Luiz Ramalho, cofundador da Fingerprints: “Já existe mais conhecimento em NFT”. (Leandro Fonseca/Exame)
Gabriel Aguiar
Publicado em 18 de agosto de 2022 às 06h00.
É curioso pensar que Andy Warhol já fazia arte digital com um (agora) obsoleto computador Amiga 1000 na década de 1980. Mas o que mudou de lá para cá — e o que isso tem a ver com NFT? Não é raro encontrar críticos aos non-fungible tokens desde que a tecnologia ganhou espaço no leilão de obras como Everydays: The First 5000 Days, de Mike Winkelmann, o Beeple, arrematada por 69 milhões de dólares. Isso porque, na verdade, o NFT é somente uma certificação de autenticidade digital.
O que acontece nessas transações é a venda da garantia de originalidade de obras de arte, físicas ou não. Mas esse princípio serve para qualquer outro ativo. Esses arquivos são registrados para sempre em uma rede conectada, ao mesmo tempo, em diferentes computadores (chamada blockchain), que também serve como base para as criptomoedas e é segura justamente por não permitir a alteração de dados. É por isso que “baixar NFT” tem tanto valor quanto imprimir a foto da Mona Lisa.
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“Concordo que há poucas coisas interessantes ou inovadoras do ponto de vista artístico quando se trata de NFT”, afirma Luiz Ramalho, cofundador da Fingerprints, galeria especializada em arte digital. “Mas NFT é somente um certificado. Existem artistas que efetivamente estão fazendo algo novo com esse novo meio, como existem autores que produzem obras especificamente para filme e fotografia, por exemplo.”
Com passagens pelo banco de investimento Goldman Sachs e a private equity Blackstone, Ramalho tem como sócios Ariel Lambrecht, fundador da 99, e Florian Hagenbuch, cofundador da Loft. Com participação dos fundos a16z e USV, a companhia recebeu 3,5 milhões de dólares na última funding round e foi avaliada em 160 milhões de dólares.
“Nossa principal obra da coleção tem o mesmo conceito de arte generativa que Sol LeWitt já propôs nos anos 1960. Ou seja, existia um passo a passo, e as pessoas desenhavam na parede. Na verdade, a obra de arte era a instrução, e não a execução. Temos uma preocupação artística. O problema é que há gente que quando fala de NFT pensa no ‘macaquinho’ que Neymar comprou”, diz Ramalho, em referência ao token da marca Bored Ape comprado pelo craque por 6,3 milhões de reais. “Mas já existe mais conhecimento, ainda que esse possa ser considerado um nicho.”
Para Ramalho, os preços das obras digitais sofreram especulações — que, segundo ele, afetaram o mercado tradicional —, mas o pico de preços já passou. E a previsão é que o NFT se aproxime das obras “analógicas”. No fim, tudo é arte. Para quem ficou interessado, é possível comprar um NFT por pouco mais de 10 dólares — e, sim, pode haver valorização. Por enquanto, vendas milionárias ainda são exceção, tão raras quanto um original de Leonardo da Vinci.