Monta e desmonta: arenas provisórias, como a usada num torneio de vôlei de praia em Londres, são um dos negócios em alta com a Olimpíada (Scott Heavey/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2011 às 18h06.
São Paulo - Nem só de bolas, raquetes, redes e jogadores se faz o esporte. A infraestrutura para realizar os cerca de 60 jogos de futebol de uma Copa do Mundo e as centenas de provas das mais de 30 modalidades dos Jogos Olímpicos envolve muito mais.
Participam desse mercado desde escritórios de arquitetura, construtoras e responsáveis pela manutenção das arenas até seguradoras, lavanderias e fornecedoras de sistemas muito específicos, como os de detecção de gases tóxicos. Estima-se em quase
7 bilhões de reais o total a ser movimentado com o investimento nos equipamentos e serviços destinados a estádios e ao restante da infraestrutura esportiva da Copa e da Olimpíada que ocorrerão no Brasil.
“Eventos desse porte são como uma indústria, com muitos negócios beneficiados”, diz Marcos Nicolas, diretor da empresa de consultoria Ernst & Young Terco.
Essa perspectiva está atraindo novas empresas para o país. Responsável pela gestão e manutenção de estádios, a holandesa Amsterdam Arena instalou um escritório em Brasília. A americana AEG, do mesmo ramo, fechou seu primeiro contrato brasileiro.
A futura arena Pernambuco, na área metropolitana de Recife, será um dos 100 grandes centros esportivos gerenciados pela AEG no mundo.
As empresas do setor promovem eventos, como shows, para manter a atividade nos ginásios e estádios e, dependendo do contrato, fazem também a zeladoria do local, mantendo lâmpadas, gramados e vestiários funcionando com qualidade.
Estabelecidas no país, estão interessadas na administração dos estádios-sede da Copa e também de outros em construção, como o do Grêmio e o do Palmeiras. “O Brasil representará um mercado muito importante para nossa companhia nos próximos anos”, diz o vice-presidente sênior da AEG, Chuck Steedman.
Os contratos pululam em setores dos mais diversos. Estima-se que as obras necessárias para a realização dos eventos esportivos vão fazer com que somente o mercado de seguros obtenha um faturamento adicional de 1 bilhão de reais até o fim da Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016.
Seguradoras globais, como a alemã Allianz e as americanas AIG e Liberty — que fechou um acordo com a Fifa para a cobertura da Copa do Mundo de 2014 —, assinam contratos em muitas outras frentes.
A transmissão das imagens por satélite, os jogadores, o transporte da tocha olímpica, o sistema de tráfego de dados, tudo precisa de seguro. “Até a gravação de um comercial transmitido durante o evento é segurada”, diz Angelo Colombo, diretor de grandes riscos da Allianz. “Há muitas oportunidades e novos negócios surgindo.”
Sem precedentes
Algumas disputas serão realizadas em grandes palcos construídos especialmente para abrigar o espetáculo — caso dos estádios de futebol.
Outras acontecerão em estruturas móveis que duram pouco mais do que o tempo de treino e competição. Exemplos dessas estruturas são as quadras de vôlei de praia e as áreas de apoio às provas aquáticas, de mountain bike e maratonas de rua.
Projetar, construir arenas e montar (e desmontar) as armações temporárias exige empresas especializadas em executar cada uma das tarefas. Apenas os projetos de estádios para a Copa de 2014 movimentam mais de 100 milhões de reais, uma oportunidade sem precedentes no segmento de arquitetura.
Eduardo Castro Mello, sócio do escritório paulista Castro Mello Arquitetura Esportiva, diz que tradicionalmente fazia projetos para clubes ou complexos residenciais que não passavam de seis meses de duração.
O cenário mudou e o projeto da arena de Brasília, desenhado pelo escritório, está se desenrolando há três anos, tempo proporcional à complexidade da obra.
De acordo com Mello, mesmo depois de passada a demanda interna, as oportunidades continuarão. “Com o conhecimento que adquirimos, o Brasil poderá disputar contratos em outros países”, diz.
Um bom pedaço do bolo de encomendas deve ficar com as empresas de serviços de segurança. O setor tem expectativa de faturar 1,7 bilhão de reais com os esportes entre 2010 e 2014. A Gocil, de São Paulo, percebeu em experiências recentes que os grandes eventos podem ser um excelente negócio.
Cerca de 800 profissionais da empresa fizeram a segurança patrimonial do jogo de despedida de Ronaldo Fenômeno em junho deste ano. Foi o suficiente para a companhia, que faturou meio bilhão de reais em 2010, investir no treinamento da equipe e se candidatar a tarefas de recepção, limpeza, prevenção e combate a incêndios em 2014 e 2016.
“Se formos contratados em pelo menos uma das disputas da primeira fase da Copa, nosso faturamento no ano crescerá até 10%”, diz Washington Umberto Cinel, presidente da Gocil.
O fornecimento do tipo de segurança necessária para garantir a saúde do público é pleiteado pela pequena Clean, de Campinas, no interior paulista, especializada em sistemas de detecção de gases tóxicos em ambientes de concentração de pessoas.
A empresa, que também vende uma tecnologia de monitoramento da qualidade da água em que são disputadas as modalidades náuticas, avalia que seu faturamento evoluirá de 20 milhões neste ano para 60 milhões de reais em 2016.
Para muitas pequenas empresas, a demanda milionária requer a disposição de fazer adaptações na estrutura de produção e buscar associações para aproveitar as oportunidades. Essa é a situação da Flexform, fabricante de cadeiras com sede em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.
Até 2008, o foco da Flexform não eram os assentos esportivos. Para ampliar seu poder de competição nesse mercado, a empresa investiu em uma nova linha de negócios após firmar parceria com a italiana Beriplast.
Sabendo que cada estádio da Copa do Mundo terá em média 60 000 cadeiras — somando a arquibancada, os camarotes, os setores VIP e o banco de reservas —, a Flexform também reforçou a capacidade de produção com investimento em uma nova linha de montagem. A intenção é fornecer para, ao menos, dois ou três estádios dos 12 que serão sede dos jogos de 2014.
Se isso ocorrer, a Flexform deverá faturar 50 milhões de reais por arena, e sua receita total, de 125 milhões em 2010, poderá dobrar em três anos. “Estamos muito animados porque há chances de pedidos também de hotéis e aeroportos”, diz Pascoal Iannoni, presidente da Flexform. Para esses fornecedores, as competições já começaram.