte britânica, Assange violou os termos de sua fiança e se refugiou na embaixada equatoriana em Londres, em junho de 2012. Ele foi visto no interior do edifício em diversas ocasiões, desde então.
Khan, que inicialmente conquistou fama como herdeira mas agora é ativista e editora associada da New Statesman, descreveu em seu artigo como passou da "admiração à desmoralização", no que diz respeito ao WikiLeaks.
"O problema é que o WikiLeaks - cuja missão declarada era a de 'produzir... uma sociedade mais justa... baseada na verdade' - é culpado das mesmas desinformações e acobertamentos como aquelas que buscava expor, e seus seguidores têm a obrigação de seguir o líder sem perguntas, em devoção cega como a de um culto", ela escreveu.
Khan foi produtora executiva de um documentário sobre o WikiLeaks chamado "We steal secrets", que estreou recentemente no festival Sundance, nos Estados Unidos.
Khan disse que o filme, dirigido pelo documentarista Alex Gibney, premiado com o Oscar, tenta apresentar uma versão equilibrada da história do WikiLeaks, mas Assange denunciou a produção antes mesmo de assisti-la.
"Quando contei a Assange que era parte da equipe do documentário, sugeri que o assistisse não em termos de ser um filme pró ou contra ele, mas como um trabalho que busca ser justo e representar a verdade", ela escreveu.
"Ele respondeu que se o filme fosse justo, seria pró-Julian Assange", acrescentou.
O artigo de Khan elogia o WikiLeaks por expor corrupção, tortura, crimes de guerra e acobertamentos, mas critica a organização por sua mentalidade de "quem não está conosco, está contra nós", que em sua opinião prejudica a causa.