Executivos da Liberty contratados no exterior: o Brasil virou sinônimo de crescimento
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 16h45.
Em 2008, depois de receber o aval da matriz nos Estados Unidos para ampliar as operações da empresa no Brasil, Luis Maurette, presidente da seguradora Liberty, teve de colocar parte de sua equipe para analisar o mercado internacional. O objetivo não era mapear a concorrência ou identificar produtos que poderiam ser lançados aqui, mas encontrar executivos capazes de tocar as novas áreas de negócios, como o segmento de riscos industriais, e expandir a atuação da empresa no país. "Falta gente com experiência nesses ramos no Brasil e os bons profissionais estão cada vez mais disputados", diz Maurette.
Aproveitando o baque da crise mundial sobre o mercado americano e o europeu, a Liberty contratou, desde o fim do ano passado, sete diretores -- entre eles, um inglês, um alemão e três brasileiros que trabalhavam em companhias de seguros no exterior. Um dos recém-chegados é Rafael Citelli, carioca de 35 anos que estava há um ano na PartnerRe, em Zurique, na Suíça, e antes disso havia passado três na seguradora Allianz em Munique, na Alemanha. "Eu pretendia ficar mais um tempo no exterior, mas ficou claro que o crescimento está aqui", diz Citelli.
No mercado, diz-se que o setor está saindo da "segunda divisão". Os profissionais dessas companhias ainda ganham menos que seus colegas em bancos e diretorias financeiras de empresas -- a defasagem é de cerca de 30% na alta cúpula. Mas a distância começa a encurtar. "Alguns de meus funcionários receberam propostas para ganhar o dobro na concorrência", diz o presidente de uma seguradora. Além disso, pagar bônus, algo raríssimo até três anos atrás, está se tornando mais comum. A corretora Marsh instituiu um programa de remuneração variável baseado no desempenho individual em 2008 -- antes, os executivos só tinham participação nos lucros da companhia, que era igual para todos. "Convencemos a matriz a montar uma área de resseguros no país e, por isso, precisamos ficar mais competitivos para trazer os profissionais", diz Thomaz Menezes, presidente da Marsh, que neste ano contratou dez executivos no mercado.
Na alemã Allianz, o bônus da alta cúpula já representa cerca de 40% da remuneração total -- percentual próximo ao dos bancos, que em geral são bem mais agressivos nas recompensas aos executivos. Até o IRB-Brasil Re, empresa pública de resseguros, começou a premiar seus funcionários, muito assediados pelas companhias privadas.
Mas nos moldes estatais, claro. A partir do nível gerencial, quem cumpriu suas metas em 2008 recebeu quatro salários a mais no fim do ano. Até mesmo profissionais que nunca trabalharam em empresas de seguros estão sendo atraídos pelo potencial de negócios -- e pela expectativa de que isso gere bônus polpudos. A corretora de seguros Lazam-MDS, associação entre os grupos Suzano e Sonae, de Portugal, recentemente contratou executivos de AmBev, CPFL e Sadia para gerências e diretorias.
Em qualquer lugar do mundo, o setor de seguros é o menos glamouroso do mercado financeiro -- e isso já é histórico. No filme Se Meu Apartamento Falasse, de 1960, o protagonista, interpretado por Jack Lemmon, é um entediado funcionário de uma seguradora. Com essa imagem, o setor atrai até hoje uma pequena fração dos estudantes das escolas de negócios internacionais.
"Nenhum de meus 100 colegas de classe trabalha nessa área", diz Newton Queiroz, gerente de resseguros da corretora Aon Risk no Brasil, que se formou na York University, no Canadá, em 2004. Lá fora, porém, quem vence o preconceito inicial e resolve entrar no setor descobre que as companhias de seguros estão entre as mais dinâmicas do mundo, movimentam trilhões de dólares todos os anos e pagam bônus interessantes -- menores, é verdade, do que os de bancos de investimento. É bom lembrar que o bilionário Warren Buffett, talvez o maior investidor de todos os tempos, aplica boa parte do patrimônio que administra em seguradoras -- e ele não é exatamente do tipo que rasga dinheiro.