Objetos produzidos numa impressora 3D: mais baratas e fáceis de usar, elas revertem a antiga lógica industrial (Michael Appleton/The New York Times/Latinstock)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2012 às 07h00.
Nova York - Na série Jornada nas Estrelas, bastava uma ordem para que uma máquina materializasse instantaneamente uma xícara de chá. Ou um prato de sopa de tomate. A ficção, nesse caso, está cada vez mais próxima da realidade. É o que defende o americano Chris Anderson, autor do livro Makers — A Nova Revolução Industrial, lançado em outubro.
Atualmente, uma impressora 3D, produzida por novas empresas, como a MakerBot, criada em 2005 em Nova York, custa apenas cerca de 2 000 dólares nos Estados Unidos. Uma década atrás era acessível somente a indústrias ao custo de 1 milhão de dólares por aparelho.
Hoje, além de barata, a impressora cabe numa mesa de trabalho e produz objetos de plástico em pouco mais de meia hora. Para Anderson, a tecnologia deverá se espalhar, à semelhança do que aconteceu com o computador pessoal a partir dos anos 80.
O resultado, segundo ele, é a Terceira Revolução Industrial — depois da invenção das primeiras máquinas industriais, no fim do século 18, e da linha de montagem, no início dos anos 20. Mas agora a tecnologia não veio para ampliar a capacidade de produção em massa. Ao contrário. Pela primeira vez transfere o poder de criar, produzir e vender a qualquer pessoa.
Anderson é ao mesmo tempo observador e integrante do movimento — em novembro, anunciou sua saída da revista de tecnologia Wired após mais de uma década no comando, para dedicar-se exclusivamente à sua empresa, a 3D Robotics, que produz pequenos modelos de aeronaves controlados eletronicamente. E, sim, ele faz seus protótipos em impressoras 3D. A seguir, os principais trechos de sua entrevista a EXAME.
EXAME - Em seu novo livro, o senhor defende que estamos na Terceira Revolução Industrial. Quais são os indícios disso?
Chris Anderson - Já vimos o poder transformador da rápida ascensão de novas tecnologias, como o computador pessoal nos anos 80 e a internet a partir da década de 90.
O mesmo deverá ocorrer com as impressoras 3D. Com preços cada vez mais acessíveis a pessoas comuns, esses equipamentos permitem que elas façam os próprios protótipos e, com o rápido avanço da tecnologia de impressão 3D, produtos acabados em poucos minutos.
Tudo isso custava centenas de milhares de dólares e só era viável para grandes indústrias há cinco anos. Hoje, as pessoas têm em sua mesa de trabalho todas as condições para planejar e produzir suas criações, encontrar investidores em sites pela internet e vender seus produtos — tudo sem sair de casa.
EXAME - Qual é o estágio atual dessa transição?
Chris Anderson - Talvez estejamos em algum momento equivalente a 1984 para a computação pessoal. No começo, logo após a produção dos primeiros aparelhos, apenas uma porção de aficionados de tecnologia comprava computadores para ter em casa. Hoje, ninguém pode conceber a vida sem um.
Da mesma forma, ninguém sabia muito bem para que serviria a internet em 1993. Ou como ela mudaria nossa vida. Ainda não parece óbvio para todos se teremos impressoras 3D no nosso dia a dia. A evolução das vendas, porém, mostra uma tendência clara.
EXAME - Essas máquinas são difíceis de manejar? Quais são os conhecimentos necessários para usá-las?
Chris Anderson - As impressoras 3D são cada vez mais fáceis de manejar. Hoje, uma criança pode usá-las facilmente. Pode criar seus próprios bonecos e imprimi-los em casa, como se faz com uma fotografia. Da mesma forma, pessoas comuns começam a empreender de maneira mais barata e rápida.
EXAME - Além das máquinas 3D, quais fatores impulsionam essa nova onda de empreendedorismo?
Chris Anderson - As impressoras 3D são apenas a ponta mais visível dessa história toda. Há programas cada vez mais acessíveis na internet que facilitam que pessoas sem treinamento projetem objetos. Além disso, a colaboração entre pessoas conectadas pela internet permite tanto a colaboração na criação de produtos quanto a arrecadação de dinheiro.
Estão surgindo cada vez mais sites como o Kickstarter, uma plataforma para aproximar pessoas comuns dispostas a financiar projetos e empreendedores. Alguns funcionam bem, outros ainda estão em progresso. Isso alimentou, e muito, o modelo de produção no estilo “faça você mesmo” nos últimos anos.
EXAME - Até que ponto o fenômeno pode ganhar escala e se tornar verdadeiramente transformador?
Chris Anderson - As novas tecnologias dão condições para que empreendedores atendam mercados de nicho — com produtos e serviços pequenos demais para uma grande empresa. Elas permitem que as pessoas supram demandas restritas — que fazem parte da cauda longa, numa referência a meu primeiro livro (A Cauda Longa, de 2006).
São empresas como a BrickArms, que produz réplicas de armas da Segunda Guerra Mundial para bonecos da Lego. A empresa global não produz armas, por uma regra interna. Um empreendedor, que iniciou uma produção caseira para completar uma coleção própria, decidiu colocar os produtos à venda na internet e deu certo. Hoje vende para diversos países, como Alemanha, Austrália e Canadá.
EXAME - A tendência representa uma oportunidade ou uma ameaça para as grandes companhias?
Chris Anderson - É uma oportunidade para todos. Muitas empresas grandes já aproveitam as comunidades da internet para acelerar a própria inovação. E, à medida que as impressoras se tornam mais precisas, já se fala na possibilidade de que as empresas não precisem mais entregar fisicamente certos produtos. E, sim, enviem arquivos para ser impressos em casa.
EXAME - O movimento pode ajudar a trazer empregos da indústria de volta para os países ricos, como os Estados Unidos?
Chris Anderson - Acho que o movimento pode trazer uma nova forma de empregos na indústria para os Estados Unidos, que não existiam antes. São pessoas que ganham ao participar de processos de inovação aberta, que produzem as próprias criações para vender pela internet, sem sair de casa. A tecnologia pode tornar a atividade empreendedora mais acessível a qualquer um. Essa é a revolução.