Andrés Moreno, fundador da Open English (Patrick Farrell/EXAME.com/Exame)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2013 às 14h27.
São Paulo - "No socialismo, a economia está a serviço do ser humano e é um instrumento fundamental para gerar igualdade.” O autor dessa frase, Hugo Chávez, líder venezuelano morto em março, tinha uma lista infindável de defeitos, mas ninguém pode acusá-lo de mentir sobre suas intenções na economia.
A partir do momento em que assumiu o poder, em 1999, o país foi progressivamente se transformando no que chamava de República Bolivariana da Venezuela, um dos piores lugares do mundo para fazer negócios. Em seu último estudo sobre ambiente de negócios, o Banco Mundial classificou a Venezuela em 180º lugar, numa lista de 185 países.
Foi nesse ambiente totalmente inóspito que o venezuelano Andrés Moreno decidiu seguir o roteiro dos jovens empreendedores americanos. Em 2003, aos 22 anos, largou a faculdade de engenharia mecânica na Universidade Simón Bolívar, em Caracas, a poucos meses da formatura, para abrir a própria empresa.
Se a mudança de rumo era ousada, o plano de negócios era o mais tradicional possível. Moreno montou uma escola de inglês, daquelas que podem ser encontradas em bairros de classe média de toda capital latino-americana, com salas de aula e turmas presenciais. Foi só três anos mais tarde que ele decidiu oferecer aulas de inglês pela internet, o que algumas empresas já faziam na Europa.
Moreno aplicou o modelo na Venezuela e rapidamente decidiu replicá-lo na América Latina. Hoje, sua Open English está em 25 países e tem 91 000 alunos, sendo 20 000 no Brasil. Segundo fontes do mercado, a empresa fatura cerca de 90 milhões de dólares (ela não revela sua receita) e tem valor de mercado estimado em 350 milhões de dólares. Empreendedorismo, tecnologia, expansão internacional — como tudo isso foi possível dentro do coração do projeto chavista?
Moreno foi buscar o dinheiro onde ele estava. Logo após decidir focar no ensino a distância, contratou, junto com um colega de faculdade, dez programadores para desenvolver o sistema. Todos trabalhavam em seu apartamento.
Depois de sete meses, e mais um apartamento alugado para acomodar outros 20 programadores, viu sua conta bancária chegar a 700 dólares e aceitou a ajuda de um amigo que morava no Vale do Silício, na Califórnia. Mas não pediu a ele dinheiro, apenas para dormir no sofá de sua sala por um mês.
Esse era o prazo que tinha para convencer investidores de capital de risco americanos. “Fazer isso foi mais difícil do que abandonar a faculdade”, afirma Moreno. O primeiro cheque, de 50 000 dólares, foi conseguido numa igreja de Los Angeles frequentada por milionários.
Moreno foi à missa convidado por uma americana que havia conhecido na Venezuela pouco tempo antes — Nicolette, hoje sua esposa e sócia. Em sete anos, a Open English levantou 120 milhões de dólares com fundos de capital de risco, como o TVC, sócio do Facebook, e o Insight Venture Partners, que detém participação nos sites Decolar e Hotel Urbano.
“Sabemos que a competição é forte nesse mercado de educação, mas acreditamos muito no potencial de crescimento da internet”, diz Pueo Keffer, sócio do Redpoint Ventures, outro fundo que investiu recentemente na Open English. Não existem dados oficiais, mas estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo estudem inglês, quantidade que deve dobrar até 2020.
Aulas no PC
Moreno ofereceu um serviço que se tornou viável na América Latina com o aumento da banda larga na região. A escola online funciona 24 horas, sete dias na semana, com aulas dadas por professores americanos que moram nos Estados Unidos ou no exterior. As classes virtuais são formadas a cada início de hora com quatro alunos, em média.
A parte mais sofisticada da tecnologia entra na formação das classes. É tudo feito rapidamente, com base num banco de dados. Assim, o sistema agrupa os alunos com perfis semelhantes e envia os relatórios ao professor.
Entre as empresas online de idiomas, a sueca Englishtown é a maior, com 150 000 alunos, mas a competição não se resume às startups da web, porque algumas escolas tradicionais também estão se aventurando nos cursos a distância. “A tecnologia está transformando o mercado de educação”, diz Carlos Wizard, dono das redes Wizard e Yázigi, que adquiriu a escola online EZlearn. A Cultura Inglesa do Rio de Janeiro criou há 13 anos um curso exclusivamente a distância e já tem 10 000 matriculados.
Mesmo que explorar cursos online seja uma opção atraente para as escolas de inglês, a própria experiência da Open English mostra que esse novo mercado tem seus percalços. Dos 2 000 funcionários da empresa, quase 1 000 são professores. A maior parte dos demais trabalha em call centers.
Seu papel é ligar para os alunos para mantê-los motivados e, claro, em dia com o pagamento das mensalidades. Esse é o maior desafio. Cerca de 30% dos estudantes virtuais desistem dos cursos, percentual bem acima do das escolas tradicionais. O ensino a distância, enfim, tem características próprias — mas poucos duvidam que será cada vez mais presente na educação.