que tal seguir o mestre?: na condução da economia, Lula mostrou mais inteligência e clareza do que Dilma (William Volcov/Brazil Photo Press/AFP Photo)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 16h03.
São Paulo - Os brasileiros viveram um momento de grande alívio, alguns dias atrás, quando a presidente Dilma Rousseff teve a consideração de anunciar a todos que não vai “matar o doente”, em vez da doença, com os remédios que pretende receitar contra a inflação — bicho de má índole, avesso a ser domesticado e que voltou a roncar no fundo do quintal.
Seu propósito, segundo foi possível entender pelas declarações que fez em viagem à África do Sul, é ir controlando a inflação na conversa, com ginga e jogo de cintura, em vez de abrir a caixa de ferramentas que normalmente se utilizam para segurar preços.
Não deu para compreender como, na prática, o serviço poderia ser feito — mesmo porque o governo só está conseguindo evitar os tratamentos anti-inflação que “matam” o paciente, de acordo com Dilma, mas não recebe como retorno aquele desenvolvimento que a presidente quer.
“Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso está datado”, disse a presidente, expondo seu pensamento em relação a medidas anti-inflacionárias que, a seu ver, levam à redução do crescimento econômico. “Esse receituário é complicado, entende?” Não, não se entende.
O receituário de Dilma, no mundo dos fatos, resultou num crescimento de 0,9% no ano passado — o já infame “pibinho” de 2012. Mas não deveria ser o contrário, com a avançada visão econômica da presidente mostrando que é possível crescer e controlar a inflação sem procedimentos “datados”? Deveria ser, mas não foi.
É difícil saber, também, por que Dilma insiste tanto em dizer “eu vou”, “eu não vou”, “eu posso”, “eu não posso”, “eu tiro”, “eu ponho” — eu, eu, eu. Não daria, de vez em quando, para dizer “nós”? Também não está claro qual seria o tamanho da inflação que a presidente considera ideal para o Brasil de hoje.
Não está claro porque ninguém no mundo, nem ela, sabe dizer qual tamanho seria esse. Dilma garante que a inflação está sob controle. Será?
Segundo seu próprio Banco Central calculou em dezembro último, a taxa deste ano deveria ser de 4,8%. No dia seguinte às suas declarações africanas, o mesmo BC projetou 5,7% de inflação para 2013. E se as previsões continuarem subindo? A que porcentagem a presidente estima que podemos chegar — ou quanto é, exatamente, aquele “um pouco de inflação que não faz mal a ninguém”?
Seria uma beleza, para o governo, definir esse número e mandar que ele não se atreva a sair de lá. Infelizmente, essa é uma opção inválida. É como soltar o monstro da jaula e pedir a ele, por favor, que se comporte com moderação.
A presidente se queixou de ter sido “mal interpretada” pela imprensa ao ver a bagunça criada por suas declarações — o “mercado”, palavra amaldiçoada que quer simplesmente dizer, na maioria das vezes, a soma das reações do bom senso comum diante de questões de dinheiro, não gostou do que ouviu.
Mas não houve má interpretação. Houve apenas a constatação lógica de que o governo, com esse tipo de palavrório, mostra que não sabe, realmente, o que está fazendo diante da inflação.
Atira aqui e ali, tenta piruetas que não impressionam quem deveria ser impressionado, quer armar triângulos com quatro lados — mas não mostra para onde está indo. Segurou os preços da gasolina, e causou uma devastação inédita no patrimônio da Petrobras.
Reduziu a tarifa da energia, e obteve um prejuízo de quase 7 bilhões de reais no desempenho da Eletrobras em 2012. Baixou ou eliminou impostos de produtos da cesta básica, e até agora ninguém percebeu nada. É um passeio ao acaso.
O tempo está provando que o ex-presidente Lula teve um desempenho muito superior, e agiu com muito mais inteligência, na condução da economia brasileira.
Teve o mérito de fixar um objetivo estratégico baseado num princípio, em vez de numa planilha de computador, para todos os seus oito anos de governo: o Brasil não pode ter inflação outra vez, e pronto. Teve a disposição de vencer todas as pressões para que mudasse de rumo. É uma clareza que ninguém está vendo hoje.