Panini Collectors (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2014 às 09h28.
Depois de um dia estressante no trabalho, no trânsito, na rotina, nada melhor do que chegar em casa e... abrir vários pacotes de figurinhas para o álbum da Copa. A busca pelos cromos adesivos e o livro ilustrado, a 39 dias do início do Mundial, mais uma vez seduziu crianças, adultos e até a presidente da República. Dilma Rousseff revelou que entrou na onda de colecionadora junto com o neto, Gabriel, de 3 anos. "É bom, serve para aliviar a tensão do dia a dia da presidência".
A febre de colecionar o álbum da Copa, já abrangente no Mundial da África do Sul, em 2010, está maior quatro anos depois. A Panini, editora italiana responsável pelo álbum, não divulga quantos livros ou cromos foram vendidos até hoje, um mês depois do início da venda das figurinhas. Mas a tiragem inicial do álbum é de impressionar. Apenas no Brasil, dentre os 120 países em que o livro será distribuído, 8,5 milhões de álbuns entraram em circulação.
Destes, 6,5 milhões foram distribuídos em ações promocionais. O álbum circulou junto com o jornal O Estado de S. Paulo na edição de 6 de abril, e chegou às bancas dois dias depois. E não foram poucos os aficionados que, em menos de 30 dias, já completaram as 640 figurinhas. E não se contentam com um álbum só.
O consultor de marketing Gustavo Passi, de 26 anos, é um deles. Completou o primeiro álbum na quinta-feira, 1.º de maio, no principal ponto de encontro para trocas em São Paulo, o vão livre do Masp. "Foi uma loucura, tinha umas 400 pessoas lá. Terminei meu álbum e, agora, estou fazendo outro para a minha mulher."
Passi é um dos administradores do grupo "Álbum de Figurinhas da Copa do Mundo" no Facebook, que já reúne mais de 14 mil participantes e dezenas de endereços com pontos de encontro para trocas, no Brasil todo - e há até recomendação de conduta na hora das trocas.
O Masp é o local "oficial", mas, entre os participantes, é consenso que o Shopping Eldorado é endereço precursor dos encontros, ativado na Copa de 2006. O professor de informática Fabianno Xavier, de 31 anos, vai ao Eldorado desde aquela época. "Mas eram uns gatos pingados. No domingo passado, tinham umas 150 pessoas lá."
Na época do Mundial da Alemanha, Fabianno era um "colecionador normal", com um só álbum. Mas, em 2010, o seu comportamento mudou. Completou o primeiro livro, e não parou mais. "Cheguei a ter, em mãos, nove coleções". Coleção, define, é ter o número total de cromos de um álbum, não necessariamente colados.
O vício - como assim define a paixão pelas figurinhas - deixa a namorada chateada, e prendeu o professor em casa durante todo o fim de semana passado. "Gosto de arrumar as figurinhas, ir nos encontros de trocas". Ele, que gastou R$ 300 para o álbum de 2014, já tem agora três coleções completas. "E a 4, 5 e 6, inacabadas."
REDES SOCIAIS ALAVANCAM TROCAS - A troca de figurinhas, antes restrita às escolas (para crianças) ou ao ambiente de trabalho (entre os adultos), ganhou outros espaços com o auxílio - e a evolução - das redes sociais. Em 2006, o ponto de encontro do Shopping Eldorado chegou aos ouvidos de Fabianno Xavier por meio de amigos. "Foi no boca a boca, mesmo", lembra.
Quatro anos depois, no Mundial de 2010, o Orkut foi o aliado. "Criamos uma comunidade, e lá o pessoal marcava encontros", diz Gustavo Passi. Agora, a interação no Facebook é frenética. O grupo do álbum da Copa, criado por Gustavo em dezembro, tinha 1.500 participantes às vésperas do início das vendas. Hoje, são mais de 14 mil.
A Panini aproveitou a popularização dos smartphones e a internet móvel para criar um aplicativo. Nele, é possível controlar o fluxo das figurinhas - quantas já estão no álbum, quantas faltam, quais são as repetidas... Gustavo diz que ainda usa papel e caneta para controlar sua coleção. "Na fervura da troca é mais fácil, mas vejo a molecadinha usando muito o app."
Um mundo bem diferente do que Genival de Pontes, o "seo" Dida, presenciou na infância - época em que figurinhas eram ganhas na brincadeira de rua. "A gente não tinha tanto dinheiro, mas os álbuns não eram tão grandes. A gente ganhava figurinha no bafo." Hoje, aos 70 anos, o aposentado diz que não perdeu o espírito de criança.
Dono de uma grande coleção de álbuns, em 2010 começou a participar de encontros. Ia em um posto de gasolina na Avenida Professor Vicente Rao, mas também ao Eldorado e ao Masp.
Álbum de figurinhas é uma especialidade de família. Do pai, herdou um álbum da década de 1930. Dos irmãos mais velhos, um de 1958 - relíquia por si só, mas que tem ainda mais valor por causa do autógrafo de vários astros, como Pelé, Garrincha e Nilton Santos.
A coleção de "seo" Dida ficou famosa e lhe garantiu um presente: a Panini lhe enviou um álbum de capa dura. "Mas pedi as figurinhas separadas. A graça é colar."