Revista Exame

Rompendo o “startups” quo: Camila Farani fala sobre mulheres no mercado de inovação

Camila Farani é uma das poucas mulheres a liderar uma butique de investimentos em tecnologia no Brasil. À EXAME, ela falou sobre a sua trajetória e a participação de mulheres neste mercado

Camila Farani, da G2 Capital: “Os bons investidores não fazem seleção de gênero na hora de fazer um aporte”  (Leandro Fonseca/Exame)

Camila Farani, da G2 Capital: “Os bons investidores não fazem seleção de gênero na hora de fazer um aporte” (Leandro Fonseca/Exame)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 22 de março de 2024 às 06h00.

Camila Farani é uma das poucas mulheres a liderar uma butique de investimentos em tecnologia no Brasil. Ela já aportou mais de 52 milhões de reais com a G2 Capital e com coinvestidores em 52 empresas, um ecossistema que faturou 6,4 bilhões de reais em 2023. À EXAME, ela falou sobre a sua trajetória e a participação das mulheres no mercado de inovação.

Você era diretora-executiva e sócia do Mundo Verde quando decidiu se tornar investidora. O que fez com que tomasse a decisão?

Eu tinha uma carreira consolidada no mercado de alimentação, mas não estava mais feliz. Fui convidada a assistir a um pitch de uma empresa de cosméticos. Eram 18 homens e eu. Naquele momento, descobri que existia vida fora do mercado de alimentação. A ideia de investir em empresas nascentes em diversos mercados me agradou muito.

Como foi a sua entrada no mercado de inovação?

No começo ninguém me apoiou, mas eu aprendi que, quando você tem uma missão muito forte, deve seguir, mesmo que precise romper com o status quo. Eu tinha como grandes referências Oprah Winfrey e Abilio Diniz. Na época, eu me associei ao Gávea Angels, um dos primeiros grupos de investimento-anjo do país. Comecei com cheques de até 25.000 reais em empresas de tecnologia ou em empresas da economia real que precisavam ir para o digital. Hoje, as holdings das quais participo fazem cheques de até 5 milhões de dólares.

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Por que é tão difícil as mulheres crescerem como investidoras ou empreendedoras de inovação?

O Brasil é um país avesso ao risco. É uma herança histórica que carregamos dado o perfil da nossa estrutura de capital até hoje. Ao fazer um recorte de gênero com base em toda a desigualdade que a gente vive, é fácil entender por que as mulheres estão menos presentes nesse mercado. Muitas pessoas acham que para ser investidora você precisa ser especialista em números. Eu não sou especialista em números, eu  sou especialista em negócio de tecnologia, em fazer negócio.

Qual é o principal diferencial das startups lideradas por mulheres?

As empresas lideradas por mulheres normalmente já têm uma missão mais bem fundamentada, já nascem com um propósito definido. Há também um olhar mais criterioso para pessoas, programas de benefícios e, no fim, mais diversidade.

Por que elas têm mais dificuldade para conseguir  aportes?

As mulheres de fato recebem menos aportes. Se você fizer um recorte racial, as mulheres negras de base tecnológica representam menos de 1%. Mas uma coisa que eu posso dizer é que há menos mulheres criando empresas de tecnologia, o que naturalmente já diminui a quantidade de aportes. Os bons investidores não fazem seleção de gênero na hora de fazer um aporte.

Existem iniciativas para mudar esse cenário?

Nunca se falou tanto em mudar esse cenário. Iniciativas para reunir e capacitar mulheres têm aumentado muito nos últimos anos. O Mulheres Investidoras Anjo, criado em 2014, já impactou mais de 22.000 mulheres, entre investidoras e empreendedoras. O Ela Vence foi criado em 2022 e já oferece rede de apoio, capacitação e marketplace para 15.000 mulheres. Entretanto, temos cada vez mais referências de mulheres bem-sucedidas, e as empreendedoras estão chamando a responsabilidade para si, e não diminuindo seu tamanho para caber em qualquer regra.

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