O presidente Michel Temer durante o anúncio de intervenção no Rio de Janeiro: solução apressada | Fotos públicas /
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2018 às 05h02.
Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 15h55.
No dia 16 de fevereiro, o presidente Michel Temer anunciou a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Com a medida — a primeira desse tipo desde a redemocratização do Brasil em 1985 —, o Exército passou a controlar as polícias, os bombeiros e a área de inteligência do estado. Como nenhuma mudança na Constituição pode ser feita durante o período de intervenção federal, que nesse caso vai até 31 de dezembro, um efeito concreto é que a reforma da Previdência, que já vinha naufragando pela dificuldade do governo em obter votos para aprová-la no Congresso, fica engavetada. Para muitos analistas, foi uma jogada esperta do presidente Temer, que trocou um tema impopular e controverso — a mudança nas aposentadorias — por outro que conta com amplo respaldo da opinião pública — o combate à violência. Uma pesquisa do Ibope revelou que 84% dos entrevistados no Rio apoiam a intervenção.
Temer nega que a medida de exceção no Rio tenha motivação eleitoreira e afirma não ser candidato à reeleição. Qualquer que seja sua real intenção, é certo que o presidente conseguiu colocar os holofotes em um tema sensível para os brasileiros e que nos próximos meses deve estar no centro dos debates entre postulantes ao Palácio do Planalto. A carta que Temer tirou da manga às pressas embaralhou o jogo eleitoral e provocou reações até certo ponto surpreendentes. A ex-senadora Marina Silva declarou apoio à intervenção federal, “em decorrência da situação de calamidade” no Rio de Janeiro. Já o deputado Jair Bolsonaro, um defensor do regime militar e que faz da segurança pública uma de suas principais marcas, criticou a medida por considerar que ela foi tomada “dentro de um gabinete”.
Ainda que Bolsonaro possa estar descontente por dividir com Temer o debate da segurança pública, ele tem razão em um ponto: não se combate a criminalidade com uma canetada ou com medidas emergenciais. Como mostra a reportagem de capa desta edição de EXAME, a insegurança no Rio de Janeiro e em outras regiões do país é um problema estrutural — da falta de investimento em inteligência para auxiliar nas investigações à superlotação do sistema penitenciário e à inadequação da política nacional antidrogas. A boa notícia: não é preciso adotar nenhuma solução mirabolante para melhorar a segurança pública do país no curto prazo: a maioria das medidas recomendadas pelos especialistas poderia surtir efeitos em até quatro anos. O custo, por outro lado, fica bem abaixo de programas para lá de duvidosos.
A intervenção a toque de caixa no Rio dará certo? Estamos todos torcendo para que sim, para o bem da população que tanto vem sofrendo nas mãos de facínoras. Mas há quem alerte para o risco de a atividade criminosa simplesmente migrar para outros estados menos aparelhados. Nesse caso, as Forças Armadas seriam constantemente convocadas para cobrir a ineficiência das polícias estaduais, o que certamente não é o seu papel. O Brasil se aproxima de mais uma disputa eleitoral. Faz todo o sentido encarar nossas mazelas, sair do improviso e pensar em programas de ação completos. Com a reportagem de capa desta edição, EXAME dá sua contribuição a esse urgente debate.