Maurício Orsolini Filho: diretor do 99 Pay acredita que serviço de carteira digital ajude população de baixo poder aquisitivo (99/Divulgação)
Lucas Agrela
Publicado em 31 de março de 2021 às 05h55.
Última atualização em 31 de março de 2021 às 20h47.
A 99, conhecida por seu aplicativo de transporte individual urbano, vai expandir sua carteira digital para todo o Brasil até o fim do primeiro semestre de 2021. Ainda em abril, o serviço chamado 99 Pay chegará aos principais mercados da companhia: as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A carteira digital é voltada a passageiros, uma vez que os motoristas possuem outro aplicativo, chamado Conta 99.
A rival Uber também criou um serviço semelhante, em parceria com a fintech Digio, a fim de permitir pagamentos instantâneos para os motoristas após cada corrida. A missão da 99 com a sua carteira digital, no entanto, é mais ampla: reduzir o uso de dinheiro físico nas corridas e trazer facilidades para usuários no dia a dia, como o pagamento de boletos ou a recarga de créditos no celular.
A empresa tem o objetivo declarado de terminar o ano de 2021 como uma das três maiores carteiras digitais do Brasil. Em seis meses, a 99 diz ter gerado 22 milhões de reais de economia para usuários das nove primeiras cidades onde lançou o serviço em fase de teste piloto. O valor poupado é uma soma de ofertas por meio de descontos, lucratividade na carteira digital, cupons e dinheiro de volta (cashback). O dinheiro guardado na conta tem rentabilidade de 220% do CDI, ou seja, mais do que paga a poupança atualmente.
Maurício Orsolini Filho, diretor da 99 Pay, conta em entrevista exclusiva para a EXAME que a companhia prepara uma série de novidades ainda para 2021, revela que o 99 Pay já tem 1,3 milhão de usuários ativos e descarta a internacionalização do serviço. Confira a seguir.
EXAME: Por que o 99 Pay foi criado? Como ele se adequa ao aplicativo de transporte da 99?
Maurício Orsolini Filho: Começamos a trabalhar no projeto em meados de 2019. Tínhamos o produto para motoristas, mas não uma carteira como o 99 Pay. Os meios de pagamentos digitais tiveram um grande impulso no Brasil e fazia sentido para nós criar uma carteira para gerar mais valor aos usuários, inclusive por causa do 99 Food, nosso serviço de entrega de comida. A segurança é outro ponto importante da carteira digital. O 99 Pay é uma alternativa ao uso do dinheiro físico. Com isso, esperamos que os motoristas e passageiros reduzam o uso do dinheiro nas corridas. Em 2021, é mais importante do que nunca ter alternativas para pessoas desbancarizadas.
Como tem sido a aceitação do novo serviço de pagamentos?
Lançamos a carteira em julho e os resultados superaram as expectativas. Pudemos reduzir o percentual de corridas em dinheiro, cerca de 70% das corridas são pagas em dinheiro, o que é um comportamento do mercado. Reduzimos cerca de 10% dos pagamentos em dinheiro desde o lançamento da carteira. Como estamos em 1600 cidades, com 20 milhões de usuários ativos mensalmente, tivemos uma ótima aceitação do 99 Pay. Nas 25 cidades onde já temos a carteira digital, temos 1,3 milhão de usuários ativos.
A 99 resolveu antecipar os planos de lançamento do 99 Pay e expandir o serviço a mais cidades ainda no primeiro semestre de 2021. O que motivou a aceleração?
Entendemos que os meios de pagamentos digitais estão se popularizando, em parte, por causa da pandemia. Com a nossa presença e poder de marca, que ajudam a derrubar a barreira de adoção do serviço, as pessoas têm usado muito a nossa carteira. A pandemia evidenciou mais a distorção social do Brasil. As pessoas com maior poder aquisitivo reduziram em 41% o uso de corridas no app, mas o número de viagens subiu 36% entre o público de menor poder aquisitivo. Os dados são de uma pesquisa da 99 que comparou fevereiro de 2020 com o mesmo mês em 2021. Por causa da mudança do perfil de uso do transporte por aplicativos e da economia que geramos aos usuários, decidimos antecipar o planejamento de lançamento. O transporte é usado, muitas vezes, por necessidade. Especialmente por ter menos gente do que no transporte público ou como uma forma de percorrer em segurança e conforto os últimos quilômetros de um trajeto.
Quando o 99 Pay será liberado para todos os usuários?
Até o fim do primeiro semestre de 2021. Nossa meta interna é lançar em todas as cidades até abril, que é quando o serviço chegará a São Paulo e Rio de Janeiro, mas até o fim de junho certamente o lançamento geral terá acontecido.
Quais são os principais desafios de uma empresa de mobilidade levar sua carteira digital para mais usuários no Brasil?
O principal é conseguir oferecer a conveniência para o usuário que mais precisa: quem não tem conta em banco ou foi mal atendido por bancos e deixou de usá-los. Queremos reduzir os pagamentos em dinheiro e aumentar a adesão da carteira digital da 99 na população que não está familiarizada com serviços de pagamento digitais.
Há planos de levar a carteira digital da 99 para outros países?
Por enquanto, não vamos internacionalizar a carteira. Cada país está em uma fase diferente de uso de carteiras digitais. Apesar da compra pela chinesa Didi Chuxing, o DNA continua brasileiro. A solução foi criada para o Brasil.
Nas carteiras digitais, serviços como recarga de cartão de transporte público e ou mesmo a venda de vale-presente são oferecidos aos consumidores. A 99 tem planos de expansão semelhantes?
Sim, tem muitas coisas que podemos fazer. Mas a nossa diferenciação é dar foco em nossos serviços. Buscamos oferecer descontos e cashback para os nossos usuários. O maior desafio é educar os usuários. Por isso, o lançamento de uma interface simples e intuitiva foi feito para minimizar as barreiras de adoção. Vencida essa barreira, permitimos pagamento de boleto, recarga de celular e estamos nos integrando ao Pix para nos unir a grande parte dos serviços digitais. Acreditamos que ele possa até substituir, em parte, o cartão de débito. Temos melhoria contínua e temos novos recursos no nosso radar. Temos uma linha do tempo de evolução para gradualmente lançar novidades, como a recarga de bilhetes de transporte público, prevista para meados do segundo semestre.