Revista Exame

Será que Eduardo Campos vai sair candidato a presidente?

Para os empresários que têm encontrado o governador Eduardo Campos, ele é candidatíssimo à Presidência — e possui ideias que, à primeira vista, apontam uma nova visão para a economia

Governador Eduardo Campos: seu diagnóstico da economia brasileira se parece com o do meio empresarial (Lia Lubambo/EXAME.com)

Governador Eduardo Campos: seu diagnóstico da economia brasileira se parece com o do meio empresarial (Lia Lubambo/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 15h42.

Recife e São Paulo - "O Aécio diz que é candidato e ninguém acredita. Eu falo que não sou candidato e também ninguém acredita.” A frase acima foi dita, com humor, pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, em pelos menos dois encontros com empresários nos últimos meses.

Campos viaja, comporta-se, fala e discursa como um presidenciável. Embora, até agora, tenha negado a intenção de concorrer ao Planalto em 2014, tem corrido o país para, como ele gosta de dizer, “debater os grandes temas nacionais”.

Há algum tempo, sua opinião sobre os destinos do Brasil poderia passar despercebida. Desde que despontou como um presidenciável de peso, ninguém pode mais ignorar o que tem a dizer. Ele é a grande novidade da cena política brasileira.

Com uma oposição enfraquecida, a avaliação do próprio governo é que Campos talvez seja seu maior adversário no ano que vem — hoje, o mineiro Aécio Neves é o principal desafiante da presidente Dilma Rousseff.

Esse status de estrela ascendente foi rapidamente captado pelo meio empresarial. Nas últimas duas semanas, EXAME falou com cerca de 50 empresários, executivos e economistas de primeiro time que já encontraram ou gostariam de conhecer o governador pernambucano. A conclusão: Campos entrou na briga de verdade. 

Um dos melhores termômetros para medir o interesse que tem despertado são os encontros que já ocorreram. Uma das primeiras conversas que merecem registro aconteceu em um jantar na casa de Marcelo Odebrecht, presidente do conglomerado Odebrecht, em São Paulo, no primeiro semestre do ano passado.

Campos era, então, mais conhecido pela adoção, na gestão pública, de métodos baseados na meritocracia, mas já era tido como força ascendente. 


Depois das eleições para prefeito em outubro, o governador ganhou uma nova estatura. Seu partido, o PSB, passou de 310 para 443 cidades e despontou como o vencedor de um maior número de capitais: Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Velho. Algumas vitórias vieram de embates diretos com o PT de Lula, o que pode ter estimulado as ambições de Campos. Foi a partir daí que ele intensificou seus contatos no meio empresarial.

Ainda em 2012, as portas se abriram no Itaú Unibanco, onde almoçou com Roberto Setubal, presidente executivo, e Pedro Moreira Salles, número 1 no conselho de administração. Foi recebido também por Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco.

Nesses primeiros encontros, Campos não fazia críticas diretas ao governo Dilma, mas enfatizava o espaço para o país melhorar. O que era sutil e ocasional em 2012 ganhou um ritmo mais forte neste ano. 

Em fevereiro, Campos encontrou André Esteves, maior sócio do banco BTG Pactual. Em março, almoçou com Rubens Ometto, acionista controlador da empresa de energia Cosan, em Recife. A conversa com Ometto, na sede provisória do governo pernambucano, durou cerca de 3 horas e ficou centrada nos problemas do setor sucroalcooleiro.

Ainda em março, Campos almoçou em São Paulo com Marcial Portela, presidente da operação brasileira do Santander, e jantou na casa de Flávio Rocha, acionista e vice-presidente da rede varejista Riachuelo, com outros 50 empresários e executivos de diferentes setores.


Do segmento financeiro estavam José Olympio Pereira, presidente do banco Credit Suisse, e o investidor Azuri Safra. Da indústria estava Ricardo Steinbruch, presidente da Vicunha Têxtil. O jantar, inicialmente previsto para as 22 horas, só foi servido às 23h30, depois de um entusiasmado discurso de Campos.

De acordo com alguns dos presentes, o governador elogiou muito os avanços sociais e a política econômica da administração Lula, mas deu a entender que não vê, no governo de sua ainda aliada Dilma, a continuidade dessa evolução.

Lembrou que, já no terceiro ano do mandato, não houve nenhuma discussão sobre reformas importantes para melhorar o ambiente de negócios, como a tributária. “Acima de tudo, Campos mostrou que não tem preconceito em relação aos investimentos privados. Isso é um grande diferencial”, diz Walter Torre, presidente da incorporadora paulista WTorre e um dos presentes ao jantar.

Em abril, o clima de animação esquentou nos encontros do governador. No começo do mês, ele participou de um jantar na churrascaria Tertúlia, em Santos, com representantes do setor portuário.

“O tom foi claramente de campanha”, diz um dos presentes. Menos de uma semana depois, Campos seria recebido em Porto Alegre por seus correligionários aos gritos de: “Um passo à frente, Eduardo presidente”. Na capital gaúcha, o governador reuniu 330 empresários e políticos num almoço na sede da Federasul, entidade de associações comerciais.

Entre os presentes estava Eduardo Logemann, do grupo SLC, um dos maiores produtores brasileiros de soja, milho e algodão. Antes de partir, ainda encontraria Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração do grupo Gerdau e da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, criada por Dilma para melhorar a gestão pública.


“Muitos homens de negócios estão falando com Eduardo Campos e muitos outros querem conhecê-lo. Só está contente com o governo quem recebeu empréstimos do BNDES ou entrou para alguma lista de desoneração de impostos”, diz Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências. 

Um diagnóstico comum

Mas o que, afinal, Campos tem dito ao meio empresarial? Ele tem batido numa tecla notoriamente sensível: a necessidade de estimular os investimentos privados.

Como ficou claro nas duas entrevistas que concedeu a EXAME­ ao longo do mês de abril, Campos defende um governo menos interventor na economia e mais severo na luta contra a inflação (veja a íntegra na pág. 112). De certo modo, faz um diagnóstico semelhante ao do setor produtivo.

Por isso, sua popularidade no meio empresarial sobe à medida que cai o otimismo em relação à gestão da economia brasileira. De acordo com uma pesquisa feita em abril a pedido de EXAME pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) com 95 presidentes de grandes empresas, 73% acreditam que o cenário macroeconômico é um entrave ao avanço dos negócios.

Há oito meses, apenas 33% tinham citado a conjuntura como um problema. Alguma dúvida sobre por que a taxa de investimento no Brasil continua baixa? 

Um cenário econômico mais adverso decorre, em larga medida, das ações que o Brasil vem tomando nos últimos tempos. Depois da crise de 2008, o capitalismo virou alvo de ataques em todo o mundo. Acusado de instável, injusto, ineficiente, passou a ser criticado não só pelos erros que culminaram na quebra do banco americano Lehman Brothers, mas também por suas qualidades.


No Brasil, as administrações petistas se sentiram mais à vontade para defender a intervenção estatal. Isso ficou evidente nas mudanças feitas no setor elétrico e na falta de independência do Banco Central, o que acabou no recente estouro da meta de inflação.

A última novidade na lista de intervenções é a discussão sobre a taxa de retorno das concessões públicas. Toda a história do capitalismo está baseada na ideia do lucro. É isso que leva as pessoas a arriscar e empreender. No Brasil de hoje, isso parece estar sob questionamento.

“Não é o governo que deve definir a taxa de retorno das concessionárias de serviços públicos. É a competição nos leilões”, diz Campos. Para empresários que estiveram com o governador, ele exprime tão bem a visão do setor produtivo que alguns duvidam de sua sinceridade. “Depois de ouvi-lo, fiquei com a impressão de que estava jogando para a plateia”, diz um executivo do setor financeiro. 

Para fazer uma distinção entre o discurso e a prática, muitos têm buscado informações sobre os seis anos de Campos à frente do governo de Pernambuco. Seu cartão de visita é o complexo portuário e industrial de Sua­pe, que reúne mais de 100 empresas a 60 quilômetros de Recife.

Os três maiores investimentos ali foram feitos pelo governo federal: a Refinaria Abreu e Lima, a Petroquímica Suape e o Estaleiro Atlântico Sul. A própria Dilma, em visita recente ao estado, fez questão de enfatizar que o avanço de Pernambuco deve-se, em larga medida, a investimentos federais.

“Embora Pernambuco tenha contado com o apoio de Brasília, é inegável que Campos soube criar projetos viáveis para os investimentos”, diz João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo JCPM, com sede em Recife, o maior dono de shopping centers do Nordeste. 


Executivos que participaram de negociações para a instalação de fábricas em Suape e outras regiões de Pernambuco costumam elogiar a agilidade do estado.

“Não parece uma conversa entre empresa e governo. Parece que estamos tratando com outra companhia”, diz Carlos André da Costa, diretor financeiro da fabricante de pás para geradores eólicos LM Wind Power do Brasil, que se instalou em Suape recentemente.

Na lista das maiores conquistas de Campos estão a montadora Fiat, parte de um polo industrial de 7 bilhões de reais na cidade de Goiana, e a Companhia Siderúrgica Suape, um investimento de 1,6 bilhão de reais. 

O governo Campos também é destaque por ter melhorado a gestão esta­dual já a partir do início do primeiro mandato, em 2006. Com a ajuda do Movimento Brasil Competitivo, consultoria fundada por Gerdau em prol da administração pública, estabeleceu objetivos e um método para acompanhar e avaliar os projetos.

Em seis anos, conseguiu diminuir em 34% os índices de homicídio no estado. Sua maior fragilidade são os resultados na área da educação. Ainda em 2012, parte dos professores tinha o piso salarial mais baixo do país. “As notas do índice do ensino médio não mudaram de 2009 a 2011”, diz Pierre Lucena, professor de finanças da Universidade Federal de Pernambuco. 

Mesmo com o seu currículo e a boa impressão no empresariado, Campos tem hoje apenas 6% das intenções de voto para presidente, atrás do senador Aécio Neves, do PSDB, com 10%, Marina Silva, que tenta fundar a Rede Sustentabilidade, com 16%, e Dilma, com 58%.

Até no meio empresarial, Campos perde feio para Aécio: na pesquisa da ABRH com presidentes de empresas, ele aparece como o preferido de 10%, enquanto o senador mineiro conta com 70%.

“Campos ainda tem um longo caminho para se firmar como o candidato preferido do capital”, diz Betania Tanure, consultora especializada em gestão e uma das responsáveis pela pesquisa da ABRH.

Oficialmente, Campos ainda não é candidato, e isso pode explicar em parte seu desempenho. Mas, para os empresários que têm falado com o governador, a cada dia que passa ele está mais perto da disputa pelo Planalto.

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