Revista Exame

Inpasa investe em biocombustíveis e mira ecossistema completo, do etanol ao sorgo

Na busca para se tornar líder global na produção de etanol de milho, a Inpasa constrói um ecossistema que vai do biocombustível à ração — e passa pelo sorgo

Usina Inpasa, em Sinop (MT): considerada a maior refinaria de etanol de milho do mundo, em 2024 processou cerca de 4,6 milhões de toneladas de milho e 2,1 bilhões de litros do biocombustível (Inpasa/Divulgação)

Usina Inpasa, em Sinop (MT): considerada a maior refinaria de etanol de milho do mundo, em 2024 processou cerca de 4,6 milhões de toneladas de milho e 2,1 bilhões de litros do biocombustível (Inpasa/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 20 de março de 2025 às 06h00.

Última atualização em 20 de março de 2025 às 09h31.

A Inpasa, biorrefinaria que detém 50% do mercado de produção de etanol de milho no Brasil, tem uma ambição: no longo prazo, quer se tornar um ecossistema completo para o setor de biocombustíveis, que vai do etanol de milho à produção de ração animal — e passa pelo uso de sorgo.

A companhia desembarcou no Brasil em 2019, vinda do vizinho Paraguai. Abriu a primeira fábrica em Sinop, em Mato Grosso. Com essa unidade, já são cinco usinas país afora — em 2026, mais uma biorrefinaria, de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, ficará pronta.

Em ­Sinop, a unidade industrial tem a maior produção de etanol de milho do mundo: mais 4,6 milhões de toneladas do cereal e 2,1 bilhões de litros do biocombustível. No total, a Inpasa produz 4,7 bilhões de litros de etanol de milho e planeja chegar aos 5,6 bilhões de litros quando todas as unidades estiverem em operação, no ano que vem.

A história da empresa ilustra o momento do setor de biocombustíveis no Brasil, que ganha musculatura e segurança jurídica, principalmente após a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, no ano passado.

A legislação, que incentiva o uso de biocombustíveis e combustíveis sustentáveis no país, estabelece que o percentual de mistura de etanol na gasolina seja fixado em 27%, com o Poder Executivo podendo ajustá-lo entre 22% e 35%, segundo as condições de mercado — atualmente, a mistura pode chegar a 27,5%, com um mínimo de 18%.

Levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) mostra que 2024 foi o ano de maior oferta de etanol da história do Brasil, com 36,8 bilhões de litros produzidos, um aumento de 4,4% em relação a 2023. Desse total, 7,7 bilhões de litros vieram do milho, marcando uma alta de 32,8% em comparação com o ano anterior, o que coloca o Brasil como o segundo maior produtor global do biocombustível, atrás apenas dos Estados Unidos. Por lá, são produzidos 60 bilhões de litros de etanol de milho anualmente. 

Segundo José Odvar Lopes, CEO da empresa, a meta da Inpasa é estar presente em toda a cadeia de produção do etanol de milho e criar valor para os subprodutos do processo, em um momento em que o Brasil e o mundo buscam alternativas para se descarbonizar. Após um 2024 de aceleração de investimentos — foram quase 5 bilhões de reais —, a estratégia para este ano é consolidar os aportes já feitos, como na unidade de Balsas, no Maranhão, prevista para estrear nos próximos meses.

A planta recém-construída em Balsas tem capacidade para processar até 480 milhões de litros de etanol por ano. “O processo de produção da Inpasa utiliza fontes renováveis de energia, tornando o ciclo de vida do etanol mais eficiente e limpo”, diz Odvar Lopes à EXAME. “Além do etanol, a companhia gera coprodutos como os DDGS [dried distillers grains with solubles], ingrediente de alta qualidade para a alimentação animal, e óleo de milho. Esses coprodutos representam um aproveitamento completo do milho utilizado na produção de etanol.” 

E uma grande oportunidade de consolidação está no DDGS. Embora seja obtido como um subproduto da produção do combustível, é quase profano chamá-lo assim no setor. Com alto valor nutricional, seu principal uso é alimentar bois, frangos e porcos, e pode elevar a produção desses animais.

Segundo a companhia, vacas alimentadas com o seu DDGS produzem, em média, 1,4 quilograma a mais de leite por dia. “A versatilidade torna o DDGS uma escolha estratégica para a indústria de rações”, diz Odvar Lopes. “Entre seus diferenciais estão a ausência de antibióticos, enxofre, contaminantes e antioxidantes.” 

Na safra 2023/24, o Brasil produziu 3,8 milhões de toneladas de DDGS, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem). A Inpasa produziu 47% desse total, ou 1,8 milhão de toneladas — um aumento de 27% em relação à temporada anterior. Por isso mesmo, a empresa respondeu por 95% das exportações do DDGS no ano passado, com 756.000 toneladas, crescimento de 58%.

Para a atual temporada 2024/25, a expectativa da Unem é de que o Brasil produza 4 milhões de toneladas de DDGS — a capacidade produtiva da empresa para este ano é de 3 milhões de toneladas que abastecerão o mercado doméstico e 12 países.

Se o etanol de milho virou passado e o DDGS é o presente, o futuro da empresa pode estar no sorgo. A companhia já iniciou o incentivo ao sorgo em suas unidades em Mato Grosso do Sul, no Paraguai e no Nordeste, mas ainda não tem estimativas sobre a produção da commodity.

Por ser uma cultura mais resistente à seca e exigir menos uso de insumos, o sorgo se torna uma opção altamente sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto do ambiental, diz Rafael Ranzolin, vice-presidente da empresa. “Isso fortalece a safra dupla, aumentando a rentabilidade das propriedades, o que representa uma alternativa estratégica durante os períodos de entressafra e abre portas para o mercado não transgênico, como o europeu”, diz.

Outras iniciativas para agregar valor também estão na produção de biodiesel, especialmente utilizando óleos vegetais como o óleo de milho. “Além disso, a produção de biocombustíveis avançados, como o bioquerosene para a aviação, está sendo analisada à medida que a tecnologia e a demanda global por essas fontes de energia limpa se expandem”, afirma Gustavo Mariano, vice-presidente de trading da companhia.

Se depender dos executivos, de grão em grão a Inpasa pode redefinir os padrões da indústria de biocombustíveis no país — e talvez no mundo.

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