Diego Martinez, general manager da Riot Games para o Brasil: papo de jogador para jogador (Eduardo Frazão/Exame)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2022 às 05h06.
Última atualização em 11 de maio de 2022 às 13h40.
Estar em dia com todas as inovações tecnológicas é quase como nadar contra uma forte correnteza. O esforço, porém, é imprescindível para que as empresas usem a seu favor outra força da natureza que cresce e transmuta com tal voracidade: a preferência dos consumidores, cujos hábitos estão em constante mudança. O estudo global Life Reimagined, da Accenture, mostra, por exemplo, que metade das pessoas reavaliou, durante a pandemia, o que é essencial para viver. Esses consumidores — chamados pela consultoria de “reimaginados” — estão levando as empresas a redefinir suas estratégias de atendimento.
Mesclar humanização em meio a um mundo dominado por chatbots, por exemplo, faz parte da ciência por trás do atendimento de sucesso. André Iasi, CEO da Estapar, diz que um dos segredos para se manter como a maior empresa de estacionamentos da América Latina é o olhar atento às necessidades dos clientes. Durante o alto índice de vacância de edifícios comerciais na pandemia, a empresa adotou o modelo mensal flex, em que o usuário passou a pagar por apenas dois ou três dias de uso na semana.
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A Estapar também firmou parcerias com empresas para oferecer serviços personalizados a viajantes da Gol e cashbacks a clientes do BTG Pactual. “Nossa operação é tailor made. Não há como atender clientes em hospitais e aeroportos da mesma forma”, diz Iasi. A empresa vem usando ainda uma solução em nuvem customizada para ter acesso, em tempo real, a cerca de 400.000 vagas espalhadas em 700 garagens pelo país. A tecnologia permite não só a centralização de informações de clientes como também uma melhora de até 80% no tempo de resolução de problemas em suas operações.
A hiperpersonalização na entrega de produtos e serviços se estende às áreas de atendimento. O relatório 2022 Global Consumer Trends, do Qualtrics XM Institute, mostra que os consumidores não aceitam mais serem vistos como números e querem se sentir parte do mesmo ecossistema das empresas das quais consomem. Um bom exemplo é o da Riot Games. Desenvolvedora de jogos eletrônicos como League of Legends e Valorant, a empresa tem um time de atendimento formado por amantes de jogos. “Temos a missão de ser a empresa de games mais focada no jogador do mundo. Quando você tem funcionários que também são jogadores, cria-se uma maior proximidade e, consequentemente, um melhor atendimento”, afirma Diego Martinez, general manager da Riot Games para o Brasil.
A Riot também encoraja os agentes de atendimento a adotar, no lugar do script, uma comunicação fluida e natural com os jogadores, com liberdade para usar memes e jargões típicos da comunidade. “É fundamental que o nosso engajamento seja o mais autêntico e orgânico possível. Isso não só cria um atendimento único como também abre espaço para estimular a inovação e a criatividade nas interações. O papo, aqui, é de jogador para jogador”, afirma Martinez.
Contratações com perfil de identidade também fazem parte da estratégia da SulAmérica Seguros, que na contramão da maioria das empresas conta com um time de atendimento mais experiente e pronto para resolver demandas de consumidores com mais de 50 anos. Segundo Marco Antunes, vice-presidente de operações da seguradora, com a pandemia esse público se tornou mais versado em tecnologia e muito mais exigente em relação aos serviços digitais. “O cliente não nos compara mais com o plano de saúde concorrente, e sim com a experiência que ele teve no iFood, por exemplo. Agora as empresas são avaliadas como produtos digitais, independentemente de em quais setores elas se encaixam”, diz Antunes.
A empresa, que escalou as operações de teleconsultas de 500 para 2 milhões ao mês nos últimos dois anos, afirma que o uso da tecnologia sem perder o foco na experiência do cliente foi essencial para unir médicos e pacientes durante o pico da pandemia. “Fizemos uma parceria com a startup Memed, que nos ajudou a desenvolver recursos para envio de certificação digital com receitas de medicamentos aos pacientes, tudo sem contato físico. Todos os investimentos que havíamos feito em digitalizações anteriores a 2020 surtiram efeitos bem positivos”, destaca o executivo.
Três pilares da experiência do consumidor
As empresas vêm percebendo ainda que o que entregam ao consumidor final é reflexo do trabalho feito com as equipes internas. “É difícil oferecer uma boa experiência ao consumidor quando o próprio profissional não tem uma boa experiência”, relata Lucimary Henrique, vice-presidente regional da empresa de softwares Salesforce. Em uma pesquisa recente da companhia, chamada State of Service, 45% dos entrevistados disseram que precisavam trocar de tela diversas vezes para encontrar as informações necessárias para um único atendimento, atravancando o suporte oferecido.
A integração entre profissionais de áreas como atendimento, comercial e marketing e o bom uso de dados também se tornam insumos para melhorar e personalizar a experiência do cliente. “Toda a experiência do cliente precisa ser extraordinária e apoiada pela transformação digital. Isso só é possível com o esforço conjunto de todos os setores da empresa”, afirma Henrique. Segundo ela, são três os pilares nos quais se apoia a experiência do consumidor: esforço, com foco em diminuir o desgaste do cliente durante a interação com a marca; emocional, colocando o consumidor como prioridade do negócio e fazendo com que ele se sinta ouvido; e sucesso, no sentido de que a empresa faça de tudo para que ele tenha seus objetivos atingidos durante toda a sua jornada.
Transparência em jogo
CEO da Trashin, startup de soluções de sustentabilidade para coleta de resíduos, Sérgio Finger chama a atenção para outro ponto importante no contato com os clientes: a transparência. “Os consumidores desejam saber cada vez mais sobre as origens das embalagens utilizadas pelas marcas, ou sobre políticas específicas. Precisamos de canais ágeis e profissionais qualificados que saibam passar a informação certa para cada usuário, sem a necessidade de transferi-lo para outro setor durante um atendimento”, alerta Finger.
Personalização
As preferências de um cliente não são mais definidas por sua idade ou região, e sim por seus comportamentos. Isso dificulta a padronização, mas ao mesmo tempo favorece as empresas que sabem entregar soluções personalizadas.
Agilidade
Os consumidores têm pressa. Uma pesquisa recente do HubSpot Research mostra que 90% deles classificam a resposta imediata como “muito importante” em um atendimento.
Autoidentificação
Agentes de atendimento que se identificam com serviços, produtos e cultura da empresa em que atuam conseguem desenvolver uma relação mais próxima, empática e estratégica com o usuário.
Capacitação
As organizações estão investindo em treinamento contínuo para garantir que suas equipes de atendimento tenham autonomia e foco na solução de problemas.
Visão 360°
Com base no estudo State of Service, da Salesforce, os gestores de atendimento ao cliente no Brasil deverão priorizar as seguintes métricas, em ordem de prioridade: satisfação e retenção do cliente; tempo médio de resposta
e de atendimento; e receita.
Voz aos agentes
Entender as necessidades dos agentes de atendimento e aperfeiçoar as tecnologias e softwares para que possam trabalhar com sistemas atualizados, modernos e funcionais são ações que impactam diretamente a experiência do usuário e quão ágil e resolutivo será seu atendimento.
É justamente essa a missão da Concentrix, empresa focada em soluções e tecnologias para melhorar a experiência dos consumidores. Responsável pelo atendimento de gigantes cujo nome mantém em sigilo, a empresa trabalha com times específicos para cada um de seus clientes, entre eles uma empresa de streaming e uma multinacional de bens de consumo. “Usamos ferramentas de produtividade para que os advisors, como chamamos os nossos atendentes, interajam apenas quando o público realmente precisa deles. Chatbots e mailbots filtram questões que são comuns e deixam o profissional com a atenção focada na resolução de urgências”, explica Claudia Gimenez, vice-presidente da Concentrix Brasil. De acordo com a executiva, essa prática de mesclar o chatbot com o advisor humano tem sido fundamental para acelerar a resolução de problemas. “Eles trabalham mais nas ações que são menos repetitivas e aplicam seus talentos em funções que fazem a real diferença, como o uso da empatia no atendimento”, diz a executiva.