Obama e congressistas: sinais positivos na economia, apesar dos políticos (Brendan Smialowski / Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de fevereiro de 2013 às 08h38.
Nova York - Quando o assunto é o futuro da economia americana, parece difícil enxergar algo além da nuvem negra que paira sobre o país neste início de ano. Na undécima hora, os congressistas aprovaram em janeiro um pacote para evitar o chamado "abismo fiscal", a série de aumentos de impostos e cortes de gastos que empurraria o país para uma nova recessão.
Mas o acordo, meia-boca que foi, adiou decisões inadiáveis. Ainda não há sinal de consenso a respeito de dois assuntos fundamentais: a elevação do limite da dívida pública americana, em fevereiro, e a revisão de um pacote de corte de gastos bilionários do governo, prevista para março.
Com um sistema político aparentemente incapaz de tomar decisões duras, é fácil ser pessimista em relação ao futuro imediato da maior economia do mundo. Mas o ano, paradoxalmente, começa com razões para otimismo. Escondidos sob a tal nuvem negra, surgem sinais de que a economia americana está voltando a crescer de maneira consistente — o que seria uma boa notícia para o mundo inteiro.
A média dos analistas prevê uma taxa de crescimento econômico de 2,3% em 2013 — acima do 1,9% de 2012. Os mais otimistas projetam crescimento de 3%, ritmo de dar inveja a muito país emergente (vide nosso pibinho de 1% em 2012). "Todos os aspectos da economia favorecem um crescimento mais robusto, apesar da ameaça do abismo fiscal", diz Mark Zandi, economista-chefe da empresa de avaliação de risco Moody’s.
O avanço de setores até então apáticos demonstra a firmeza da recuperação americana. Pela primeira vez nos últimos cinco anos, o setor imobiliário — considerado um importante termômetro da economia — começa a reagir. O preço dos imóveis subiu 4,5% em 2012, e a construção de casas cresceu 24%.
Empresas, bancos e consumidores com o menor nível de endividamento desde o estouro da crise ajudam a compor a equação do crescimento, somados a uma política de taxa de juro perto de zero que deverá ser mantida nos próximos anos. Com a quantia recorde de 1,7 trilhão de dólares parados em caixa, as companhias americanas estão prontas para investir e acelerar a geração de empregos.
O impulso é mais do que necessário — no país ainda há 3,3 milhões de desempregados a mais do que no período pré-crise. O que se sabe, porém, é que as empresas não voltarão a investir enquanto democratas e republicanos não tomarem as decisões certas. "Nunca ficou tão evidente que o problema do país é a instabilidade do Congresso", diz o economista Bernard Baumohl, da consultoria The Economic Outlook Group.
Em meio a uma recuperação tão arrastada, colocar tudo a perder por intransigência política seria lamentável. O problema é que há exemplos de sobra para demonstrar que o Congresso americano gosta mesmo de brincar com fogo. Em 2011, os congressistas arrastaram a decisão sobre a elevação do teto da dívida até chegar perigosamente à iminência de um calote.
O resultado foi o inédito rebaixamento da nota de risco do país. Em fevereiro, será a hora de negociar a elevação do teto mais uma vez — de novo, a ameaça é de caos orçamentário caso não se chegue a um acordo. "Uma reedição da negociação anterior desgastaria demais a imagem dos políticos, sobretudo dos conservadores, que detêm a maioria da Câmara", diz Steve Blitz, economista-chefe da consultoria de análise econômica ITG Investment Research.
A popularidade dos políticos de Washington já não é das melhores. Numa pesquisa recente realizada pela empresa Public Police Polling, a reputação do Congresso foi considerada pior do que a de baratas e engarrafamentos.
A demora para desenhar uma solução tem preço — até analistas que acreditam num final feliz para o imbróglio político calculam que as incertezas podem tirar o equivalente a 1 ponto percentual do produto interno bruto em 2013. O desafio do Congresso não é simples — o pacote de medidas não pode arruinar a recuperação e, ao mesmo tempo, tem de desarmar a bomba fiscal.
O aumento de impostos em janeiro foi uma vitória política do presidente Barack Obama. Mas é insuficiente para conter a trajetória ascendente do déficit. A receita adicional com impostos deve subtrair apenas 737 bilhões de dólares do déficit acumulado na próxima década, estimado em 10 trilhões de dólares. A atual retomada econômica tem tudo para aliviar a situação fiscal, já que as receitas com impostos tendem a crescer. Isso, claro, se o Congresso não resolver estragar tudo.