Alvin E. Roth: "Empresas do Vale do Silício têm contratado muitos designers de mercado" (JONATHAN NACKSTRAND/AFP PHOTO)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2016 às 05h56.
São Paulo — Para Alvin E. Roth, professor de economia na Universidade Stanford, não há desafio que a matemática não possa resolver.
Foi com essa certeza que ele começou a estudar um problema que há muito intrigava os economistas: como criar um sistema que permita o casamento perfeito entre doadores de órgãos e pacientes, entre alunos do ensino público e escolas — ambos mercados que não são definidos pelo dinheiro.
As descobertas de Roth deram corpo a uma nova área, chamada de “desenho de mercado”, fizeram com que ele levasse o Nobel de Economia em 2012 e recentemente escrevesse um livro para explicar suas ideias ao grande público. "Quem Fica com o Quê — e Por Quê" será lançado no Brasil em meados deste ano.
Exame - O que é o desenho de mercado?
Roth - Até recentemente, os economistas olhavam principalmente para os mercados nos quais os preços determinam quem fica com o quê. Por exemplo: as ações na bolsa de valores têm um preço, e quem tem dinheiro e acha que vale a pena as compra.
Mas alguns mercados não funcionam assim. Não aceitam dinheiro, como no de transplantes. Os rins não estão à venda. O desenho de mercado estabelece as melhores regras para o funcionamento desses mercados.
Exame - O desenho de mercado prova que o laissez-faire, um liberalismo econômico sem interferências em todas as esferas da vida, é inviável?
Roth - Costumo brincar que os mercados funcionam entre a “mão invisível” de Adam Smith, para quem o principal motor do mercado é a busca das pessoas pelos interesses próprios, e os planos quinquenais de Mao Tsé-tung.
Mas claro que não estou sendo justo com Smith. Ele nunca disse que os mercados não têm regras. Nós, os designers de mercado, não tentamos definir quem vai ganhar o quê, como os planos comunistas, mas como o mercado funciona livremente.
Exame - Qual era a falha no mercado de rins antes de sua intervenção?
Roth - Não havia quase nenhuma doação porque os pacientes tinham de encontrar doadores compatíveis por conta própria.
Exame - O que o senhor fez para atacar esse problema?
Roth - Primeiro, eu e outros pesquisadores aumentamos o tamanho do mercado com bancos de dados. Depois criamos um algoritmo capaz de mostrar a compatibilidade entre doadores e pacientes. Assim, elevamos o número de transplantes e a chance de sucesso. Tudo com modelos matemáticos.
Exame - Os economistas estão trabalhando como engenheiros, consertando mercados?
Roth - Sim. Isso é uma tendência. No Vale do Silício, por exemplo, mais e mais empresas de tecnologia estão contratando designers de mercado como economistas-chefes.
Exame - Que outros mercados foram corrigidos?
Roth - Em várias cidades americanas, criamos sistemas para facilitar a matrícula em escolas públicas. Em Nova York, por exemplo, havia quase o mesmo número de alunos e vagas, mas o sistema era tão complicado que todos os anos 30.000 estudantes iam para uma escola que não tinham escolhido. Fizemos um algoritmo que direciona o aluno de acordo com o ranking de opções que ele nos entrega.
Exame - Quais as falhas de mercado que os economistas nunca conseguirão consertar?
Roth - Nunca diga nunca...