Clientes fazem o próprio vinho na Crushpad: ao todo, a vinícola já atendeu mais de 5 000 clientes (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 06h00.
Em 2002, o americano Michael Brill derrubou todas as árvores que tinha em sua casa em São Francisco, na Califórnia, e plantou 24 parreiras de pinot noir. No ano seguinte, sem nenhuma experiência prévia, chamou alguns amigos para produzir vinho em sua garagem. “As pessoas paravam na frente da minha casa e perguntavam o que eu estava fazendo e, quando eu respondia, pediam para ajudar”, diz Brill. “Em alguns meses, já tinha mais de 100 pessoas em minha lista de voluntários.”
Foi justamente nessa época que Brill se deu conta de que havia ali um mercado a ser explorado, o de amantes de vinho dispostos a produzir a própria bebida. Brill largou sua posição de vice-presidente de marketing de uma companhia de software no Vale do Silício e, em 2004, fundou a Crushpad, uma empresa que permite a qualquer pessoa se tornar vinicultor, escolhendo desde a mistura de uvas até o design do rótulo na garrafa.
Informalmente, vinícolas americanas sempre permitiram que curiosos participassem de alguma etapa do processo de produção de vinho. A inovação da Crushpad foi radicalizar essa prática. Nos últimos seis anos, mais de 5 000 clientes tiveram a experiência de brindar com o próprio vinho — oportunidade até agora inexistente nas vinícolas brasileiras.
No início, caminhões cheios de uva descarregavam em frente à sua sede. Em 2008, a Crushpad passou a produzir também na tradicionalíssima região de Bordeaux, na França, numa parceria com o empreendedor britânico Jonathan Maltus, dono do Château Teyssier, na região de St. Emilion. Recentemente, Brill precisou mudar a sede da empresa para um espaço maior, a 40 minutos de São Francisco, no Napa Valley. Agora, planta uvas chardonnay e merlot num terreno de 100 000 metros quadrados. Ainda assim, continua oferecendo a possibilidade de os clientes fazerem suas escolhas numa lista que inclui mais de 50 fornecedores nos Estados Unidos e na França.
O perfil do cliente é de homens entre 35 e 55 anos, normalmente executivos dispostos a gastar pelo menos 8 000 dólares. Esse é o valor mínimo exigido na produção de um barril de 225 litros, o que dá uma média de 27 dólares por cada uma das 300 garrafas de 750 mililitros. Os que se decidem pelas uvas mais caras acabam deixando 10 000 dólares com a Crushpad. Muitos clientes tentam recuperar parte do dinheiro com a venda dos vinhos que produzem.
É o que faz o americano Michael Giarraputo, dono de uma pequena empresa de marketing e criador dos vinhos Think Tank. Além de degustar seu tinto pinot noir e seu branco syrah, Giarraputo vende suas criações em um site na internet, montado com a ajuda da vinícola. A Crushpad dá palestras sobre todos os aspectos da produção da bebida em sua sede, mas Giarraputo optou por aprender sobre teor alcoólico, acidez e enzimas de fermentação com os vídeos da empresa na internet. A partir daí, ele foi à Califórnia colocar a mão na massa. Quem não tem a mesma disposição pode simplesmente disparar as ordens pela internet, com a escolha das uvas, do tipo de fermentação e do rótulo, e receber as garrafas em casa.
O caminho até o brinde
Giarraputo estava em São Francisco em 2007 quando as uvas que tinha encomendado chegaram e pôde fazer a separação dos melhores frutos na esteira e a escolha de como queria a maceração (o processo de esmagamento, feito não com os pés, mas em máquinas específicas). “O processo é longo, dá muito trabalho e por vezes nos deixa angustiados, querendo que o vinho fique pronto de uma vez.
Mas logo você descobre que o divertido é separar os galhinhos das uvas, provar o mosto e discutir com os outros clientes”, diz Giarraputo, que depois de um ano e meio já estava com o próprio vinho sobre a mesa de seu apartamento. Em 2009, ele decidiu repetir a dose e produziu mais um barril.
Além da Crushpad, há duas opções para os aspirantes a vinicultor, ambas em Nova York. Uma delas nasceu de um ex-funcionário da Crushpad, Conor McCormarck, que no início de 2010 fundou a Brooklin Winery. O modelo de negócios é o mesmo: os interessados podem assistir às palestras e tomar as decisões via internet ou na sede da empresa.
O que muda é o tamanho: a vinícola ocupa uma área de 650 metros quadrados. O preço do barril também é menor: 5 700 dólares. A outra vinícola da cidade é a City Winery. Lá é comum ver funcionários de escritórios de advocacia em atividades patrocinadas por suas empresas como parte de um trabalho de integração. Para a Crushpad vão os clientes mais ambiciosos, que, como Giarraputo, tentam transformar o hobby em negócio. Dezessete deles chegaram a receber notas superiores a 90 de Robert Parker, o papa quando o assunto é degustação de vinhos. Esses, sem dúvida, merecem um brinde.