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J.R. Guzzo: Para os críticos, Bolsonaro estava reprovado desde a largada

Bolsonaro, por tudo o que se disse sobre sua participação em Davos, não acertou uma. Mas algum outro presidente conseguiu trazer de lá alguma coisa útil?

O presidente Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, na Suíça: opção por almoço em um restaurante barato e discurso breve no palco (Foto/Divulgação)

O presidente Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, na Suíça: opção por almoço em um restaurante barato e discurso breve no palco (Foto/Divulgação)

JG

J.R. Guzzo

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05h18.

Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 05h18.

A vida de presidente de país subdesenvolvido tem mais espinhos do que rosas, como é bem sabido, e um desses espinhos é o Fórum Econômico Mundial de Davos. Um chefe de governo da Alemanha ou da Austrália, por exemplo, vai lá quando seus assessores julgam conveniente que ele vá, cumpre em 24 horas, ou menos, o programa definido por eles e volta para casa; não lhe passa pela cabeça apresentar alguma demonstração concreta da possível utilidade pública de sua viagem aos Alpes da Suíça, e menos ainda ser julgado pelos “resultados” que obteve.

Já o chefe de governo de um país tipo Brasil, digamos, tem de “performar”, como gostam de dizer os executivos de hoje em dia. Começa a ser cobrado antes de desembarcar em Davos, e não tem mais sossego até se esquecerem do assunto uns dias depois de sua volta a Brasília. Quantos bilhões de dólares em investimentos ele conseguiu atrair para a economia brasileira? “Interagiu” direito com os líderes mundiais que estavam a seu redor? Foi elogiado pelos sábios das ciências econômicas, políticas e sociais presentes?

Já é muito difícil, em condições normais de temperatura e pressão, atender às expectativas da banca examinadora. Se o presidente da República se chama Jair Bolsonaro, então, como é o caso no presente momento de nossa história, aí você já pode esquecer: vai voltar de Davos com um zero no boletim, seja lá o que tenha feito ou deixado de fazer durante sua participação no evento.

Bolsonaro, por tudo o que se disse de sua estreia no cenário internacional, não conseguiu acertar uma. Levou para Davos uma comitiva pequena demais, o que, segundo a crítica, mostrou seu pouco caso com a grandiosidade da conferência. Ficou num hotel excessivamente barato, o que seria um desprestígio para a majestade do Estado brasileiro. Foi almoçar num bandejão do centro da cidade, por 19 francos suíços; foi condenado pela prática de “demagogia barata”.

Pior ainda: causou, potencialmente, prejuízos econômicos de valor inestimável ao Brasil, já que deveria ter aproveitado a hora do almoço para levar “grandes investidores” etc. a algum restaurante de primeira classe e, assim, fechar negócios vitais para o interesse público nacional. Que investidores? Que negócios? Não foram fornecidas informações a respeito. Seu discurso, de quase 7 minutos, foi acusado de “muito curto”, não sendo especificado pelos inquisidores qual seria a duração correta, em sua avaliação, da fala presidencial. Quinze minutos? Vinte? Meia hora?

O conselho de sentença manifestou-se particularmente chocado com o que considerou a “superficialidade” das palavras de Bolsonaro. Não esclareceu, em nenhum momento, qual o nível de profundidade que o discurso deveria ter atingido, nem fez nenhuma comparação com os discursos dos quatro outros presidentes brasileiros que foram a Davos — Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. O que teria qualquer um deles dito de útil, inteligente ou inovador para escapar da reprovação por “superficialidade”?

De Fernando Henrique ninguém lembra mais nada. Lula falou que os “países ricos” deveriam se comportar melhor com os países pobres, ou alguma coisa com esse grau de originalidade. Dilma, na prática, entrou muda e saiu calada — o que com certeza foi uma grande sorte para todos, levando-se em conta as extraordinárias coisas que costuma dizer a cada vez que abre a boca para falar em público. Temer revelou que era importante “fazer a reforma da Previdência” — o que, francamente, não impressionou ninguém pela profundidade. Em suma: nada que se possa aproveitar nesses últimos 25 anos.

Tomando em consideração isso tudo, a melhor coisa que Bolsonaro fez em Davos foi não ter comparecido à entrevista coletiva à imprensa que estava no programa — e na qual só receberia perguntas com o teor de qualidade mental que se percebe acima. O público não perdeu absolutamente nada com sua decisão. O presidente poupou seu tempo. Melhor assim.

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