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Como as plataformas de streamings estão inaugurando uma nova Hollywood

A pandemia acelerou a presença dos filmes produzidos para o on demand nas premiações mais prestigiadas do cinema. Qual é o impacto disso?

A Voz Suprema do Blues, da Netflix:  cinco indicações e dois prêmios do Oscar em 2021 (David Lee/Netflix/Divulgação)

A Voz Suprema do Blues, da Netflix: cinco indicações e dois prêmios do Oscar em 2021 (David Lee/Netflix/Divulgação)

MD

Matheus Doliveira

Publicado em 18 de novembro de 2021 às 05h03.

Entrar no circuito das premiações mais prestigiadas do mundo e concorrer com os estúdios americanos mais tradicionais que existem não é a única preocupação dos streamings quando falamos de cinema. Por meio de investimentos e aquisições estratosféricas, as plataformas de vídeo on demand estão se empenhando para inaugurar uma nova Hollywood.

Em 2019, às vésperas de lançar o Disney+, a companhia do Mickey Mouse pagou 71,3 bilhões de dólares pela Fox. O acordo incluiu os estúdios 20th Century Fox, Fox Searchlight Pictures, Fox 2000 ­Pictures, Fox Family e Fox Animation, e foi fundamental para rechear o catálogo do Disney+, que soma 116 milhões de assinantes dois anos após sua estreia.

Em maio deste ano, foi a vez de o Amazon Prime Video ir às compras. A marca arrematou a Metro-Gold­wyn-Mayer, estúdio por trás de sucessos como a franquia 007, por 8,4 bilhões de dólares. Todos os mais de 4.000 filmes e 17.000 programas de televisão da MGM foram incluídos no pacote. “O valor financeiro real por trás desse negócio é o tesouro de propriedade intelectual no profundo catálogo que planejamos reimaginar e desenvolver”, afirma Mike Hopkins, vice-presidente sênior do Prime Video e Amazon Studios.

Os filmes da MGM, fundada em 1924, somam mais de 180 estatuetas do Oscar. Para Aly Muritiba, diretor do longa-metragem brasileiro Deserto Particular, que representará o Brasil no Oscar 2022, os streamings­ estão cada vez mais interessados em atrair a atenção para as produções originais, o que pode ser revertido em assinantes. “As plataformas estão mais atentas à produção de obras autorais. Elas querem ser prestigiadas e premiadas nos festivais”, afirma.

Os festivais tinham resistência a aceitar filmes em streaming. Com os cinemas fechados pela pandemia, o Oscar revogou no ano passado a obrigatoriedade de as produções ficarem em exibição nas salas por uma semana antes da premiação. “Acho que a tendência é essa: as premiações vão voltar suas atenções muito mais para o streaming do que para o cinema”, afirma o crítico de televisão Flávio Ricco. “Mas o cinema nunca deixará de ser considerado. Os estúdios vão ter de conviver com a concorrência.”

Mesmo mais presentes nos festivais internacionais, os streamings ainda são vetados em alguns eventos. Em 2018, os organizadores de Cannes exigiram que para concorrer à Palma de Ouro seria obrigatório lançar os filmes nas salas de cinema. A Netflix, que na época havia acabado de conquistar o Leão de Ouro em Veneza com Roma, longa original dirigido por Alfonso Cuarón, reagiu retirando todos os seus títulos do festival.

O boicote continua, mas passou a ser exceção. “Essa é uma realidade que veio para ficar. As premiações estão levando em conta as produções dos streamings. O que importa é a qualidade dos filmes. Roma e O Som do Silêncio, do Amazon Prime Video, são a prova disso”, afirma Muritiba.

Líder do mercado de streamings, o histórico da Netflix nas grandes premiações revela como o cenário vem mudando rapidamente nos últimos anos. O streaming conquistou seu primeiro Oscar em 2018 com Ícaro, eleito pela Academia como o melhor documentário daquele ano. Em 2019, o filme Roma recebeu dez indicações e levou três estatuetas para casa. Já em 2021, a Netflix conquistou sete Oscars, com filmes como A Voz Suprema do Blues, fazendo do streaming a produtora mais laureada da ocasião, à frente dos estúdios tradicionais.

Além de verem suas obras sendo mais reconhecidas pela crítica, os streamings também estão impactando os calendários de lançamento da indústria cinematográfica. Viúva Negra, filme da Disney lançado em julho, é um dos exemplos que mostram como Hollywood está lidando com a nova fase. Scarlett Johansson, protagonista do spin-off da saga Os Vingadores, processou a Disney por lançar o filme simultaneamente nas salas de cinema e no Disney+. Segundo a atriz, a exibição do longa-metragem no streaming a prejudicou financeiramente, já que seu contrato tinha como base uma porcentagem do que seria arrecadado nas bilheterias.

Duna, baseado no épico de ficção científica de Frank Herbert, é outro filme lançado recentemente em dose dupla: estará disponível na HBO Max e já arrecadou mais de 40 milhões de dólares nas bilheterias americanas. A tendência é que os próximos grandes lançamentos do streaming sigam o exemplo.  

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