Grupos no Facebook vinham se mobilizando para interceder a favor da blogueira supostamente presa na Síria (Reprodução)
Maurício Grego
Publicado em 13 de junho de 2011 às 14h49.
São Paulo — Pobre Amina Abdallah Arraf al Omari! A autora do blog A Gay Girl in Damascus era lésbica e filha de um militante preso pelas tropas do ditador Bashar al-Assad. Suas histórias atraíram a simpatia de dezenas de milhares de pessoas nas redes sociais e listas de discussão. Um único grupo de apoio no Facebook conseguiu juntar 14 000 pessoas. Agora que foi revelado que o verdadeiro autor do blog é um impostor, sobrou a raiva das pessoas que se sentiram enganadas.
O blog A Gay Girl in Damascus foi criado em fevereiro. Seu objetivo declarado era mostrar como era a vida de uma mulher lésbica na Síria. Amina, a autora fictícia, dizia participar de manifestações contra o governo. Também falava sobre seus amores, encontros furtivos e a constante necessidade de fugir e esconder-se da repressão policial. No último dia 6, um post no blog assinado por uma suposta prima de Amina dizia que ela havia sido sequestrada. Três homens armados na faixa dos 20 anos de idade a haviam levado para os porões da ditadura.
Estamos furiosos
A notícia seria comovente se não fosse falsa. Num post no próprio blog, Tom MacMaster, um americano de 40 anos que estuda na universidade Edimburgo, na Escócia, confessou, ontem, ser o responsável pelos textos. Mas ele ainda contou uma última mentira, dizendo que escrevia de Istambul, na Turquia. Mais tarde, sua verdadeira localização acabou sendo descoberta.
A notícia causou raiva em pessoas que já vinham se mobilizando para interceder a favor de Amina. “Os administradores deste site estão tão furiosos quanto todo mundo com as revelações de Tom MacMaster”, diz um comunicado numa das páginas que defendiam Amina no Facebook. Na área de comentários da página, não faltam palavrões dirigidos ao farsante.
Mil desculpas
MacMaster, por sua vez, parece não saber onde esconder a cara. Num post publicado hoje no blog, ele se desmancha em pedidos de desculpas. “Estou realmente arrependido e me sinto péssimo por causa disso”, diz. “Eu traí a confiança de muita gente e brinquei injustamente com as emoções das pessoas. Comprometi a segurança de pessoas reais. E ainda dei credibilidade às mentiras dos regimes políticos.” Pode-se quase imaginar o homem de joelhos pedindo perdão.
MacMaster confessa que já interpretou personagens na internet antes. Já se inscreveu em sites de relacionamento usando nomes falsos e informações fictícias. No caso de Amina Arraf, ele diz que tentou “matá-la” várias vezes quando percebeu que o fenômeno estava ganhando força nas redes sociais. Mas era tarde demais.
O caso pode não ter consequências sérias para os sírios e sua rebelião contra a ditadura. Mas pode afetar a credibilidade de outros militantes na web. Pessoas que escrevem de países onde a liberdade de expressão é restrita e que assumem posições políticas poderão ser vistas com uma dose a mais de suspeita. Afinal, não haverá garantia de que não se trata de um novo Tom MacMaster.