Samsung: o segundo trimestre, diz a empresa, será melhor (Tobias Schwarz/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2015 às 21h12.
A Samsung, que acaba de divulgar um balanço fraco do primeiro trimestre, tem um problema cambial.
Após um período de 12 meses no qual o won, a moeda da Coreia do Sul, avançou 23 por cento em relação ao euro, a Samsung está tendo problemas para manter suas receitas.
Mas o won também perdeu valor em relação ao dólar americano, o que elevou os custos da empresa com materiais.
Em outras palavras, os lucros da Samsung estão sendo espremidos entre duas dinâmicas de diferentes taxas de câmbio negativas.
Como se não bastasse, a Apple, maior concorrente da Samsung em venda de telefones celulares, acaba de lançar um produto, o iPhone 6, que está dominando o setor.
A situação dá um novo sentido a uma famosa observação do presidente do conselho do grupo Samsung, Lee Kun-Hee, de 2007.
Em uma reflexão a respeito da recuperação da Coreia após a crise asiática de uma década antes, Kim alertou “estamos como em um sanduíche” entre o Japão altamente desenvolvido e a China de baixo custo.
Kim defendeu uma expansão da inovação para apoiar uma ascensão econômica contínua da Coreia. Não eram os recentes problemas da Samsung (os lucros caíram 40 por cento no último trimestre, sexto declínio trimestral seguido) que estavam na mente de Kim.
Existe uma razão para você não ver o CEO da Apple, Tim Cook, suando frio por causa das taxas de câmbio: os produtos inovadores da empresa dele ganharam o status de objetos de luxo.
Mesmo quando a Apple copia uma característica da Samsung -- ao oferecer uma tela maior em seu iPhone 6, por exemplo --, a reputação de empresa inovadora continua imaculada.
Lee Jae Yong, prestes a substituir seu pai, que está hospitalizado, como chefe da Samsung, parece estar dando atenção a isso.
Ele reduziu as participações da empresa em setores decepcionantes, como defesa, transferiu talentos da divisão de telefones celulares para iniciativas da internet e está apostando de forma ambiciosa em novos itens, como produtos biofarmacêuticos, chips de memória, baterias e telas de diodo emissor de luz orgânico.
A Samsung também deu uma nova ênfase a um design vanguardista. O novo telefone Galaxy 6 da empresa é uma maravilha de design e, embora as receitas do primeiro trimestre tenham sido decepcionantes, a Samsung está pedindo paciência.
O segundo trimestre, diz a empresa, será melhor, com indicativos de que o novo smartphone está começando a vender bastante.
Mas as manobras de Lee ainda correm o risco de renderem poucos resultados para sua empresa. O maior problema enfrentado pela Samsung não é onde a empresa estará daqui a três ou quatro trimestres, mas sim daqui a três ou quatro anos.
Digam o que quiserem sobre a perda de relevância da Sony ou da Sharp, mas quando elas estavam no auge essas empresas japonesas icônicas mudaram o mundo da tecnologia ao permanecerem um passo à frente das mudanças nos mercados de consumo.
A valorização do won da Coreia pode e deve catalisar mudanças positivas para a Samsung e para a economia coreana como um todo. Mas isso exigirá que os caciques corporativos do país deixem de culpar o Banco da Coreia por suas desgraças e, em vez disso, se conectem com o empreendedor que existe dentro deles.
Ao investirem em pesquisa e desenvolvimento e incentivarem uma tomada de risco maior entre seus funcionários, eles poderiam animar o crescimento coreano e tornar suas empresas menos vulneráveis aos caprichos dos traders de câmbio.
Eles também deveriam tirar vantagem da relativa força do won entre as moedas do Extremo Asiático. Com a queda de 12 por cento do iene em relação ao won nos últimos 12 meses é possível imaginar as potências tecnológicas do passado do Japão, como a Sony e a Sharp, sendo adquiridas por um CEO coreano ambicioso, como Lee.
Uma jogada como essa certamente pegaria as concorrentes da Samsung de surpresa -- e poderia até ajudar a empresa a escapar do desconfortável problema cambial em que se encontra.