7 efeitos (no mínimo) bizarros do aquecimento global
Esqueça as enchentes, secas, derretimento de geleiras e outros eventos associados ao aquecimento – a elevação das temperaturas do planeta reserva “surpresas” ainda mais inusitadas. Veja a seguir
(Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 17h11.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h17.
São Paulo – Quer sobreviver ao aquecimento global? Então seja pequeno. Pelo menos essa é a dica para os peixes, segundo um grupo de cientistas que estudam o efeito da elevação das temperaturas sobre a vida marinha. Em estudo divulgado ontem, os pesquisadores alertam que o aquecimento global vai deixar a situação mais difícil para peixes grandes (como a arraia gigante ao lado) que precisam de mais oxigênio que as espécies menores, um recurso cuja concentração tende a diminuir a medida que as águas dos oceanos esquentam. Mas esse não é o único efeito de causar surpresa associado ao aquecimento global. Outras consequências não menos inusitadas têm sido alvo de estudo dos cientistas. Clique nas fotos e confira
O aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera em um mundo em aquecimento pode ter um efeito drástico sobre a potência do ópio, extraído de papoulas, de acordo com um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Apesar da importância dos opiáceos na Medicina para a produção de analgésicos, essas substâncias narcóticas também são usadas na fabricação de drogas, como heroína. A atual safra de papoulas é duas vezes mais potente do que as cultivadas sob os níveis de dióxido de carbono registrados em 1950, segundo a pesquisa liderada por Lewis Ziska do Laboratório de Mudança Climática, do USDA. Se as projeções se mantiverem, o dióxido de carbono atmosférico vai aumentar em três vezes o nível de morfina nos opiáceos até 2030 e em 4,5 vezes até 2090.
Quem sofre com alergias respiratórias e asma deve se preparar: estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, prevê uma maior incidência nos casos alérgicos em decorrência do aumento das temperaturas. Os cientistas perceberam que os níveis mais elevados de dióxido de carbono estão contribuindo para a antecipação da estação da Primavera. Com as plantas crescendo mais cedo e produzindo mais pólen, a estação das alergias pode durar mais tempo.
O maior produtor mundial de uísque, a Escócia, deverá sentir o impacto das mudanças climáticas na bebida que lhe rende não só fama mas receita vultosa - no ano passado, o país exportou cerca de 12 bilhões de reais em uísque. Há motivos para se preocupar. Estudo encomendado pelo governo escocês em 2011 levantou ricos potenciais associados ao aquecimento global e a bebida. Entre eles, o de que o suprimento e a qualidade de cereais, especialmente o malte, poderá sofrer, no futuro, com secas, enchentes em regiões produtoras costeiras e doenças na plantação. Temperaturas mais elevadas também poderão tornar menos eficiente o processo de produção e afetar a disponibilidade de água.
Amantes de bisteca, salsicha, torresminho e outros derivados suínos, preparem-se: pode faltar carne de porco no mercado. O aviso vem da Associação Nacional de Porcos da Grã-Bretanha (NPA), segundo a qual a seca nos Estados Unidos e a consequente queda na produção de grãos que estão na base da alimentação dos animais já pode ser sentida na produção A situação é tão preocupante, que os produtores preveem uma escassez mundial de carne de porco e bacon no próximo ano. Já, os agricultores americanos, estimam que os preços da carne de porco vai bater novos recordes em 2013. Segundo economistas entrevistados pelo britânico The Guardian, o custo de levar o bacon para casa nos EUA quase dobrou desde 2006.
Essa é das mais curiosas e difícil de acreditar num primeiro momento, mas um grupo de pesquisadores americanos sugere que a elevação das temperaturas do planeta pode influenciar a formação de cálculos renais. Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, o estudo diz que aquecimento pode fazer com que 2,2 milhões de pessoas sofram com a doença até 2050, 30% a mais que os casos de hoje. A explicação é que as temperaturas elevadas podem intensificar a desidratação, apontada como um dos principais fatores de risco para o surgimento de pedras nos rins, uma vez que o baixo volume de urina leva a concentração de sais que formam os cristais.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, analisou a variação da altura das nuvens na última década, a partir de imagens captadas por satélites da agência espacial americana, Nasa. A altura média global das nuvens diminuiu de 30 a 40 metros entre março de 2000 e fevereiro de 2010, o que equivale a 1% de sua altura tradicional. Segundo o estudo, publicado recentemente na revista Geophysical Research Letters, a diferença é resultado de uma redução na formação de nuvens em altitudes elevadas. Os cientistas não sabem ao certo quais são as causas dessa baixa, mas especulam que a mudança seja uma reposta ao aquecimento do planeta.
A elevação das temperaturas tem causado o que os cientistas chamam de “estresse térmico” no mundo animal. Durante vinte anos, pesquisadores europeus vêm estudando o movimento de populações de aves e borboletas no continente frente às mudanças cada vez mais constantes no clima. O resultado preocupa: os animais simplesmente não conseguem migrar na velocidade necessária para habitats com condições propícias para alimentação e procriação e correm risco de desaparecer ao se concentrarem em regiões com clima mais hostil. Ou seja, as aves e borboletas europeias estão voando para longe de seus habitats mais adequados, sofrendo com o tal “estresse térmico”.