No Kindle Fire, a Amazon colocou uma versão simplificada do sistema Android, do Google (Spencer Platt / Getty Images)
Maurício Grego
Publicado em 14 de novembro de 2011 às 15h35.
São Paulo — O Kindle Fire, o tablet de 199 dólares da Amazon, começou a ser entregue hoje nos Estados Unidos, um dia antes da data que a empresa havia agendado para o início das entregas. O Fire não deve superar o iPad num futuro próximo, mas é provável que se torne rapidamente o tablet com Android mais vendido nos Estados Unidos. Com o tempo, pode ameaçar também o dispositivo da Apple.
Previsões indicam que, faltando apenas um mês e meio para o fim do ano, a Amazon pode terminar 2011 com mais de 4 milhões de unidades vendidas. Estima-se que, antes mesmo de as entregas começaram, a Amazon já havia recebido mais de 1 milhão de encomendas. E algumas estimativas apontam para números ainda maiores, chegando a 2,5 milhões de tablets encomendados.
Naturalmente, para que o sucesso inicial se mantenha, é preciso que as pessoas que estão recebendo o tablet fiquem satisfeitas. Ainda é cedo para dizer, com 100% de certeza, se isso vai acontecer. Mas as primeiras análises feitas nos Estados Unidos mostram que, apesar de ser extremamente espartano, o Fire tem potencial para o sucesso. A Amazon soube escolher com cuidado onde cortar custos para não desagradar demais ao consumidor.
Para fanáticos por tecnologia, o Kindle Fire não parece nada atraente. O tablet, que começa a ser entregue nesta semana nos Estados Unidos, tem apenas 8 gigabytes de capacidade, metade do que comporta o iPad mais simples. Ele não possui câmera, nem GPS, nem saída de vídeo e a tela é de apenas 7 polegadas. Também não oferece acesso à internet via 3G e não tem conexão Bluetooth. E, claro, não tem o charme da marca Apple.
Obviamente, o preço de 199 dólares, 40% do que custa o iPad mais barato nos Estados Unidos, é um forte atrativo. Mas há outros tablets baratos por aí. E nenhum deles caiu no gosto do consumidor. Além do preço, há sete razões por que o tablet da Amazon tem boas chances de ser bem sucedido. Veja quais são nas próximas páginas.
1 A tela é nítida e sensível
Em geral, os tablets baratinhos são incômodos por contar com tela sensível ao toque resistiva, de baixa sensibilidade. Neles, em vez de apenas tocar a tela com o dedo, é preciso pressioná-la. Isso prejudica a experiência do usuário já que, num tablet, a tela é quase tudo. Além de exibir informações, vídeos e fotos, ela cumpre os papéis de teclado, controle para jogos e mouse.
No Kindle Fire, a Amazon reduziu custos ao optar por uma tela 7 polegadas, em vez das 9,7 polegadas do iPad. Isso certamente torna um pouco incômoda a visualização de sites da web. Mas a tela do Fire usa tecnologia capacitiva, como as dos modelos mais caros. Ela tem elevada sensibilidade e ótima qualidade visual. Ou seja, não houve economia nos aspectos mais críticos.
2 Os compradores têm smartphones
A Amazon pôde suprimir alguns itens do Kindle Fire porque sabe que quem vai comprar o tablet já tem um smartphone – e ele estará sempre por perto. O exemplo mais óbvio está nas câmeras. É bastante mais natural fotografar ou filmar com um smartphone do que com um tablet. Assim, a Amazon eliminou as câmeras do Fire. Pouca gente vai sentir falta delas. Pelo mesmo caminho foram o GPS e a conexão Bluetooth.
3 Alguns itens ausentes são pouco usados
Em alguns aspectos, o Kindle Fire lembra os veículos do tipo SUV vendidos no Brasil sem tração nas quatro rodas. Para aquelas poucas pessoas que adoram andar em estradinhas de terra, a falta da tração 4x4 é imperdoável. Mas a maioria dos compradores quase nunca sai do asfalto. Assim, os fabricantes de automóveis preferem baratear os carros eliminando esse recurso.
A Amazon fez o mesmo com o Kindle Fire. A saída de vídeo para ligar o tablet a um televisor, por exemplo, seria útil para algumas pessoas. Mas são poucas. A maioria passaria toda a vida útil do tablet sem utilizá-la. Assim, esse item ficou fora. O mesmo aconteceu com o conector para cartão de expansão de memória, presente em outros tablets com Android.
4 O Android da Amazon é diferente
Os tablets herdaram, dos computadores pessoais, a metáfora da mesa de trabalho. Tanto o iPad como aqueles que rodam o sistema Android (e também a maioria dos smartphones) têm ícones similares aos que são vistos no Mac e nos PCs com Windows. O Kindle Fire é diferente. A Amazon instalou, nele, uma versão modificada do sistema operacional Android, do Google, com uma interface própria extremamente simples, que se parece mais com uma banca de jornais que com uma mesa de trabalho.
Quando o tablet da Amazon é ligado, o que surge na tela é uma espécie de prateleira com revistas, livros, apps e outros itens recentemente abertos. Com os dedos, pode-se ir rolando a lista para ver o restante dos itens disponíveis. Mais abaixo, ficam destacados alguns poucos aplicativos para acesso a redes sociais e outros serviços.
Um menu ao alto relaciona diferentes categorias de conteúdo: revistas, livros, música, vídeo, documentos, aplicativos e web (este último item aciona o browser Silk, da própria Amazon). Os fãs do sistema Android vão detestar essa interface. Mas é provável que os leigos gostem.
5 Não é preciso configurar nada
O usuário do Kindle Fire necessita de uma única conta na Amazon para ter acesso a aplicativos, vídeos, livros, revistas e música. E, como ele só pode comprar o tablet da própria Amazon, o dispositivo já vem configurado com a conta dele. Não é preciso sincronizar o tablet com o computador e nem fazer uma configuração inicial. Basta carregar a bateria, ligar e usar.
Se a pessoa quiser instalar mais aplicativos e jogos, deve ir à loja online da própria Amazon. Lá, são oferecidos apenas títulos testados pela empresa para uso no Fire. Assim, não há risco, por exemplo, de o usuário baixar um programa que exige um receptor GPS, algo que o tablet não tem. Resumindo, o tablet foi concebido para agradar a pessoas que não se sentem muito à vontade com tecnologia.
6 Há muito o que fazer no Fire
O Kindle Fire parece ter sido concebido para diversão e informação – não para trabalho. Segundo a Amazon, quem compra um Fire tem acesso imediato a 18 milhões de filmes, programas de TV, revistas, jornais, livros, músicas, apps e jogos. Há opções de aluguel de vídeos avulsos, além do sistema de assinaturas Amazon Prime. Esse serviço oferece conteúdos variados mediante o pagamento de 79 dólares por ano nos Estados Unidos (quem compra um Fire pode experimentar o serviço gratuitamente por 30 dias).
O usuário também pode ouvir músicas e consultar documentos armazenados no serviço de computação em nuvem da Amazon. No caso das músicas, o sistema lista separadamente as faixas armazenadas no tablet e aquelas que são recebidas da nuvem, via streaming. Para os brasileiros, porém, vale notar que a maior parte desse conteúdo só está disponível em inglês. E o serviço Amazon Prime é oferecido apenas nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, no Reino Unido e no Japão.
7 Outros aplicativos virão
São muitas as histórias de computadores e outros dispositivos que fracassaram porque não havia bons aplicativos para eles. Há indícios de que isso não vai acontecer com o Kindle Fire. Uma pesquisa feita pelas empresas IDC e Appcelerator mostrou que o Fire já é o tablet número um nos planos dos desenvolvedores de aplicativos para Android nos Estados Unidos.
Naquele país, 49% dos desenvolvedores consultados se disseram muito interessados em criar aplicativos para o Fire. Mundialmente, o Fire fica em segundo lugar, atrás da série Galaxy Tab, da Samsung. O resultado da pesquisa espelha o que acontece no mercado. O Fire tende a se tornar o tablet com Android mais vendido nos Estados Unidos em pouco tempo, mas ainda não há previsão de quando ele vai chegar a outros países.