Sergio All: fundador e CEO da Conta Black, ele quer criar um banco digital voltado para a periferia (Germano Lüders/Exame)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 20 de novembro de 2020 às 09h00.
Um estudo recente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) aponta que somente 5,8% dos fundadores de startups no país são negros. Em um país em que mais da metade da população se considera negra ou parda, há uma gigantesca falta de diversidade no mercado de tecnologia. Mesmo assim, alguns empreendedores tentam desafiar as estatísticas e montar negócios inovadores em um país socialmente atrasado.
Em reportagem publicada meses atrás, a revista EXAME apontou a falta de diversidade no ecossistema brasileiro de startups com estudos que mostram como o Brasil e o mundo tentam equilibrar a balança étnica do mercado de tecnologia. Isso ainda está longe de acontecer. Mas iniciativas recentes, como a criação de fundos de investimento e aceleradoras voltadas para o afroempreendedorismo, além de um plano para ampliar o acesso à educação, colocam o Brasil no caminho certo.
Marketplace e loja física com produtos ligados à cultura negra, a Afropolitan foi a primeira startup selecionada pelo Black Founders Fund, o fundo de investimento do Google voltado para negócios de empreendedores negros. Fundada em 2019 por Thiago Braziel e Elida Monteiro, a companhia também chamou a atenção da Afro.Estate, grupo de investimento-anjo.
O cirurgião-dentista Arthur Lima e o jornalista Igor Leonardo fundaram a Afrosaúde, healthtech que conecta profissionais negros da área de saúde com pacientes concentrados nas zonas periféricas das cidades. Com sede em Salvador, a empresa já conta com mais de 1.200 profissionais espalhados por 130 cidades brasileiras. A empresa foi acelerada pela empresa Qintess, que tem um programa de aceleração com a Vale do Dendê.
Fundada em 2016, a Conta Black já foi chamada de “Nubank da periferia” e tenta levar o banco digital para as classes mais baixas da população brasileira. O idealizador desta ideia é Sergio All. Até a metade do ano, a empresa já havia conquistado mais de 3 mil clientes, tendo outros 6 mil em uma lista de espera e a meta era atingir 50 mil contas abertas até o fim do ano, sendo que 70% delas deveria ter como donos clientes com pele preta ou parda. O faturamento previsto para 2020 gira em torno de 15 milhões de reais.
A empresa também recebeu investimento do Google através do Black Founders Fund. A companhia fundada por Nohoa Arcanjo e Rodrigo Allgayer ainda em 2017 desenvolveu uma plataforma em que conecta profissionais da indústria criativa com empresas que precisam de seus serviços. A ideia é facilitar a contratação de profissionais freelance. Qualquer pessoa pode se cadastrar na plataforma.
Com foco no turismo, a Diaspora.Black oferta um marketplace de aluguel de acomodações e de experiências, que podem ser passeios, palestras, workshops, entre outros. A ideia é de Carlos Humberto, André Ribeiro e Antonio Luz. Com clientes em mais de 145 cidades de 18 países, a empresa já tinha uma média de 100 mil acessos mensais antes da pandemia e já recebeu um aporte de 600 mil reais da gestora Vox, além de ter sido uma das selecionadas para um programa de aceleração do Facebook.
Fundada por Cairê Moreira, a Genyz quer levar a alfaiataria para a nova geração. A startup atua com pesquisas e desenvolvimento de tecnologias 3D com o foco no mercado de moda. A empresa desenvolveu uma tecnologia que faz o escaneamento corporal e permite a confecção de peças de vestuário feitas exclusivamente para aquele cliente. Tudo mais rápido do que uma alfaiataria tradicional.
Tiago Santos, empreendedor negro que já trabalhou em empresas como IBM e a startup canadense Must Have Menus, fundou a fintech Huzky em 2016 ao lado do também experiente desenvolvedor Mauricio Carvalho. O negócio gira em torno de uma plataforma que facilita o recebimento de pagamentos por pessoas que estão morando fora do Brasil. Com faturamento em 2019 de 1,7 milhão de reais, a fintech já tem mais de 4 mil clientes.
No setor de tecnologia da informação está outra startup comandada um empreendedor negro. É a Inova QA, fundada em 2016 por Diego Conrado, especialista em sistemas da informação. A companhia atua com testes de software para identificar erros em sistemas antes que estes possam acarretar prejuízos para as companhias que os utilizam. A empresa foi acelerada pela BlackRocks, fundo voltado para fomentar o afroempreendedorismo.
A empresa de Julio Cesar Cosmo já recebeu 4,5 milhões de reais em aportes desde que foi fundada, ainda em 2014. O que seduziu os investidores – sendo que um deles é a gigante americana Oracle – foi o modelo de negócio, voltado para a educação profissional das pessoas, principalmente daquelas com a pele escura. A startup faz a análise de dados para instituições de ensino com objetivo de entender por que um estudo aprende mais rápido que outro.
A capital baiana abriga a sede da terceira startup apoiada pelo programa do Google. A TrazFavela foi fundada por Iago Santos e Lucas Fernando e funciona como um aplicativo de entrega aos moldes de empresas como iFood e Rappi. A diferença é que o objetivo é fortalecer o comércio local, principalmente aquele atuante dentro de zonas periféricas e favelas, onde muitas vezes os aplicativos mais conhecidos não chegam.