. (Andreea Campeanu/Reuters)
São Paulo – O Facebook é uma rede social que conecta as pessoas com seus amigos para gerar interações significativas. Ao menos, essa é a essência da plataforma, junto à monetização por meio de anúncios. Nesta semana, um caso surpreendente veio à tona: uma adolescente de 17 anos foi leiloada para um casamento ilegal no Sudão do Sul a partir de uma postagem no Facebook usada para facilitar a negociação. O anúncio de sua venda ocorreu em 25 de outubro e foi removido pela administração da rede social somente em 9 de novembro.
Segundo a ONG humanitária de direitos das crianças Plan International, a jovem foi vendida em poucos dias em troca de 530 cabeças de gado, três carros e dez mil dólares, e seu casamento forçado ocorreu no dia 3 de novembro.
A Plan International afirma que a garota foi escolhida entre cinco homens, alguns dos quais eram supostamente funcionários de alto escalão do governo do Sudão do Sul. Os ativistas estão preocupados que o episódio estimule outras famílias a usarem o sistema de vendas da rede social para anunciar garotas em busca de pagamentos mais altos. “Que uma garota possa ser vendida para casamento na maior rede social do mundo hoje em dia é inacreditável”, disse à rede CNN o diretor da Plan International no Sudão do Sul, George Otim.
Não é a primeira vez que o Facebook é usado para fins que contrariam os princípios dos direitos humanos. Em agosto, mais de 700 mil membros da comunidade muçulmana Rohingya, em Mianmar, foram forçados a fugir do país depois que posts estimulando o genocídio da minoria étnica se espalharam pela rede através de perfis secretamente administrados pelas Forças Armadas. Já na Líbia, as notícias falsas têm sido usadas nos últimos meses para espalhar mensagens de ódio contra grupos rivais, contribuindo para o aumento da violência entre a população.
O uso da rede social para práticas ilegais reacende o debate sobre a política da empresa para lidar com postagens que promovem a violência. O Facebook já foi acusado de negligência em casos semelhantes e de ter uma resposta demorada para proibir que publicações como essa se espalhem pela rede, sendo constantemente pressionado por governos e organizações da sociedade civil.
A coordenadora da organização Equality Now, Judy Gitau, criticou o Faecbook em entrevista à CNN. “Violações contra as mulheres no Sudão do Sul são uma questão contínua, mas para o Facebook, permitir que sua plataforma aumente essas violações é um problema”, explicou. “Eles devem colocar em prática mais recursos humanos para monitorar sua plataforma para garantir que os direitos das mulheres e, de fato, os direitos de todas as pessoas sejam protegidos”.
O Facebook não explicou o motivo da demora para a remoção do conteúdo. A CNN apurou que os administradores da rede social só souberam do caso depois que uma reportagem de uma mídia local no Quênia noticiou o leilão.
“Qualquer forma de tráfico humano – seja de postagens, páginas, anúncios ou grupos – não é permitida no Facebook. Removemos a publicação e desativamos permanentemente a conta pertencente à pessoa que postou isso no Facebook”, disse a empresa em comunicado à CNN.
“Estamos sempre aprimorando os métodos que usamos para identificar o conteúdo que viola nossas políticas, o que inclui dobrar nossa equipe de segurança e proteção para mais de 30 mil membros, além do investimento em tecnologia", segundo a companhia.
Procurado por EXAME, o Facebook não se pronunciou até o momento desta publicação.