André Lahóz Mendonça de Barros (à esq.), diretor de redação de EXAME; Marcos Bosi, conselheiro do Fleury; e Felipe Gonçalves, executivo da AbbVie: custos da saúde em alta (Germano Lüders/Exame)
Flávia Furlan
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 12h02.
Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 12h08.
É uma ótima notícia que a ciência e a tecnologia estejam avançando para fazer as pessoas viver mais tempo e melhor. Mas as inovações vão fazer os custos com a saúde disparar? Os especialistas participantes da segunda parte do EXAME Fórum Saúde, realizada no dia 7 de novembro em São Paulo (o primeiro encontro foi no dia 11 de setembro), dizem que não necessariamente.
Uma das conclusões a que chegaram é que, num primeiro momento, as inovações trazem um aumento dos custos, mas isso tende a arrefecer ao longo do tempo. “Os equipamentos e os tratamentos inovadores têm, sim, seu custo inicial, que precisa ser considerado, mas a tendência é que ele se reduza”, diz Jeane Tsutsui, diretora executiva para a área de pesquisa e desenvolvimento do grupo de diagnósticos médicos Fleury.
Veja o caso do sequenciamento genético: o teste, que custava 100 milhões de dólares em 2001, já pode ser realizado por 1.000 dólares, e a previsão é que caia para 100 dólares em 2018. Ou, melhor ainda, o caso da dose de penicilina, que, em 1945, custava 272 dólares (em valores atualizados), mas hoje é acessível por menos de 10 dólares.
O alto custo inicial decorre do investimento na pesquisa. O desenvolvimento de uma molécula que trate o câncer exige 1,5 bilhão de dólares aplicados por um prazo que pode chegar a 15 anos. A cada 10 000 moléculas pesquisadas, apenas uma vira um remédio. “Com um volume maior de novas tecnologias desenvolvidas, vai haver mais competição, um dos fatores que fazem o custo cair”, diz Felipe Marques Gonçalves, executivo de estratégia de medicamentos biológicos na farmacêutica americana AbbVie, presente ao Fórum.
A preocupação com o custo da saúde ocorre porque, nos últimos anos, ele disparou pelo mundo: nos países desenvolvidos, saiu de 4% do produto interno bruto em 1960 para os 12% atuais. Nos Estados Unidos, o custo da saúde representa o equivalente a 17% do PIB e, no Brasil, já está em 8%. Para os sistemas de atendimento público, fica o desafio de definir quais inovações podem ser oferecidas à população ou não. “É impossível, mesmo no país mais rico do mundo, com a tecnologia e o conhecimento dispo-níveis hoje, entregar tudo para os cidadãos”, afirma Marcos Bosi, professor na Escola Paulista de Medicina e presidente do conselho do grupo Fleury.
Parte desse aumento de custo decorre das ineficiências dos sistemas de saúde mundiais. Nesse caso, a tecnologia entra como aliada. “No Brasil, cerca de 30% das despesas da área de saúde vêm de desvios e desperdícios, que podem ser atacados com o uso de tecnologia”, diz Enrico de Vettori, sócio da consultoria Deloitte.
A tecnologia também é a base para o desenvolvimento de novos negócios que tornem a saúde mais acessível. Diversas startups têm tido esse papel. O Dr. Consulta, de São Paulo, oferece atendimento mais barato à população que sofre com a fila de espera no setor público e que não tem condição de pagar por um plano de saúde privado. Com o prontuário eletrônico, que mantém o histórico dos pacientes, seus médicos costumam pedir até dois exames por consulta, metade do solicitado nos planos de saúde.
Já a Docway, startup nascida há dois anos em Curitiba, criou um aplicativo que lista médicos credenciados para consultas em domicílio. O preço: 300 reais, metade do cobrado nos pronto-atendimentos. Realmente, as inovações podem pressionar os custos num primeiro momento. Mas, se bem usadas, eles são compensados.